O RS tem o maior rebanho de ovinos do país. Segundo a Secretaria da Agricultura, o rebanho atual é de 3.137 exemplares. Os animais são criados para abate, produção de lã, leite, reprodução e até comércio de leite.
No entanto, a falta de organização da cadeia produtiva impede o crescimento do setor, a regularidade da oferta, a qualificação de quem atua no campo e a abertura de novos mercados.
Entre janeiro e junho, foram importadas 360 mil toneladas de carne ovina, sendo quase 90% do Uruguai. Interessado nesse nicho, o empresário João Piussi, 28, de Boqueirão do Leão, investe para ampliar o rebanho.
Com 60 animais das raças texel, hampshire down e PO, foca na genética e na alimentação para oferecer ao mercado um cordeiro com melhor carcaça e sanidade. O desmame ocorre com 90 dias. Em até 180 dias, estão prontos para o abate. O valor do quilo da carne está cotado em R$ 18, a média, quase 80% maior do que a bovina. “Nossa oferta está abaixo da demanda”, frisa.
As ovelhas são mantidas no sistema de semiconfinamento, no qual recebem suplementos (silagem, milho quebrado e feno de tífton) três vezes por dia. Para elevar a taxa reprodutiva, Piussi aposta na nutrição. “Quando a estrutura corporal é boa, conseguimos até duas crias por ano”, diz.
Nova opção de renda
O casal Aderlei e Jandira Bagatini, de Linha Argola, Encantado, mantém três aviários, no entanto, para diversificar a renda, aposta na criação de ovelhas. A atividade iniciada faz dez anos gera bons lucros com a venda dos animais vivos, média de R$ 9 o quilo. “É um ótimo negócio. Ampliamos o espaço físico, com pastagem para ampliar o plantel. Carecemos de orientação técnica”, aponta.
Segundo Bagatini, o custo de produção é baixo, pois os animais se alimentam basicamente de grama natural. Entre os cuidados, destaca a sanidade. “Vacinamos as ovelhas a cada três meses. Temos que evitar a umidade, pois causa danos nos cascos”, ensina.
Além da carne e lã, o turismo
Luiz Henrique e Luiz Augusto Agostini, da Cabanha Sady Agostini, de Boqueirão do Leão, mantêm um plantel de quase 50 animais, entre fêmeas, machos e filhotes, das raças dorper, santa inês, texel e mestiça.
Segundo Luiz Henrique, um dos segredos para obter bons resultados está na sanidade. “As instalações são higienizadas e mantemos as vacinas em dia. Além disso, a alimentação precisa ser balanceada, entre pastagens e complemento com ração para manter uma boa estrutura corporal”, comenta.
Na propriedade, foram organizados piquetes, para fazer o rodízio das ovelhas. Silagem, farelo de trigo e feno complementam o trato nutricional.
Pai e filho comercializam a carne, animais vivos e a lã, trocada em forma de permuta por casacos e demais utensílios. “O valor varia de R$ 24 a R$ 600, entre o quilo da carne e uma coberta”, explicam.
Outra alternativa para aumentar o lucro é a abertura da propriedade de 24 hectares, composta por mata nativa, nascentes e trilhas para visitantes.
Mais eficiência
A melhora da eficiência produtiva é o maior desafio do segmento. Hoje, a taxa de assinalação, filhotes que sobrevivem até serem desmamados, é inferior a 60%. Segundo o coordenador estadual de pecuária de corte do Sebrae, Roberto Grecellé, é urgente a profissionalização de todos os envolvidos na cadeia produtiva, além da melhora da genética de forma constante, identificar épocas ideais de plantio das pastagens e acasalamento. “Nesse mercado, cada cordeiro que nasce já está vendido”, diz.
Para Grecellé, os ovinocultores nunca foram desafiados a produzir, como ocorre em outras culturas como a da soja, arroz ou pecuária. “Temos que tratar a criação como um mercado, com metas definidas”, comenta.
O Sebrae mantém 600 propriedades inscritas no programa Juntos para Competir. De forma conjunta, elas recebem assistência técnica, o que ajuda a melhorar os índices em todos as etapas. “Conseguimos aumentar a taxa de assinalação de 60% (média estadual) para mais de 90% (média do grupo assistido). Esse salto de eficiência ocorre com mudanças básicas”, garante.
Cuidados rigorosos no primeiro dia de nascimento e tosquia pré-parto aumentam a vitalidade dos animais. Outra meta é garantir uma oferta estável em todos os meses do ano. Hoje ela chega ao ápice entre a primavera e o outono, o que provoca uma oscilação na oferta de animais para o abate e consequente falta de carne nos pontos de venda nos demais meses. “O consumidor não tolera mais isso. A falta de regularidade também afeta os frigoríficos e precisamos corrigir”, aponta.
Potencial inexplorado
O assistente técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edgar Franco, diz que o potencial da ovinocultura é enorme, mas pouco explorado. Para incrementar os lucros, aumentar a oferta e o plantel, defende a qualificação. “É preciso se tornar em um empresário rural. Não é mais possível produzir como antigamente”, afirma.
Franco destaca o potencial do mercado exterior, pois os contatos de países do Oriente Médio e da Ásia, por cordeiros brasileiros, é frequente. “Infelizmente nossa escala nem atende o mercado interno. Por isso, deixamos de atender esses clientes”, lamenta.