Vândalos destroem cemitério e famílias buscam explicação

Vale do Taquari

Vândalos destroem cemitério e famílias buscam explicação

Mais de 70 túmulos foram danificados no bairro São Bento

Vândalos destroem cemitério e famílias buscam explicação
Vale do Taquari

Tristeza expressa em lágrimas. Foi dessa forma que Deise Schulte, 34, reagiu quando viu o túmulo do pai, Anilo, destruído. Ficou sabendo dos atos de vandalismo na manhã de ontem. Em seguida, foi até o cemitério da Comunidade Evangélica Luterana do bairro São Bento, em Lajeado. “São pessoas que não têm coração. Quem fez isso não deve ter família.”

Durante a noite de segunda-feira e a madrugada de ontem, mais de 70 sepulturas foram destruídas. O cenário se completou com vasos de flores quebrados e esparramados pelo chão. O ataque se concentrou principalmente nas alas mais antigas e também na área infantil.

Morador do bairro, Pedro Franz foi o primeiro a ver os estragos, por volta das 6h30min. Em seguida, avisou o presidente da comunidade evangélica, Odilo Purper. Poucas horas depois, muitos familiares de pessoas sepultadas foram ao cemitério. A Brigada Militar e a Polícia Civil também estiveram no local.

Pelo levantamento inicial das autoridades policiais, mais de 60% das sepulturas foram danificadas ou destruídas. Para famílias, o desrespeito causa indignação. Para evitar novos episódios,                                     comunidade evangélica estuda cercar o cemitério e instalar câmeras

Pelo levantamento inicial das autoridades policiais, mais de 60% das sepulturas foram danificadas ou destruídas. Para famílias, o desrespeito causa indignação. Para evitar novos episódios, comunidade evangélica estuda cercar o cemitério e instalar câmeras

Pelo levantamento das autoridades policiais, mais de 60% das lápides estavam danificadas, entre elas, algumas sepulturas centenárias, com jazigos escritos em alemão. Ao que parece, verificam os policiais, não houve furto. “Trata-se de um ato de vandalismo puro e simples. Um desrespeito difícil de explicar”, afirmou um policial.

Esse tipo de ocorrência é frequente na região. Está ligado a casos de arruaça, consumo de bebidas e de drogas. Vizinhos ao cemitério afirmam ser corriqueiros os episódios de grupos de jovens que se reúnem, ligam o som automotivo. Algumas vezes, inclusive, intimidam os moradores próximos.

Medidas de segurança

Purper avalia a possibilidade de investir em segurança no cemitério. Pretende levar aos demais integrantes da associação a proposta de instalar câmeras de monitoramento na igreja e também cercar o cemitério.

“Parece que um exército passou por aqui. É triste de ver”, desabafa. Segundo Purper, é impossível contabilizar os prejuízos. “O que mais pesa é o emocional. Ver as famílias se deparando com os túmulos depredados até com os caixões à mostra é muito doloroso.”

“Nem os mortos descansam em paz”

Elvário Immich, 63, recepcionava cada uma das pessoas que entrava no cemitério com a mesma frase: “Nem os mortos descansam em paz.” Com a mulher sepultada no local, teve sorte, pois o túmulo não está entre os danificados.

As palavras de Immich resumem o pensamento de muitos que viram a destruição. Todos os familiares tentavam entender o motivo para tamanha fúria. Alguns pensavam em retaliação à comunidade ou alguma revolta juvenil.

Ildo Ricardo Fleck estava atônito. Com os avós sepultados no local, pensava o que fazer para recuperar as lápides da década de 1940. Toda a família ajudava a manter os túmulos. Estavam pintados, limpos e enfeitados. “Nunca imaginei que isso pudesse acontecer.”

Punição

O ato se configura como dano ao patrimônio. A legislação prevê pena de um a seis meses de detenção ou multa. Também pode haver enquadramento no crime de violação de sepultura, o qual prevê pena de reclusão, de um a três anos, e multa.


Furtos em Marques de Souza

Os atos de vandalismo vieram acompanhados de furtos no cemitério evangélico no centro de Marques de Souza. Mais de 50 túmulos tiveram adornos levados. Os crimes aconteceram há 15 dias.

Birkheuer foi um dos primeiros a perceber que os túmulos estavam danificados e que ornamentos foram furtados

Birkheuer foi um dos primeiros a perceber que os túmulos estavam danificados e que ornamentos foram furtados

O zelador, Renivo Birkheuer, 64, chegou ao trabalho para fazer a limpeza, notou que o carrinho de mão estava danificado. “Foi quando vi que muitas lápides estavam sem as fotos, crucifixos e demais objetos colocados pelos familiares. Um susto muito grande”, relata.

Em seguida, começou a contatar as famílias. “Trabalho aqui faz 18 anos e nunca tivemos esse tipo de incidente. É muito triste essa situação”, comenta.

Tristeza

A aposentada Ilga Berstein, 78, foi avisada pela filha que o túmulo do marido estavam entre os furtados. “É um lugar de descanso e de respeito. Nunca imaginei que isso poderia acontecer”, diz.

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Assim como o túmulo da família Berstein, os outros estão sem os nomes, números, fotos das pessoas mortas e de santos. “Sorte que não quebraram nada. Aí o dano seria maior”, conforta-se.

Casos foram registrados

De acordo com o sargento Roberto Pires, a Brigada Militar recebeu um relatório de pertences furtados. Suspeita-se que os criminosos possam ser de outras cidades, como de Encantado, onde foram encontrados oito sacos de materiais retirados de cemitérios, entre eles, cruzes e letreiros.


Cemitério de Olarias

Alvos frequentes

Casos como o desta semana em São Bento são recorrentes em Lajeado e região. Em outubro de 2014, o alvo foi o cemitério da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana Martinho Lutero, do bairro Olarias. Na ocasião, faltavam duas semanas para o Dia de Finados. A comunidade constatou danos em 30 túmulos de crianças.

A maioria das sepulturas datava do século passado.

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Ataque em cemitério centenário

Em dezembro de 2015, o cemitério da paróquia São Francisco Xavier, de Santa Clara do Sul, sofreu com o mesmo crime. Foram danificadas 25 lápides, muitas construídas no início da década de 1940. O ato provocou reação da comunidade.

O cemitério conserva parte da história da colonização do município. Na entrada, à direita, há sepulturas com quase cem anos. São mais de mil túmulos no local.  De acordo com a paróquia, o ato de vandalismo daquela ocasião foi o maior desde a criação do cemitério. Até então, havia apenas registros por furto de flores ou pequenos danos em alguns túmulos.

Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br | Fábio Kuhn: fabiokuhn@jornalahora.inf.br | Colaboração: Gabriel Santos

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