Nas noites de sábado, a família de Karin Collischonn, 83, ficava ao redor do pai para ouvir as histórias dos livros dos Irmãos Grimm. Ela gostava das narrativas fantásticas, tema da 13ª Feira do Livro de Lajeado que iniciou ontem e vai até domingo na Praça da Matriz.
Karin acompanhava o marido Wolfgang Hans Collischonn, 83, escritor homenageado. Ela lembra que, quando criança, havia poucos livros na língua portuguesa. Mas quando chegou à 5a série, em São Leopoldo, a turma começou a frequentar a biblioteca toda a sexta-feira e foi então que ela conheceu Monteiro Lobato.
“De repente, conhecer Reinações de Narizinho, a Emília e todo o Sítio do Pica Pau Amarelo foi uma coisa maravilhosa”, conta. Relembra dos episódios em que o pai contava as histórias. Chorava com se estivesse vivendo o que os personagens viviam.
A família do escritor Wolfgang Hans Collischonn morava na Alemanha quando os pais decidiram vir ao Brasil e se instalarem em uma casinha no município de Marques de Souza. O pai assinava o Jornal Diário de Notícias que o filho buscava sempre depois da aula. No caminho, lembra, com o jornal nas mãos, lia as notícias sobre a Segunda Guerra.
A mãe incentivava a leitura, com os contos e histórias escritas em alemão. Até os 8 anos, Collischonn não sabia falar português. Foi aprender a língua na escola, por meio dos livros e pela professora do 4o ano.
Criar o hábito
A artesã Leila Kauffmann, 60, também teve o primeiro contato com os livros quando era pequena. Ela lembra que quando chovia era uma alegria em casa, porque significava que a turma toda se reunia com pipoca e calça virada para ler. “Com a leitura, conhecemos o mundo sem sair de casa”, comenta. “Quando eu tinha 15 anos, gostava muito de ler romances e a descrição me fazia sentir até o cheiro da comida, do mar, sentir o sol.”
Ela e a artesã Chane Maria Bressan, 57, fazem parte da Associação dos Artesões, entidade conveniada com o governo municipal. Chane conta que o artesanato também faz parte da cultura e que vem para agregar esse conhecimento à feira.
Entre os principais trabalhos, estão crochê, tricô e patchwork, além das atividades sociais em entidades do município, como a Apadev.

Na tarde de ontem, crianças dançavam ao som de músicas épicas
Cultura que muda vidas
Observando em um canto da praça, um grupo de pessoas em situação de rua foram acompanhadas pela psicóloga do Creas, Kátia Tedeschi, 30, para participar da feira.
Kátia conta que muitas dessas pessoas conseguem manter um hábito de leitura, e que o Creas tenta reinseri-las na sociedade e nos estudos por meio do incentivo à literatura. “É um serviço de proteção social que procura possibilitar a participação deles em movimentos culturais da nossa cidade, e que a comunidade acolha cada vez mais quem hoje está à margem desses espaços”, conta.
As alunas da escola Campestre, Amanda Simm, 11, e Camili Gerhardt, 10, também visitaram o evento. Contaram que a literatura para elas é importante fonte de conhecimento, assim como estímulo à criatividade. “Às vezes a gente não conhece algumas palavras, e a leitura nos ajuda também”, conta Camili.
Na Casa de Cultura e na Biblioteca do Sesc Lajeado, as crianças foram convidadas para a hora do conto. Acompanhados pela professoa Luana Lopes, os alunos do Sesquinho também participaram das atividades da feira. Ela conta que desde os 3 anos eles já são estimulados a frequentar a biblioteca e levar os livros para ler com a família.
Com trajes medievais, a Feira do Livro recebeu incentivo cultural também por meio das danças. Patrícia Preiss convidou as crianças para uma música coreografada com temas de países como Escócia, Inglaterra e Itália.
Semelhante a uma brincadeira de roda, os dançarinos pulavam, batiam palmas e estalavam os dedos em uma simbologia aos costumes medievais.
Bibiana Faleiro: bibiana@jornalahora.inf.br