O auditório do Teatro do Ceat estava lotado na manhã de ontem para os três painéis sobre fake news e eleições.
Promovido pelo Ministério Público Eleitoral, Justiça Eleitoral do RS e veículos de comunicação da região, em parceria com Univates e apoio do colégio, o evento debateu o compromisso do jornalismo contra as notícias falsas em meio à campanha eleitoral que iniciou na quinta-feira, 16.
“Nosso objetivo é enfatizar o papel do jornalismo de qualidade para a sociedade e a educação digital para os usuários neste momento em que fake news vêm ainda mais à tona em função das eleições de 2018”, diz o promotor de Justiça Cível e promotor de Justiça Eleitoral, Neidemar José Fachinetto, um dos idealizadores da campanha.
As palestras abordaram a lei eleitoral, o funcionamento das redes sociais, a propagação das notícias falsas e a responsabilidade de quem as compartilha.
Desinformação
Na primeira palestra, com o tema “Redes Sociais e Fake News”, Maico Eckert destacou que o que faz com que alguém dissemine uma notícia falsa é a sensação de representatividade.
“As pessoas quando recebem um conteúdo nas redes sociais não costumam checar a informação e compartilham a informação com base naquilo que acreditam”, enfatiza.
Ainda segundo ele, no ambiente virtual, as fake news também se proliferam em comentários nas redes sociais. O professor também ressalta a questão de algoritmos de programação das redes sociais que tendem a trazer ao internauta os conteúdos mais relevantes conforme o interesse, o que torna o usuário ainda mais vulnerável a propagar informação falsa.
“A internet é a ferramenta mais poderosa criada pelo homem. Ao mesmo tempo em que ela espalha conteúdos, ela também explica”, resume.
A lei eleitoral
Para o promotor de Justiça e professor de Direito, Rodrigo López Zilio, as fake news, no âmbito do Direito Eleitoral, sempre existiram – seja em panfletos recheados de inverdades ou discursos mentirosos em comícios feitos em cima de caminhão.
Porém, com o advento da internet, a dimensão das notícias falsas aumentou ainda mais, trazendo, inclusive, riscos à democracia.
“Hoje um simples toque no celular ou no computador pode nos fazer assumir riscos e responsabilidades diante da Justiça”, diz Zilio.
De acordo com o desembargador titular do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul, Gerson Fischmann, que palestrou sobre a importância da imprensa e do voto consciente do eleitor, o momento de crise no país cria oportunidades a pessoas mal intencionadas que se aproveitam de pessoas que já estão desacreditadas com a política.
“É difícil termos ações preventivas no TRE diante das fake news. Somos acionados já quando uma matéria vira processo. Por isso, o jornalismo torna-se fundamental no combate às mentiras, pois cabe a ele buscar as verdades, diferente do que ocorre nas redes sociais”, sucinta Fischmann.
Entrevista
“Existe quem cria, mas existe quem compartilha”
Professor de Mídias Sociais da Univates, Maico Eckert acredita que a disseminação de notícias falsas parte do usuário que se sente representado por conteúdos sem antes avaliar a veracidade dos fatos.
Em meio à Era Digital, como você percebe o avanço das notícias falsas?
As fakes news nos acompanham desde a idade antiga, aos primórdios do impresso, quando começaram a ser disseminadas em maior escala. O ambiente digital torna ainda mais propício o compartilhamento de notícias falsas, afinal, conversa com mais pessoas e tem poder de escalabilidade ainda maior ao que se tinha até então. Juntando o avanço da tecnologia com algumas estratégias mal intencionadas, como geração de conteúdos não reais, e este ambiente altamente populoso da internet, esta junção faz com que as informações proliferem ainda mais rápido. Se é verdade ou mentira, para o usuário conecta quando lhe representa e este é o principal motivo pelo qual as pessoas dão luz a fake news. Existe quem cria, mas existe quem compartilha e dissemina essa informação.
Recentemente, tivemos a paralisação dos caminhoneiros. Em boa parte, foi pautada por informações falsas compartilhadas por meio do WhatsApp. Analisando o papel das mídias sociais nesse fenômeno, como ele tomou essa proporção?
Acredito que a paralisação dos caminhoneiro tenha sido absolutamente pautada pelas fake news e orquestrada no WhatsApp. Esse aplicativo foi o grande responsável por essa grande mobilização que a gente viveu aqui em maio. Isso mostra o poder que esse aplicativo tem entre nós e o poder de uma informação compartilhada por alguém que a gente conhece e confia.
Qual o papel do jornalismo diante das fakes news?
Apurar e investigar a informação. O jornalismo sério e profissional vai ser cada vez mais fundamental. Pois ele vai separar o que é real do que não é verdade. O jornalista tem o papel de nos levar informação correta, conforme já está pautado em legislação. A internet é um universo cheio de possibilidade, mas a gente precisa tomar algumas atitudes para que esse ambiente seja saudável.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br