A música parte de um princípio lúdico, um jogo de organização, entre som e ritmo. As crianças interagem ativamente, como se fosse um brinquedo, um espaço para mergulhar em suas fantasias. Cantigas e canções se transformam, para a criança, num espaço para brincar. Mas quais são as músicas que possibilitam que as crianças transitem entre o real e as suas fantasias? Vamos processar essa pergunta e apontar algumas possibilidades de resposta…
Nas últimas duas décadas, assistimos a uma verdadeira explosão no que diz respeito à produção de músicas infantis. A grande maioria delas associa música e imagem (clipes, desenhos) e utilizam as plataformas digitais para sua promoção e divulgação. Entretanto, nessa gigantesca variedade, temos diferentes tipos de conteúdos: aqueles com cunho cultural e educacional (pegamos como referência a Palavra Cantada, com canções bem trabalhadas e uma produção variada e de qualidade, que abraça todas as faixas etárias) e aqueles com cunho comercial e mercadológico (produções com letras pobres, rimas fáceis e que, na maioria das vezes, são estereotipadas e elaboradas a partir de modelos criados pela mídia para prender a atenção dos pequenos – musiquinha, criaturinhas fofas e cores para todos os lados).
Precisamos considerar, também, que cada vez mais, as crianças estão absorvendo a música da cultura POP, tocadas nas “paradas de sucesso” da grande maioria dos veículos de comunicação de massa e também na internet. Porém, essa produção musical traz a marca do consumismo, individualismo e do caráter exibicionista dos artistas que buscam o sucesso, sendo especialmente marcada por danças e coreografias com fortes apelos sensuais. Mas as crianças, sem dúvida, cantam muito e muito se identificam com esse tipo de artista modelo, fenômenos da mídia que, de maneira alguma, preenchem a lacuna que a ausência de um referencial sadio está deixando.
Acreditamos que o que pode determinar as escolhas das crianças frente a todo universo musical que está à disposição nos dias atuais é formação cultural e, quem sabe, o acesso a uma educação musical de qualidade, com base em vivências e reflexões orientadas, desenvolvendo o gosto pela arte musical. Ouvir e cantar, fazer e apreciar, brincar, interagir e experimentar. A música de qualidade DEVE ser um importante elemento no cotidiano infantil – em casa E na escola – e precisa estar comprometida em cooperar com situações expressivas e significativas para a vida das crianças.
Opinião
Ricardo Petter
Músico e professor