Após quase dois anos desativado, o estaleiro Aliança voltará a funcionar ainda em 2018. O complexo foi adquirido no início deste mês pelo valor de R$ 5 milhões. O empreendimento promete gerar cerca de cem empregos no município. Ontem, 14, representantes da Marinha conheceram o local, que tem mais de cem anos de existência.
Os compradores são o Grupo Masal, de Santo Antônio da Patrulha, e o Estaleiro de Construções e Reparos Navais Vitória, de Triunfo. A sociedade prevê 50% do negócio para cada um dos proprietários. Uma equipe já trabalha na limpeza e na avaliação da área. O empreendimento está em processo de licenciamento ambiental e deve começar a operar em até 60 dias.
Na primeira etapa, o estaleiro atuará no conserto e, posteriormente, na construção de embarcações. Com cerca de 10 mil metros quadrados, a estrutura se localiza no bairro Caieira, à beira do Rio Taquari. O complexo já conta com carreira, guindaste, depósito, almoxarifado, entre outros elementos necessários para o funcionamento do estaleiro.

Estrutura com mais de cem anos de existência aguarda licença ambiental para ser reativada
Expectativas
Com atuação consolidada no ramo de equipamentos agrícolas, a Masal se lança para um novo segmento com a compra. Conforme o presidente do grupo, Claudio Bier, entre os fatores que motivaram a compra, estão o fato de a estrutura já estar pronta e a posição estratégica onde está situada. A presença de mão de obra qualificada nesse setor em Taquari também foi um diferencial.
Bier aposta no crescimento do transporte fluvial no país. Segundo ele, a greve dos caminhoneiros, em maio, evidenciou a dependência logística da economia brasileira em relação às rodovias. “Temos que começar a mudar a mentalidade, buscar alternativas e não ficar tão dependente do sistema rodoviário”, afirma.
O proprietário do Estaleiro Vitória, Sandro Oliveira da Cruz, destaca que a aquisição proporcionará a expansão para novos mercados na Região Sul. A empresa sediada em Triunfo já atende a Aliança Navegação e Logística. A compra visa a ampliação da capacidade produtiva e a prospecção de novos clientes.
“O estaleiro vai entrar em funcionamento o mais breve possível. A intenção é aproveitar somente mão de obra local”, ressalta Cruz. Conforme o empresário, a estrutura poderá construir navios de até 1,1 mil toneladas a cada dez meses.
Para o prefeito Emanuel Hassen de Jesus (Maneco), a confirmação da compra é uma “ótima notícia” para o município, especialmente em um momento de crise de empregos vivenciada em âmbito nacional. Segundo ele, Taquari tem muitas pessoas qualificadas na área de manutenção e montagem industrial e naval.
“Isso vai colaborar e muito com o desenvolvimento da nossa cidade, tanto pela criação de empregos como no incremento da renda e da arrecadação. Falar em geração de vagas de trabalho, na atual conjuntura, é duplamente positivo”, reforça Maneco.

Luís Tadeu V. de Souza foi maçariqueiro do estaleiro na década de 1980
Memórias
A origem da área do estaleiro remete ao início do século 20. A estrutura pertencia à antiga Companhia Navegação Arnt e contava com rampas para os navios, setores de carpintaria, mecânica e fundição. Na época, trabalhava também com embarcações de transporte de passageiros. Em 1928, a empresa se associou à Aliança e passou a se chamar Companhia de Navegação Arnt-Aliança.
Os tempos áureos da indústria naval em Taquari fazem parte das lembranças de Luis Tadeu Vieira de Souza, 69. Dedicou a maior parte da vida trabalhando nesse setor, em diferentes funções, até se aposentar. Na década de 1980, foi maçariqueiro do estaleiro Aliança e, depois, marinheiro fluvial e timoneiro da companhia.
Souza conta que a aptidão para trabalhar no segmento é tradição familiar. Herdou do pai o gosto pela atividade e, hoje, seu filho também atua no ramo. Entre as recordações, se orgulha de ter sobrevivido a um naufrágio, perto de Rio Grande.
O aposentado afirma acreditar que o estaleiro vai voltar a prosperar e gerar muitos empregos em Taquari. Segundo ele, já passou da hora do país perceber o potencial do modal de transporte hidroviário.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br