A “bênção” vem do Rio

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A “bênção” vem do Rio

A participação de religiosos na política não é novidade. Mas as ramificações se lapidaram. É preciso um olhar mais escrupuloso sobre qualquer aproximação de pastores com câmaras de vereadores, executivos municipais, congresso e governos. O alerta para o Vale vem do RJ, onde o prefeito foi pego com a boca no botija tentando favorecer fiéis com cirurgias eletivas.
O Brasil é um Estado laico. Ao menos no papel. A laicidade está garantida desde 7 de janeiro de 1890. Naquele histórico dia, foi decretada a separação entre a igreja e o Estado. O Brasil deixou de ser um país oficialmente católico e, em contrapartida, restou extinto o padroado, ou seja, a intervenção do Estado nos assuntos da igreja.
A princípio tudo muito claro, certo? É claro que não. Estamos no Brasil “cara pálida”!
Essa condição definida em 1890 ainda foi reafirmada expressamente pela Constituição federal de 1988. “É vedado a todas as entidades da federação estabelecer cultos religiosos ou subvenciona-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes uma relação de dependência ou aliança”. Claro, com a ressalva do “interesse público”.
[bloco 1]
Embora a ressalva ceda margem para descalabros, mesmo assim, a lei é clara. O Brasil, o RS ou qualquer cidade margeada pelo Rio Taquari não podem adotar uma religião oficial. Isso vale para os poderes Executivo, Legislativo e, obviamente, o Judiciário. É preciso, quando agente público, se manter neutro e indiferente em relação à fé alheia. É simples assim.
No entanto, a norma vigente no papel é amplamente desrespeitada no Brasil, no RS e também em cidades do nosso Vale do Taquari. A começar pela leitura da bíblia antes das sessões legislativas, o que reflete ordinariamente o posicionamento ideológico do poder constituinte. Mesmo que tal leitura não tenha caráter normativo.
Também impomos a religião nas cédulas de real. Até nosso dinheiro é religioso, vejam só! Cada cédula vem com a inscrição “Deus seja louvado”. Obra do ex-presidente, José Sarney, talvez copiada dos norte-americanos, outra nação “laica”.
Mas tudo bem. Uma leitura da bíblia aqui, uma nota de um real acolá não mudam tanto assim o nosso cotidiano. Ao menos o meu. E confesso que parei de encrencar com a leitura dos trechos bíblicos na câmara de Lajeado após descobrir que tal proposição partiu do saudoso Bernardino Pinto, a quem tenho muito respeito pela história construída na cidade.
O que de fato me preocupa é o repasse a esmo de dinheiro do contribuinte para entidades ligadas às igrejas ou assembleias, e cujos principais atores estão “aliados” ao poder público. O que de fato me preocupa é a doação de valorosos imóveis para entidades ligadas a esses mesmos agentes públicos e sem consentimento da população. Isso, sim, me preocupa.
A investigação envolvendo o prefeito carioca é uma “bênção” para a sociedade em geral. É uma bênção, também, para aquela maioria que propaga somente o bem dentro de suas respectivas religiões. É uma bênção, sim. E também um alerta “divino”.


Nosso anjo Miguel

O Vale do Taquari também produz os próprios anjos. Um deles ficará sempre lembrado como Miguel Alcides Feldens. “Seu” Miguel viveu entre nós até os 77 anos. Mas viverá muito mais. E merece essa eternidade. Diferente de grande parte da população – e de tantos que se auto denominam benfeitores –, olhou ao próximo. Dedicou 47 anos da vida à ressocialização de detentos. À nossa segurança. Voluntariamente. Bom descanso, “Seu” Miguel.


Sartori quer os louros

Um vídeo institucional do MDB para a campanha de José Ivo Sartori cita o presídio feminino como um presente da gestão dele ao Vale do Taquari. É muita cara de pau. Muita. Que fique claro: o presídio feminino de Lajeado é uma conquista comunitária diante da inércia deste mesmo Estado cara de pau. Que fique claro: tal obra é fruto do esforço de pessoas dedicadas, como o empresário Léo Katz e o juiz Luís Antônio de Abreu Johnson.


Tiro curto

– Em Lajeado, Carlos Kayser vai deixar a direção do Departamento de Trânsito para assumir o setor da agricultura da Sedetag. Ainda estão previstas mudanças no secretariado do governo;
– Também em Lajeado, funcionários de creches estão insatisfeitos com o alto número de crianças por berçários. O Sindicato dos Professores quer baixar o limite em 2019;
– Vereador de Estrela, Norberto Fell (PPS) foi vítima de ofensas no Facebook e ajuizou ação contra a rede social para identificar o autor. Foi chamado de “safado” e “sem-vergonha”;
– Teutônia. Todos aguardam posicionamento oficial do ex-prefeito, Ricardo Brönstrup, libertado da prisão após quatro meses;
– Com boa relação com integrantes da Torcida Geral do Grêmio em cidades do Vale, o ex-goleiro Galatto (PPS) quer buscar votos na região para uma vaga na Assembleia;
– Em Encantado, atritos entre presidente da câmara e prefeito agitam a política local. Tem partido torcendo por um rompimento para, assim, conquistar mais espaço no Legislativo;
– Setores do PP regional estão bastante incomodados com o apoio do prefeito de Lajeado Marcelo Caumo (PP) aos candidatos do NOVO.

Boa quinta-feira a todos!

“A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega.”
Albert Einstein

 

Acompanhe
nossas
redes sociais