Dona Rosa assistia atônita à remoção dos restos mortais de dezenas de lajeadenses de origem mais carente, que estavam enterrados no cemitério municipal e foram exumados para ceder lugar às novas gavetas. Dois filhos dela jaziam sob uma aprimorada lápide cinza, repleta de flores. Jazia também um neto, morto aos 2 anos. Todos foram removidos para as gavetas. E seus túmulos destruídos.
Foi lancinante para ela. Dona Rosa lembrava que o primeiro filho morto, um homem, estava naquele mesmo local do cemitério Travessa da Paz fazia 24 anos. Foram mais de duas décadas assistindo o túmulo em Dias de Finados, aniversários de nascimento e de morte. Sempre no mesmo local. Guardado com zelo por Dona Rosa. Já a filha e o neto morreram juntos há 12 anos.
Desde terça-feira, isso tudo mudou para ela e os demais familiares.
Dona Rosa não tem mais a sepultura para cuidar. Ela foi completamente destruída na tarde de terça-feira. Os 24 anos de zelo foram para debaixo da terra, literalmente. O antigo e bem cuidado túmulo do filho, da filha e do pequeno neto se transformou em uma mera placa de metal preta e com letras brancas, dependurada em uma gaveta. Um modelo padrão. Sem qualquer capricho.
Não se trata de fazer terra arrasada. Sequer sou religioso e os argumentos para que não ocorram mais enterros no solo são convincentes. Os espaços naquele local são escassos, todos sabem. Tem toda a questão ambiental, também. Mas será mesmo que não estamos desrespeitando histórias de famílias e o próprio enredo da cidade? Era necessário destruir centenas de sepulturas e soterrar tanto patrimônio histórico?
Faz poucos anos, por essas e outras de derrubar sem pesquisar, ou de “preservar” sem ver, a centenária sepultura de Júlio May – um dos primeiros intendentes de Lajeado, morto em 1902 – foi arrasada por uma terraplenagem realizada no antigo cemitério da rua Júlio de Castilhos. Quem me conta essa história, desolado, é o pesquisador, historiador e colega jornalista, José Schierholt.
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O monumento imponente tinha mais de 110 anos de história. Foi um presente do próprio município à viúva, devido à pobreza da família no momento da morte do ex-intendente. Dona Leopoldina, como era chamada a viúva, ao menos não testemunhou a destruição da lápide. Aliás, segundo me informa Schierholt, foram poucas as testemunhas desse fato registrado no centro de Lajeado.
É no mínimo criticável. Tantas cidades fazem de seus cemitérios a extensão eterna da própria história. Paris o faz com maestria com o Père-Lachaise, onde repousam combatentes, escritores e artistas como Oscar Wilde e Jim Morrison, além do professor Allan Kardec. Em Buenos Aires, a história repousa no cemitério da Recoleta, onde, enfim, descansam os restos mortais de Evita Perón.
Guardadas as devidas proporções, também merecemos mais zelo com a nossa própria história. Uma cidade sem história preservada é como se fosse uma cidade sem passado. Não há marcas registradas quando os caminhos trilhados são apagados. Isso vale para uma sociedade como um todo, e para a família de Dona Rosa.
E, sinceramente, há outros espaços em Lajeado para construção de novas gavetas.
Pedalando até a lua
Este colunista fez confusão. E cabe aqui desfazê-la. Pré-candidato a deputado estadual pelo Novo, Douglas Sandri esclarece a frase citada por ele no lançamento da campanha, de que seria “mais fácil pedalar até a lua do que a região eleger um deputado”. A frase foi dita originalmente por um vereador e, naquele momento, Sandri citou-a para logo após rebatê-la “Já podem comprar as bicicletas, porque é possível, sim, elegermos um representante da região”, disse. Feito o registro!
Emendas “impositivas”
Estranhas emendas apresentadas pelos vereadores de Lajeado e que garantem R$ 3,7 milhões a mais no orçamento deles em 2019. Desde sempre, a câmara nunca precisou de tanto dinheiro a mais para custear mesmo as altas contas com os parlamentares e seus mais de 40 assessores. E. como eles mesmos deixam claro que não se trata de recurso para construção da sede própria, a impressão é que criaram emendas impositivas disfarçadas. Tudo para gerenciar recursos e angariar votos.
Tiro curto
– Investigação sobre o péssimo armazenamento de carnes em estabelecimentos de Estrela afeta clientes de Lajeado. Em algumas creches particulares, por exemplo, pais de alunos buscam informações acerca da procedência dos alimentos distribuídos às crianças;
– Empresa que fará concurso público para a prefeitura de Lajeado está envolvida em investigação do Ministério Público em outras cidades gaúchas. É bom manter os dois olhos bem abertos;
– Na próxima semana, serão instalados dois novos bicicletários em forma de Fusca em Estrela;
– É grande o interesse de empresas estrangeiras na concessão da BR-386. Entre os interessados, os espanhóis;
– Ex-prefeito de Forquetinha, Waldemar Richter prepara o lançamento de diversos livros sobre famílias de imigrantes alemães do município;
– O Hospital Bruno Born (HBB) está devendo uma porta de acesso mais digna para os pacientes do SUS no Setor de Emergência. A diferença para com o setor privado, logo ao lado, é gritante. Concordo com a necessidade de triagem e melhor aproveitamento do espaço por parte da comunidade. E entendo as dificuldades financeiras da entidade. Mas algo precisa ser feito. Com urgência!
Boa quinta-feira a todos!
“A intolerância irracional de muitos escusa ou justifica a hipocrisia ou dissimulação de alguns.”
Marquês de Maricá