Encerra hoje o 2º Fórum Internacional de Educação do Vale do Taquari. A programação começou na quinta-feira, no ginásio da Paróquia São Cristóvão, no bairro Boa União. O evento reúne cerca de mil pessoas, incluindo professores, gestores e coordenadores pedagógicos. A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o tema central das discussões.
Promovido pela Associação dos Secretários Municipais de Educação do Vale do Taquari (Asmevat), o fórum conta com apoio do governo de Estrela e da Amvat.
Presidente da Asmevat, o secretário de Educação, Marcelo Mallmann, destaca a importância de reunir os professores e profissionais da educação em um mesmo ambiente para a troca de experiências.
Debates
Hoje, a partir das 8h30min, ocorre a palestra “As 10 Competências da BNCC”, com a educadora Roselane Costella. Doutora em Geografia, a palestrante trabalha na Faculdade de Educação da Ufrgs e desenvolve pesquisas sobre o Enem e a Educação Básica.
Às 11h, será a vez do professor Gabriel Perissé, com o painel intitulado “Quem ensina, aprende”. Doutor em Filosofia da Educação, com pós-doutorado em Filosofia e História da Educação, o especialista estuda a linguagem educacional brasileira, com mais de 30 anos de experiência como palestrante.
Um dos destaques da programação ocorreu na manhã dessa sexta-feira, 27. O mexicano Federico Malpica, diretor e fundador do Instituto Escalae, sediado na Espanha, com atuação internacional na busca de inovações pedagógicas, discorreu sobre o tema: “O desenvolvimento das competências docentes sob um enfoque reflexivo e participativo”.

Fórum também teve cultura, como o show de Johnny e Zé do Banjo
Durante a tarde de sexta, o debate sobre a “BNCC e as áreas do conhecimento” reuniu especialistas para uma discussão sobre como a aplicação prática da nova base curricular. À noite, o painel “Que cérebro é esse que chegou na escola?” foi ministrado pelo pedagogo, psicopedagogo e psicanalista Geraldo de Almeida Peçanha, da Sociedade Internacional de Psicanálise de São Paulo.
Avaliações
Para a diretora da Escola Teobaldo Closs (Teutônia), Shana Vogel, o evento é muito aguardado devido à sua relevância aos educadores da região e pela presença de especialistas. O foco na NBCC é muito pertinente. “O debate possibilita que a gente conheça como os outros municípios estão trabalhando para implementar a nova base”, ressalta.
Sobre a necessidade de implantar o novo modelo curricular, Shana considera um grande desafio para os educadores. Segundo ela, é fundamental o empenho dos profissionais da área na busca por conhecimentos para que as alterações ocorram da melhor forma possível. “O professor tem que se dedicar e ir atrás. A nova base vai ser implementada e não tem como fugir disso”, comenta.
Também de Teutônia, a coordenadora pedagógica do Centro Municipal de Ensino Fundamental Leonel de Moura Brizola, Maristela Lagemann, considera positiva a presença de pensadores estrangeiros para proporcionar múltiplas perspectivas sobre a educação.
A coordenadora pedagógica Ana Cristina Möllmann, da escola Leo Joas, de Estrela, considera que o fórum rende bons conhecimentos aos participantes. “Está sendo uma experiência muito válida. É um crescimento para todos nós”, avalia. Sobre a nova base, embora seja um desafio aos educadores, é necessária para atualizar as metodologias de ensino.
A nova base
A BNCC é um documento de caráter normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. O processo de implantanção envolve a formulação de currículos estaduais, cuja primeira proposta deverá ser apresentada em 6 agosto ao Conselho Estadual de Educação.
Cinco audiências públicas nas grandes regiões do estado serão promovidas para o recebimento de novas contribuiçõs. Os vales do Taquari e Rio Pardo discutirão o documento no final de setembro, em Santa Cruz do Sul. A aprovação final do currículo gaúcho está programada para outubro.
Entrevista
“Cuidado, amparo e afeto”
O pedagogo, psicopdagogo e psicanalista Geraldo Peçanha de Almeida foi um dos destaques da programação do Fórum Internacional de Educação do Vale do Taquari. É autor de mais de 50 livros infantis, para educadores e pais, incluindo trabalhos internacionais. A seguir, analisa os principais desafios em sala de aula.
Que comportamento o professor precisa ter para o aluno se engajar no processo de aprendizagem?
O comportamento deve ser de cuidado, amparo e afeto. O cuidado é porque o aluno é uma criança e, além dos respaldos legais de direito da criança e do adolescente, a escola é um lugar de cuidado também. As vezes o professor tem problemas com o estudante porque ele esquece que isso faz parte da função do docente. O amparo é porque toda a pessoa que está em aprendizagem se sente perdida, desamparada, porque o aprendizado é uma descoberta, é uma viagem, o que gera insegurança. E o afeto remete ao fato que de não há condições de aprendizado se não houver o afeto. O afeto antecipa a linguagem e faz parte das condições para o professor se relacionar com o aluno.
Quais as características para um professor se tornar agente da transformação?
É a humanização do trabalho pedagógico. Isso é o mais difícil para o professor, pois hoje em dia há tantos manuais, livros, apostilas, sites, etc., que o professor se esquece de humanizar a relação entre quem ensina e quem aprende.
Como as dificuldades do setor, como parcelamento e atraso de salários, interferem no psicológico dos professores?
Isso é devastador. Funciona como em um casamento. Se você promete amor eterno, fidelidade e companheirismo, e depois trai o marido ou a esposa, há um sofrimento dos dois lados para refazer a relação. O professor e o Estado estão exatamente nesse ponto. O professor estuda, busca formação continuada, faz um concurso, começa a trabalhar, e a promessa de admissão previa plano de carreira, pagamento em dia, reconhecimento financeiro, uma série de coisas que os governos não cumprem. Essas feridas, então, se sobrepõem e vão adoecendo o professor, ao ponto de não se ter mais um educador em sala de aula, mas sim um sujeito que dá aula, pois o professor foi traído, está decepcionado e não se entrega mais na relação. Então não se tem mais processo educativo.
Como superar isso?
Tem que haver por parte do sistema público e dos governos uma vontade de desfazer essas feridas. Isso significa criar condições de desenvolvimento, plano de carreira e salários, pagamentos em dia. Trata-se de somente conceber aquilo que é de direito do professor. Senão, o psicológico e o pedagógico vão embora, e o ofício não existe mais.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br