Coruja assumida, Rejane Junqueira, 63, não poderia ter recebido presente melhor no Dia dos Avós de oito anos atrás. Foi quando nasceu Amanda, a neta de Bom Retiro do Sul que, depois de passar um período na UTI neonatal, encontrou no colo da ‘vó’ o espaço para crescer.
No mesmo ano, nasceu Antônia, a menina de Vera Cruz que gosta de escrever e de ajudar as pessoas mais velhas a atravessar a rua. No ano passado, Rejane passou período pós-operatório na casa da pequena e viu os papéis se inverterem. “Ela sentava na minha cama e ficava lendo histórias até eu pegar no sono. Depois, saía e apagava a luz”.
Dois anos depois do nascimento das meninas, veio Bruno, que mora em Crissiumal e fica feliz quando Rejane o presenteia com balinhas de coco. Único menino entre os netos, é também o mais emotivo. Sempre beija e abraça o telefone durante as ligações com a avô materna.
Mas por quase 17 anos, o cargo de queridinha da vovó foi ocupado apenas por Rafaela (irmã de Antônia), que nasceu quando Rejane tinha 38 anos. Era ela que cuidava da neta durante a semana, quando a mãe da “Rafa” estava em Santa Maria, onde fazia faculdade.

Os netos de Rejane moram em outras cidades. Ela mata a saudade olhando as fotos que decoram um dos quartos
Canto das memórias
Memórias vêm à tona todas as manhãs, quando Rejane senta na cadeira de balanço em um cômodo forrado por fotos dos netos (e dos filhos Maurício, Karini e Juliani e outros familiares). Enquanto toma chimarrão, pensa que Rachel de Queiroz acertou quando escreveu que os netos são um “ato de Deus”.
Entre as imagens da família, rostos de menores que Rejane acompanhou durante as duas passagens pelo Conselho Tutelar provam o que ela constata ao olhar para o passado: gosta mais de crianças do que imaginava.
Foi também nessa função que descobriu o papel social daqueles que se empenham em ser pais dos filhos dos filhos. “Tive muitas experiências em que, se não fosse pelos avós, as crianças teriam outro rumo”. Por isso, quando ouve que avós “estragam” as crianças, questiona em quais motivos se baseia tal acusação. “Nunca vi amor estragar ninguém. O excesso de amor não estraga; a falta, sim”.

Rita Basso, 89, foi eleita Vovó do Ano 2018. Ela celebra a conquista ao lado das filhas Virgínia e Verônica
Avó do ano
Em Lajeado, o Dia dos Avós ganhou um evento especial. Há 40 anos, o Chá da Vovó lota o salão paroquial da Igreja Matriz. Ontem à tarde, pais, mães, filhos, avós, netos e bisnetos se reuniram para aproveitar a tarde em família.
Segundo a coordenadora do chá, Therezinha Bazzo, 62, cerca de mil cartões foram vendidos. A Vovó do Ano é escolhida por uma comissão, que leva em conta a história e o envolvimento comunitário. “Hoje o papel da avó está diferente. Ela está ajudando a criar também – antigamente as mães ficavam mais em casa.”
Therezinha tem um neto, de 18 anos, que ainda é cuidado com todo o carinho. “A gente sempre leva lanche para ele. Os filhos dizem: ‘Ah, pra nós a mãe não fazia isso’. É que hoje temos mais tempo.”
O título de Vovó do Ano foi concedido a Rita Basso, 89. Moradora do bairro Florestal, ela integra o setor de caridade da paróquia e ajuda na arrecadação de roupas que compõem um bazar em prol dos necessitados.

Úrsula Cecília Spech, 82, levou a família para a 40ª edição do Chá da Vovó, ontem à tarde. Ela foi a Vovó do Ano 2017
É mãe de três e avó de dois: Marcela, de 25, e Pedro, de 33, que moram em Porto Alegre. Além disso, tem uma bisneta, a Maria Eduarda, de pouco mais de 1 ano. “Foi uma surpresa muito grande. Eu não esperava. Ser avó é muito bom, poder passar tempo com os netos e com os filhos.”
Até ontem, o título era de Úrsula Cecília Spech, 82. Este ano foi a primeira vez em que ela sentou entre o público. Sempre ajudou a servir, inclusive no ano passado, quando eleita. “Tiveram que me chamar lá na cozinha, pois de lá eu não escutava o que se dizia no salão.”
Casada com Hugo Spech, 91, e mãe de três, avó de sete e bisavó de 13, ela espera ansiosa pelo Natal, quando toda a família se reúne na sua casa, em Lajeado. “Ser avó é uma maravilha, e ser bisa é mais ainda. A gente tem tanto amor para dar a esses pequenos!”
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br