Jorge surpreendeu a esposa e as crianças em Gramado. Do alto da sacada do hotel, via ela voltar esguiando o quadril pelas vielas da rua romântica da Serra onde 20 anos atrás iniciara seu romance com Andressa.
O filho menor segurava um balão de hélio e a menina, já adolescente, futricava no smartphone.
Assim que adentraram o quarto do hotel, Jorge pediu que as crianças descessem, pois a conversa com sua mãe era séria.
Não deixou Andressa terminar o quentão que buscara na quitanda. Disse que era urgente. Enquanto ela segurava a bebida que vaporava nos óculos, os olhos esbugalhados não entendiam o que Jorge fazia ali.
Pois ela, que trabalha em uma sorveteria e tirava 30 dias de férias de inverno na Serra, todos os anos, nunca tinha se deparado com o marido assim, sem aviso prévio. Ele, que tinha compromissos e reuniões da empresa o tempo todo, nunca largaria tudo para o alto se não fosse algo sério.
Jorge foi certeiro: “Já estou sabendo de tudo.” Andressa deu de ombros.
“Tu estás me traindo com um gurizão cineasta, cheio dos Kikitos”, esbravejou.
“Ora, meu amor. Que susto. Gurizão dos Kikitos. Jamais, Jorge. Sou e serei sempre só tua.”
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Antes de envolvê-la em seus braços, ficou fitando-a por 2 minutos, para garantir que ela não teria alguma recaída e abriria o jogo.
Então, abraçou-a e disse: “Que bom, meu amor. Isso estava me torturando. Vim assim que pude para ouvir isso da tua boca.”
Então, beijaram-se feitos os jovens que se conheceram há duas décadas na mesma cidade.
“Mas agora preciso ir embora, pois tenho pressa. Um compromisso da empresa me aguarda.”
“Te amo até o fim do mundo”, disse Andressa.
Com um sorriso encharcado de saliva, Jorge mandou um aceno e um beijo pela janela do Sandero.
E voltou para Lajeado. O compromisso se chamava Verônica.
Depois da encenação, tinha o álibe e o estopim perfeito para o crime.
Partido
Quem escolhe um lado tende a, quando erra, fazer de conta que não viu ou defender. Agora, quando o lado que escolheu acerta, aí solta foguetes. Outra coisa, quando o outro lado erra naquilo que fingiu não ver, costuma atacar. Pois quem escolhe um lado está sempre protegido. É só seguir uma fórmula de bolo de discurso. Não precisa nem usar a própria cabeça para pensar. A cartilha já fala tudo. Por estas e outras que prefiro ficar em cima do meu muro. Não acredito em esquerda e nem direita. Meu partido é o jornalismo.
No contra-ataque
Mais feio
Muito pior do que um conservador de direita é um conservador de esquerda. Se diz lutar pelas liberdades individuais. Mas achou engraçado o fato de o deputado José Otávio Germano ter se relacionado com travestis. Quem se diz de esquerda e o condena por isso está muito errado. Como se chama isso mesmo: transfobia, perseguição política, moralismo?
Aí estampa-se o ápice da demagogia. “E a demagogia é a pior das mentiras. Pois é a mentira mentirosa.” Como já dizia o Tim Maia.
Para o PP, que aguentou o Germano político envolvido em todos os esquemas de corrupções possíveis e só o expulsou depois de ter se relacionado com travestis, pior ainda.
Uma coisa é o Germano político, envolvido em escândalos de corrupção, outra coisa é a sua liberdade individual como cidadão comum.
No Twitter
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