Sobrevivência dos negócios depende da relação com os clientes

Lajeado - Jornada técnica e de inovação

Sobrevivência dos negócios depende da relação com os clientes

Essa foi a tônica dos painéis e debates durante a Jornada Técnica e de Inovação que ocorreu ontem na Univates. Promovida pela Seavat com apoio do A Hora, a programação teve palestras de profissionais renomados no cenário nacional. O impacto das novas tecnologias sobre o comportamento dos consumidores exige adaptação constante por parte dos empreendedores

Sobrevivência dos negócios depende da relação com os clientes
Lajeado

A construção civil passa por uma verdadeira revolução. O avanço tecnológico e o aprimoramento de processos, produtos e da gestão resultam em uma perspectiva completamente diferente para o setor.

Esse cenário de mudanças velozes e constantes foi debatido na manhã de ontem, na Jornada Técnica e de Inovação. Promovido pela Seavat em parceria com o A Hora, o evento reuniu na Univates profissionais de renome nacional para falar sobre as tendências e transformações do setor.

Presidente da Seavat, André Borelli abriu o evento falando sobre os desafios diante das incertezas no cenário político e econômico que resultam no represamentos dos investimentos. Segundo ele, para além das dificuldades, o momento também é propício para oportunidades.

“A inovação é importante e ninguém pode ficar parado”, aponta. Conforme Borelli, a jornada de ontem planta a semente para um evento anual, congregando profissionais, estudantes, consumidores o poder público e a sociedade como um todo.

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Cobrança indevida

A primeira atração do evento foi um painel com representantes do Crea, Caurs, Seavat e Sinduscom. Mediado por Adair Weiss, o debate discutiu um dos temas mais polêmicos envolvendo o setor: a cobrança da chamada reserva técnica – percentual sobre os produtos adquiridos nos projetos de construção e reforma, cobrados sem a anuência do cliente.

Inspetor-chefe do Crea, Daniel Bergersch afirma que a entidade é contra a prática. Segundo ele, o Crea sempre acreditou que os honorários dos profissionais devem ser plenos e de acordo com o trabalho executado. “Não cabe complementar a remuneração com indicações nas quais fica questionável se ocorrem pela qualidade e segurança ou devido à atratividade financeira.”

Ele compara o mecanismo ao auxílio-moradia de juízes e promotores, cobrado sob a justificativa de complementação de salários defasados. Para o representante do Crea, se a sociedade repudia a prática no poder público, os profissionais não devem fazê-lo no setor privado.

“O profissional que usa da reserva técnica, conquista seu cliente com um honorário muito baixo porque sabe que vai arrecadar depois na compra dos materiais”, alerta.

Representante do Caurs, Rodrigo Spinelli afirma que essa é hoje a principal discussão do conselho, uma vez que o principal lesado pela prática é o consumidor.

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Lembra que o CAU do Tocantins realiza uma forte campanha de conscientização de fornecedores para que eles parem de pagar a reserva técnica. Segundo ele, existem penalidades previstas no caso de cobrança, mas o grande desafio é identificar a prática.

Em muitos casos, aponta, os próprios clientes descobrem a cobrança e denunciam no conselho, o que resulta na abertura de um processo ético. “Já ocorreu de profissionais terem o registro cassado por causa de reserva técnica.”

Representantes de conselhos e entidades do setor participaram de debate na abertura da programação

Representantes de conselhos e entidades do setor participaram de debate na abertura da programação

Para Spinelli, essa situação remete a outro grande debate, que é o da relação entre os profissionais e seus clientes. Segundo ele, 2/3 dos processos da comissão de ética do Conselho estão relacionados a contratos malfeitos, em que ou o profissional ou o cliente não cumpriram o que estava previsto.

“O contrato precisa ser firmado, cumprido e cobrado conforme o que está escrito. Não pode haver enrolação ou fazer promessas que não se cumpre”, alerta. De acordo com Spinelli, é fundamental que a relação com o cliente seja franca desde o início.

Valorização profissional

Vice-presidente do Sinduscom, Jairo Valandro afirma que as construtoras, via de regra, contratam seus próprios arquitetos. Para ele, um dos principais diferenciais do mercado, hoje, é a aproximação entre os arquitetos e os clientes.

Lembra que a construção de uma casa é diferente de um prédio, pois no primeiro caso o cliente escolhe o projeto de forma livre, enquanto no segundo existem padrões que precisam ser seguidos.

“Precisamos trazer o cliente para dentro da empresa e fazer esse contato com o arquiteto para ele entender que tudo que foi pensado por um motivo”, aponta. Segundo o vice-presidente do Sinduscom, o mercado exige um trabalho de aprendizado constante entre contrutores, arquitetos e engenheiros

Para o presidente da Seavat, a valorização do profissional está diretamente ligada à qualidade do trabalho realizado. Segundo ele, muitas vezes, o cliente acha que vai poder contratar o profissional mais em conta porque acredita saber o que fazer e só precisam de alguém para assinar o projeto.

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“Esquecem que existe o trabalho de acompanhamento da obra, o serviço mais árduo, custoso e oneroso, pois é ali que aparecem os defeitos que precisam ser corrigidos”, destaca.

Para Rodrigo Spinelli, a valorização profissional depende da atuação e de demonstrar o valor do trabalho realizado dentro dos princípios éticos. “Precisamos nos profissionalizar tanto no âmbito organizacional quanto na formatação dos contratos.”

Segundo ele, a maior parte dos profissionais fazem propostas comerciais onde descrevem o valor do trabalho. O ideal, aponta, é que nessa proposta esteja descrito tudo o que será desenvolvido e o que não será desenvolvido pelo profissional.

Temas das palestras

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Normas de Desempenho e Ruídos nas Edificações

Sócio-diretor na WN Engenharia, Gestão, Execução e Consultoria, Roberto Sukster falou sobre as normas técnicas de desempenho e os índices de ruído. Segundo ele, no mercado brasileiro ainda existe uma grande insatisfação quanto ao barulho, seja de vizinhos ou da área externa dos empreendimentos.

Lembra que as normas técnicas foram publicadas em 2013 e são obrigatórias para os projetos protocolados a partir de então. A regra determina qual o padrão mínimo obrigatório para os empreendimentos, mas também aponta os padrões intermediários e superiores de qualidade, que servem como referência.

Para Sukster, o mercado está cada vez mais exigente, uma vez que as informações estão disponíveis. “Será que o cliente que entender isso vai comprar um apartamento de luxo com requisitos mínimos?”, questiona. Ele acredita que os profissionais precisam compreender esse cenário para que possam se diferenciar no mercado.

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Energia fotovoltaica nas fachadas

Executivo sales e marketing da Emirates Insolaire, Rogerio Carranza Duarte falou sobre a tecnologia criada pela empresa para gerar energia por meio de um vidro colorido que pode ser aplicado na fachada dos prédios.

Segundo ele, a energia fotovoltáica é uma das tendências do Brasil e representará 30% da matriz energética brasileira em 2040. “É uma ida sem volta, então, temos que gerar energia renovável e de forma distribuída.”

Conforme Duarte, antes de indicar o vidro para o cliente, é realizada uma modelagem 3D do empreendimento para avaliar a insolação e a viabilidade do uso da tecnologia. “É o momento onde indicamos para o cliente talvez mudar o eixo da edificação para uma melhor insolação e fazemos o cálculo do retorno do investimento.”

3

Como valorizar seu trabalho e vender mais

As coachs Patrícia Crestani e Vivian Schell apresentaram palestra focada nas vendas. Conforme Patrícia, para agregar valor ao serviço prestado, os profissionais precisam primeiro se valorizar, reconhecer suas habilidades e desenvolver as competências necessárias para a conquistas dos objetivos.

“A partir do objetivo de vida, façam. No lugar que vocês estão, com o conhecimento que vocês têm, coloquem em prática suas ideias com os recursos disponíveis”, reforça. Vivian apontou técnicas de venda e de persuasão. Segundo ela, para conseguir vender, é necessário acreditar no que faz e passar essa credibilidade para as pessoas.

Ela também descreveu técnicas utilizadas pela Neurociência para estimular os clientes e ampliar a assertividade do trabalho de vendas.

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Inovação e Sustentabilidade

Diretor-executivo técnico da Tecnisa, Fábio Villas Bôas falou sobre a necessidade de inovar diante de um mercado cada vez mais ligado à inovação. Lembra que nos últimos 15 anos 52% das 500 principais empresas do mundo desapareceram porque não conseguiram se adaptar à era da tecnologia.

Cita como exemplo a Kodak, sinônimo de fotografia no século passado, mas que desapareceu por não compreender as mudanças do mercado. Para ele, esse cenário também se reflete na construção civil.

Villas Boas acredita que os profissionais precisam compreender esse novo mundo e estar constantemente ligados às novas tendêncicas. Conforme o palestrante, a internet é uma ferramenta fundamental nesse sentido, pois permite acesso a informações antes disponíveis apenas em círculos restritos. “A principal mudança necessária para as empresas é a de criar uma cultura de inovação.”

5

Energia solar térmica

O encerramento do evento ficou por conta do engenheiro Jorge Chaguri Jr. Ele abordou as mudanças nos padrões de construção por meio do uso da energia solar térmica. Conforme o palestrante, o uso dessa tecnologia é uma tendência cada vez mais procurada no mercado.

“Cada vez mais os edifícios impactam na cadeia ambiental e se tornam um foco de atuação em sustentabilidade e eficiência”, acredita. Segundo Chaguri, a energia térmica está ingressando no mercado e todos os projetos pensam em aplicar essa tecnologia, mesmo sem executar.

“Hoje cresce muito, inclusive para edifícios do Minha Casa Minha Vida para baixa renda”, alega. Para o palestrante, isso demonstra que os consumidores estão dispostos a investir em uma tecnologia que é capaz de gerar economia para os próximos 50 ou cem anos.

Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br

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