Os horários de jogos de futebol na quadra localizada dentro do pátio interno do presídio são tensos para os agentes penitenciários. É durante as partidas que os detentos costumam receber a encomendas dentro da casa prisional. Bolas de futebol são propositalmente chutadas para fora e, do outro lado, comparsas devolvem produtos recheados com drogas e outros produtos.
A prática foi flagrada na sexta-feira passada, pelo agente penitenciário, Éberson Bonet, chefe de segurança do presídio. Ele estava acompanhando outra partida de futebol, disputada entre presos do regime semi-aberto, no campo da sede do Lothar Joahan, em frente ao presídio. Por volta das 17h20mim, percebeu a aproximação de um suspeito.
“Eu vi ele conversando ao celular, e com uma bola e um capacete nas mãos. Estava um pouco escondido entre alguns carros. Creio que estava em contato com apenados”, conta o agente. Como a prática de chutar bolas de futebol “recheadas” para dentro de presídio é costumeira em Lajeado e na maioria das carceragens sem grade de cobertura nos pátios, ele tentou abordar o homem.
Ao avistar Bonet, o suspeito fugiu correndo. Na fuga, deixou a bola cair e tentou atingir o agente com um capacete. “Eu fui atrás dele e, na revenda de carros, quase na esquina com a Av. Benjamin Constant, ele soltou a bola. Ainda tentou chutá-la para que eu não a pegasse, antes de fugir. Fizemos contato com a BM e eles o prenderam na rodoviária.”
Dentro da bola, quatro celulares, dois carregadores e dois fones de ouvido. O preso foi identificado como Wagner dos Santos, 24 anos, ex-presidiário que havia sido posto em liberdade fazia pouco tempo.
Quando a agente voltou ao presídio com a bola “recheada”, um detento do regime semiaberto lhe avisou sobre uma outra bola, que havia sido jogada de dentro para fora do pátio. “A proximidade entre estes dois fatos, pela minha experiência, comprova que o suspeito flagrado do lado de fora estava em contato com os detentos. Era o momento que eles iriam trocar as bolas.”
Ainda de acordo com o chefe de segurança, todas as bolas que são chutadas para fora do pátio interno passam pelo aparelho de raio-x antes de serem devolvidas aos presidiários. “Mas, sem uma grade de proteção na cobertura do pátio, precisamos ficar sempre atentos para evitar que essas bolas sejam chutadas diretamente para dentro pelos criminosos.”

Drogas estavam dentro de uma bola. Troca ocorreria no futebol dos detentos
Cobertura por R$ 40 mil
O diretor do Presídio Estadual de Lajeado (PEL), David Horn, confirma a disponibilização, por parte da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Estrela, de R$ 42 mil para as obras de instalação de uma grade de cobertura sobre o pátio interno da casa prisional, semelhante àquele instalado na carceragem feminina. Entretanto, não há previsão para o início das obras.
Presidente da Associação Lajeadense Pró-Segurança Pública (Alsepro), Antônio Scussel confirma o recurso, mas não garante o início imediato das obras de gradeamento. Segundo ele, antes deste investimento, realizado em conjunto com Conselho da Comunidade Carcerária e Susepe, será necessário finalizar a primeira etapa da reforma do presídio.
Esta primeira fase da reformulação da casa prisional prevê a construção de um setor administrativo no local antes ocupado pelo semiaberto. “Estamos aguardando os projetos arquitetônicos, elétrico e hidráulico desta primeira parte. E depois faremos o resto, com suporte da Susepe. Se fizer agora (o gradeamento), redundaria em outra readequação logo mais adiante. Seria botar fora dinheiro”, afirma.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br