O clima favorável faz com que o estado projete uma das melhores safras de citros dos últimos anos. Os pomares de bergamota, laranja e limão estão carregados. A expectativa é de obter uma qualidade excepcional.
Produtora faz 40 anos, a família Bianchini, de Canudos do Vale, estima colher mais de 60 mil quilos de laranja (valência, bahia [laranja-de-umbigo] e charmute) e bergamota (morgote, ponkan e dekon).
Conforme Arlindo,75, a fruticultura foi uma opção para manter os filhos na lavoura. “Nossas terras são íngremes e portanto é inviável trabalhar a produção de grãos. As frutas se tornaram um excelente negócio”, afirma.
Com ajuda dos filhos Marciano, 48, e Márcio, 50, mantém oito hectares. A maior parte das frutas é classificada, polida e entregue in natura para mercados da região. O restante é destinado para uma fábrica de suco em Montenegro.
A qualidade das frutas é considerada excelente. “O frio ajudou para termos uma boa coloração, sabor e diminuiu a incidência de doenças”, comenta Márcio. Mas a falta de mão de obra inibe novos projetos de ampliar o pomar.
Outra dificuldade é a estagnação do preço e o aumento dos custos, como óleo diesel. “A média recebida por quilo chega a R$ 0,51 faz alguns anos, isso dependendo da qualidade e tamanho. Enquanto isso, nosso custo aumentou muito. Somos pouco valorizados”, desabafa.
Ampliação do pomar
O produtor Léo Tomazi, de Arvorezinha, comprou as primeiras mil mudas de laranja em 1995. “A ideia era fugir do cultivo de grãos, cujo preço varia muito. Deu certo e hoje temos 3,5 mil plantas”, conta. A mudança garantiu a permanência dos dois filhos na lavoura. “Vamos adquirir mais três mil mudas”, afirma.
Renato Dallagnol cultivou os primeiros mil pés de laranja faz 11 anos. A produção divide espaço com a erva-mate e os resultados são satisfatórios. “Se a fruta é bonita e sadia, sempre terá mercado”, garante. Ele pretende ampliar a área cultivada com variedades mais precoces.
A fruticultura envolve 165 famílias e ocupa 350 hectares no município. Conforme o técnico da Emater, Júlio Marcon, a atividade ajuda a diversificar a renda, antes dependente do tabaco, erva-mate e avicultura.
O surgimento de uma cooperativa, que integra 22 produtores, impulsionou e aprimorou o plantio de novos pomares. “O produtor busca se profissionalizar, melhorar o manejo, escolher variedades com procedência e com base na demanda do mercado. Para 2019 projetamos um aumento de 10% na área de laranja, o que é muito”, estima.
Mercado em consolidação
Conforme Derli Bonine, assistente técnico em Sistema de Produção Vegetal da regional da Emater de Lajeado, a expectativa é de uma boa safra. “Não faltou umidade e nem registramos eventos prejudiciais, como excesso de chuva, tempestades e granizo. Se isso persistir, teremos bons resultados”, projeta.
As temperaturas baixas, explica, são essenciais para tornar as frutas mais vistosas, com tons alaranjados. O maior risco aos cerca de 25 mil hectares de pomares no RS reside, agora, na possibilidade de geada, que deixa o fruto seco.
Acredita na consolidação do setor a curto prazo. “Prevemos aumento da área superior a 3 hectares. A atividade exige qualificação e necessidade de mão de obra conduz para mecanização, só viável em pomares maiores”, constata.
O investimento médio para instalação de um pomar chega a R$ 10 mil. Entre o plantio e a primeira colheita, são pelo menos cinco anos. Quando completa uma década, a produção está no auge. O Vale do Caí é o maior produtor de bergamotas, enquanto a Região Norte lidera a produção de laranjas.
Oferta é insuficiência
A produção de laranja para fabricação de suco é insuficiente para abastecer a indústria, o que obriga a importação de outros estados. Para Bonine, a presença de indústrias de suco de laranja e bergamota é importante, pois garante a venda de frutas não adequadas para o consumo in natura. “As miúdas, com defeitos e manchadas viram suco. As de melhor qualidade vão para os mercados”, diz.
Ele destaca a diversificação das variedades como uma forma de manter a estabilidade financeira, pois no ano em que uma produz menos ou o preço é menor a outra tem possibilidade de render mais ou a cotação ser melhor.
Ressalta a importância do beneficiamento da matéria-prima em agroindústrias familiares. “Valoriza a produção”, finaliza.