“A minha filha se abriu para o mundo”. Essa foi a primeira frase de Keide Wendt, 35, ao falar da experiência da filha Manuela, 5, com a equoterapia. Apresentando dificuldades na escola e no desenvolvimento da linguagem, a menina ensinou aos pais que a superação de obstáculos, amparada pelo amor, acontece todos os dias na rotina familiar.
Praticante de equoterapia faz cerca de seis meses, Manuela teve melhoras consideráveis no boletim. “As professoras apontaram que ela não reconhecia números e letras, mas com poucos meses de tratamento com a equipe da equoterapia, ela deu um salto nos resultados escolares”, afirma Keide.
Fisioterapeuta e responsável pelo Instituto Lado a Lado Equoterapia, Olga Bohn Martins conta que o trabalho é resultado da equipe formada por fisioterapeuta, educadora especial, psicóloga, terapeuta ocupacional, instrutor de equitação, médica veterinária e também pela escola e família. “O trabalho vai além de subir no cavalo e andar. Os praticantes têm atividades elaboradas pela equipe que se estendem a toda a nossa estrutura, explorando todos os sentidos e sentimentos da criança”, explica.
Inicialmente muito conhecido por auxiliar pessoas com problemas físicos oriundos de traumas na coluna vertebral e paralisias da mais diversas ordens, o tratamento ampliou a abrangência e mostrou ser muito eficaz também para transtornos mentais e comportamentais. “As crianças aprendem aos poucos a lidar com suas limitações, passando a superá-las em diversos casos”, diz Olga.
Superações
Um trabalho minucioso e subjetivo, a equoterapia atende desde as primeira limitações diagnosticadas por laudos médicos e relatos dos pais até os sinais apresentados na chegada do praticante ao instituto.
Já nos primeiros momentos a criança lida com o medo do desconhecido, passando aos poucos a interagir. “Guiar um cavalo gera confiança, autoestima, concentração e superação de obstáculos. Ali a criança está no comando e ela se sente desta forma, enquanto interage com os profissionais”, explica a fisioterapeuta.
A equoterapia acaba sendo um momento para toda a família acompanhar e se desligar do mundo digital. “Por ser uma atividade ao ar livre a criança acaba encarando como brincadeira. Isso favorece os bons resultados”, afirma Olga.
O Lado a Lado atende praticantes particulares e financiados por projetos sociais, entre eles, o fundo filantrópico do Sicredi e o governo de Cruzeiro do Sul. “Neste mês encerra o auxílio financeiro a essas crianças, então, estamos à procura de alguma entidade ou empresa que cumpra esse papel social”, conta.
Vitórias da Milena
Uma menina alegre e bastante agitada, Milena Kretchmann, 7, faz equoterapia há um ano e esboçou às câmeras do jornal um belo sorriso. Diagnosticada autista, com leve retardo mental e severo transtorno obsessivo compulsivo (TOC), é acompanhada de longe pela atenciosa mãe. “Quando ela tinha apenas 1 ano, eu já notava que era uma criança diferente. Alguns anos depois, buscamos mais informação e acabamos chegando aqui no Lado a Lado”, relembra Denise Isabel Kretchmann.
Com dificuldade de socialização, Milena começou a praticar a equoterapia e, segundo a mãe, já obteve resultados ainda nas primeiras sessões. “Hoje ela se relaciona melhor com todos à sua volta. Ela se sente mais livre para demonstrar carinho e ficou mais tranquila”, comemora Denise.
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Ao lamentar o fim da bolsa recebida pela filha, Denise não contém as lágrimas ao relembrar o trabalho realizado. “Eu não tenho nem palavras para descrever a melhora dela desde que começou na equoterapia. Sou muito grata a toda a equipe, que se envolveu, pesquisou e deixou a vida dela mais fácil. Agora ela até tem amigos”, agradece.
Amor por cavalos
Já familiarizado com os cavalos, Christian Jacobs, 37, teve paralisia cerebral e pratica a terapia faz mais de um ano. O pai, Gelsi Jacobs, 64, faz questão que o filho frequente o Lado a Lado. “Nós temos cavalo em casa e eu andamos com ele para que se exercite, mas percebo que é importante ele ter pessoas qualificadas envolvidas”, diz.
Já o pequeno Enzo Batista Weber, 7, vai à terapia para vencer os seus medos. “Ele tem diversos tipos de medo e, por indicação da escola, eu trouxe ele à equoterapia. Vi consideráveis melhoras”, observa a mãe, Sueli Batista, 38.
Apaixonado pelos cavalos, o menino abriu um grande sorriso assim que viu um. Ao perguntar se gostava da brincadeira, fez que sim em grande aceno com a cabeça e finalizou com um tímido abraço no Chokito, seu cavalo predileto.