Infraestrutura precária trava o desenvolvimento

Lajeado - Logística

Infraestrutura precária trava o desenvolvimento

Ricardo Portella Nunes abordou a falta de investimento em logística em reunião-almoço da Acil

Infraestrutura precária trava o desenvolvimento
Lajeado

Os entraves logísticos do país e do estado e as novas possibilidades de investimentos por meio de concessões privadas foram tema da reunião-almoço da Acil, realizada ontem. O palestrante foi o coordenador do Conselho de Infraestrutura da Fiergs, Ricardo Portella Nunes.

A presidente da Acil, Aline Eggers, abriu o evento ressaltando a relevância do tema logística para as empresas. Segundo ela, é muito preocupante que no Brasil ainda seja necessário brigar por coisas básicas, como fim dos buracos, duplicações, segurança e pedágios, enquanto outros países implantam rodovias inteligentes, com veículos autônomos e onde a velocidade não é problema.

Conforme Nunes, hoje a matriz de logística no país é 65% rodoviária, situação que piora no RS, onde 88% do transporte é feito por meio de estradas. Segundo o palestrante, essa situação faz com que tenhamos, por exemplo, o menor custo do mundo para produzir soja, mas um preço final menos competitivo no mercado internacional.

“Estamos extremamente atrasados até mesmo na América Latina, onde estamos à frente apenas da Bolívia e da Guiana”, afirma. Para ele, a falta de investimento em infraestrutura é resultado do inchaço do Estado brasileiro.

“Se nada for feito, até 2022 vamos gastar 100% do orçamento em previdência e funcionalismo”, acredita. Segundo Nunes, hoje o governo vive de pagar o passado e o presente, sem investir no futuro do país.

Investimentos na BR-386

O palestrante ressalta os investimentos previstos no projeto de concessão da BR-386, no trecho entre Canoas e Carazinho. Lembra que as empresas interessadas precisam comprovar um capital financeiro mínimo de R$ 500 milhões para dar garantia aos empréstimos que serão tomados para a realização das obras previstas.

Ao todo, aponta, serão 225,2 quilômetros de duplicações na rodovia da produção, que devem ser realizados do 3º ao 18º ano de concessão. Além disso, estão previstas faixas adicionais, vias marginais, acessos, interconexões, passarelas e passagens inferiores.

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Entrevista

“Se tivermos investimentos em infraestrutura, podemos crescer 6% a 7% ao ano”

A Hora – Qual o prejuízo por não termos os investimentos necessários em infraestrutura?

Ricardo Portella Nunes – Essa é uma pergunta difícil de responder. Estudo da Agenda 2020 apontou o impacto da BR-116 no custo da logística. Considerando somente o aumento da velocidade média dos caminhões e a redução do custo do frete, a duplicação toda se pagaria em dois anos e meio. Nesse estudo, não está o que a diminuição de frete causa lá na ponta em quem está produzindo. Certamente vai agregar novos produtores e entrar novas pessoas no mercado, resultando em uma redução de custos para toda a população. Quando investimos no setor, na década de 1970, crescemos até 9% ao ano. Se tivermos investimentos em infraestrutura, podemos crescer 6% a 7% ao ano.

O que é preciso para um melhor aproveitamento do Porto de Estrela?

Nunes – O Rio Taquari, como todos os outros rios, precisa de uma manutenção constante. Ele tem um derrocamento mais baixo que ainda não foi concluído. Mas tem calado de 3 metros, com meio metro de folga. São 2,5 metros e meio autorizado para o barco. Poderia ser mais profundo. Na minha opinião, é preciso fazer um contrato para manutenção e sinalização com alguma empresa privada que seja remunerada para manter esse calado. Tendo isso, já tem a possibilidade para operar. A partir disso, é preciso encontrar carga e barco. Acho que tem que se pensar em uma concessão para um parceiro privado que opere a logística aqui dentro. Tem futuro, acho um terminal válido e que traz progresso para a região toda.

Como conseguir mudar a cultura que impõe muitas restrições ambientais para obras de infraestrutura?

Nunes – Acho que já está mudando. Adotamos um modelo muito europeu de meio ambiente, enquanto o modelo americano é mais ágil e objetivo. Estamos evoluindo, mas isso passa pela questão política, cultural e gestão. Acho que a gestão evoluiu bastante com esse governo, com a secretária de Meio Ambiente, Ana Pelini. A Fiergs levou a secretária para ver como funciona a questão ambiental das hidrovias nos Estados Unidos. Ela se deu conta de que devemos trazer as indústrias de volta para o rio. Serviu para mostrar que é necessário reservar parte das margens para distritos industriais e complexos portuários.

Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br

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