Sozinhos em casa por longos períodos, os cachorros podem trazer prejuízos se não praticarem atividade física e sentirem entediados. Entre destruir o jardim, roer móveis e objetos da casa, um dos piores problemas para os cães ainda é a solidão, que pode gerar disfunções na saúde do animal.
Para solucionar esses problemas e evitar que os animais fiquem longos períodos sozinhos, foram criadas as creches para cachorros. Um movimento que é muito presente nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, chegou também em Lajeado.
Tutora da Chanel, uma cachorrinha da raça pug, Fernanda Renner, 25, descobriu na creche para cães uma maneira da mascote gastar suas energias e emagrecer. “A Chanel é louca por comida e acabou ficando obesa. Com as idas à creche, perdeu peso e está melhorando a qualidade de vida”, conta.
Chanel, a pug de Fernanda, vai à creche faz 10 meses
Há quase dez meses frequentando a creche, Chanel aprendeu a socializar com os outros animais e deixou de destruir os objetos pessoais de Fernanda. “Agora ela gasta as energias. Nos dias de creche, chega em casa e logo dorme. No dia seguinte, fica mais calma e menos entediada”, diz. A pug, muito carinhosa e curiosa, ganhou o coração das amigas de sua tutora. “Muita gente acaba se referindo a mim como a Fernanda do pug”, brinca.
As idas à creche renderam à Chanel uma amiga inseparável, a Phanpy, um buldogue francês. Ao ver as fotos na página da creche, Fernanda percebeu que a melhor amiga de sua mascote era, por coincidência, a cadelinha da sua colega de trabalho. “Tem vários pugs na creche, e quando tenho dúvidas de quem é a Chanel, é só procurar a Phanpy, ela vai sempre estar perto”, conta.
A tutora de Phanpy, Thaís Horst Capistrano, 21, conta que sempre teve paixão por animais. “A Phanpy é o amor da minha vida, estamos sempre juntas e posso dizer que temos sim uma relação de mãe e filha”, compartilha.
A decisão de levá-la à creche ocorreu quando Thaís percebeu que ficava muito tempo sozinha, fazendo com que Phanpy ficasse muito estressada e destruísse as coisas. “A escolinha foi a melhor coisa que apareceu para nós, porque antes a Phanpy passava o dia no apartamento e acabava aprontando bastante. Nunca gostávamos de deixar ela sozinha, íamos trabalhar com o coração apertado”, diz. A buldogue francês vai à creche três vezes por semana, durante o dia todo.
Após as idas à creche, Phanpy parou de roer os móveis
Creche em Lajeado
Trazendo a novidade para a região, as proprietárias do pet- shop e creche para cães Lavanderia do Bicho recebem até -20 cachorros ao mesmo tempo. Com técnicas de socialização entre os animais, ambientação e brincadeiras, a responsável pelas atividades dos cães, Michele Frantz, 33, conta que o cronograma da creche abre espaço para brincadeiras, alimentação e descanso. “Baseadas em creches de pets de São Paulo, montamos um playground com brinquedos para divertir os bichinhos. Afinal, se é seguro para crianças pequenas, também é para os nossos mascotes”, diz.
Para a também proprietária da creche, Jennifer Hunecke, 37, são três as principais necessidades dos cães: exercício físico, alimento e carinho. A socialização com outros cães na creche acaba facilitando os passeios na rua com o dono do animal. “Ele começa a se sentir confortável com a presença de animais estranhos e passa a atacar e latir menos para outros”, explica.
Mesmo com os benefícios atribuídos à creche, Jennifer frisa que o espaço não serve como adestramento. “Apesar de poder melhorar alguns aspectos do comportamento do cachorro, a creche é entretenimento e não substitui um adestrador”, enfatiza.
Michele conta que as necessidades de cada animal devem ser sempre respeitada. “Alguns bichinhos são mais introspectivos e preferem ficar mais isolados, entãom não os forçamos a nada. Aos poucos em com incentivos sutis, vamos tentando socializá-lo para que também se divirta”, explica.
Se por um lado alguns animais são tranquilos, os excessivamente agitados também precisam de atenção especial. “Aqueles que têm muita energia eu solto sozinho no pátio antes dos outros, para que ele corra e canse um pouco antes de interagir. é preciso equilibrar as energias entre eles. Caso contrário, ele pode acabar estressando os demais”, conta.
Pré-requisitos
Para efetuar matrícula na creche, o animal deve ter porte pequeno ou médio. “Os grandes necessitam de muito espaço e acabam estressando os menores. Por enquanto ainda não os atendemos”, esclarece Jennifer. Além disso, os eles devem estar vacinados, desvermifugados e não podem ter histórico de agressividade. Os machos precisam estar castrados e as fêmeas não devem ir à creche durante o período do cio. “São precauções que tomamos para que um cão não interfira na saúde do outro”, diz.
Nada de roer os móveis
De acordo com a médica-veterinária Bruna Mazzarolo, o exercício ajuda a regular o metabolismo dos cães, trazendo sensação de bem-estar. Fazer o cão gastar energia trará mais disposição, mandando embora a ansiedade e o tédio. “O acúmulo de energia, isolamento e a falta de atenção podem deixar o animal ansioso, ciumento e até mesmo agressivo”, diz.
Quando em contato com novos ambientes, o cachorro é capaz de ocupar sua mente e aprende a focar em brincadeiras que não sejam destrutivas nem para ele e muito menos para os móveis e objetos pessoais. “Um cão que passa muito tempo sozinho e sem distrações acaba ansioso e isso gera alterações comportamentais”, enfatiza.
Conforme a veterinária, a creche para cães proporciona estímulos que vão ao encontro das necessidades ligadas ao comportamento natural da espécie, como buscar, farejar, superar novos desafios, sentir diferentes cheiros e conviver com outros cães. “A socialização com outros animais é muito benéfica para a vida e saúde mental de seu cãozinho. Contudo é fundamental que o animal esteja saudável, com o protocolo vacinal e vermifugações em dia”, atenta.
