Telemensagens se reinventam para sobreviver

Vale do Taquari - Do fixo ao Whats

Telemensagens se reinventam para sobreviver

Homenagens sob encomenda resistem com apoio de carros de som e suporte das redes sociais

Telemensagens se reinventam para sobreviver
Vale do Taquari

Se pouco antes da virada do século, as telemensagens enviadas por telefone fixo estavam no auge, hoje as homenagens feitas por terceiros ganharam novos suportes e formatos para sobreviver à internet. Os textos são enviados por e-mail, os áudios são personalizados em programas que podem baixados a dois cliques, e é possível escolher entre o universo de músicas que a o mundo online oferece.

A função de intermediar o afeto alheio ocupa a rotina do lajeadense Vitor Alves, 36, desde 1999. Fundou a ‘Fala, Coração’ em uma época em que praticamente qualquer cidade tinha uma empresa com o nome de Tele Carinho, Tele Carinhos ou similar.

A maior do segmento chegou a ter seis ou sete funcionários, e não dava conta de atender à demanda. “Pegávamos o que sobrava”. As mensagens vinham gravadas em CDs, de São Paulo ou Rio de Janeiro. Como prova da entrega, a ligação era gravada e o cliente podia conferir a reação do homenageado, que virava um CD, entregue ao contratante.

Em 2002, Alves deu um tempo na atividade. Um dos principais motivos era a dificuldade em receber. Como a cobrança era feita após o serviço, muitos clientes mentiam o endereço ou nunca estavam em casa. “A partir das terceira vez que íamos cobrar, já era prejuízo”. Foram oito anos até retomar a Fala, Coração, em 2011.

De volta à ativa, percebeu que as mensagens por telefone já não eram eficientes, já que o aparelho fixo não era mais tão usado. As ligações para os móveis tinham interferência e ruídos, e muitas vezes as pessoas não podiam atender por estarem trabalhando ou dirigindo. “Daí eu tinha que retornar a ligação, o que gerava mais custos”.

Foi nesse cenário que ele começou a produzir a ‘whatsmensagem’. Em uma saleta que serve como uma espécie de estúdio, na própria casa, no Jardim do Cedro, grava mensagens com textos geralmente enviados pelo freguês. O cliente também escolhe o fundo musical e define a hora de envio – que também é feito para o número do contratante. Esse modalidade custa R$ 30.

Outra opção, desenvolvida para o público de comunidades distantes, é o CD Mensagem. O locutor grava a mensagem personalizada entre músicas selecionadas. Esse serviço sai por R$ 50, com CD incluído. Geralmente, quem quer homenagear toca a trilha em uma passeio de carro com a pessoa querida.

Noivado e velório 

Apesar da praticidade – e de causar menos constrangimento – , as mensagens ao vivo, com carro de som, sempre foram o produto mais expressivo da Fala, Coração, desde sua criação.

Quando um Kadet se aproxima tocando a música Era/Divano, os vizinhos já sabem que alguém está de aniversário – celebração mais pedida. A música erudita é seguida do hit para a data do Musical JM. Dali, Alves improvisa o discurso de acordo com o clima da festa. Mas nem sempre tudo sai bem.

Desde 1999, Silva percorre o Vale declamando mensagens com carro de som

Desde 1999, Silva percorre o Vale declamando mensagens com carro de som

Um desses casos foi um pedido de casamento em que a mulher não respondeu nem que sim, nem que não. O namorado preparou a surpresa em frente ao local de trabalho da amada, pendurou um banner com a foto do casal no carro de som e distribuiu folders sobre o romance aos convidados. Diante do pedido, a mulher se calou. “Eu li a declaração com a música Quer Casar Comigo de fundo. Ele se ajoelhou e ela ficou muda”.

Outra ocasião foi durante um enterro. As filhas escreveram a mensagem e Alves ficou esperando no cemitério. Quando o veículo fúnebre chegou, tiraram parte do caixão e ele declamou os dizeres, ao som de músicas sobre despedida. Também foi chamado para o velório de um cliente fiel que enviada mensagens para várias pessoas. “Nessa, gravei. Não ia conseguir falar na hora”.

Traduzidas ao vivo

Claudiomiro Silva é dono da voz à frente da Para Falar de Amor, de Estrela. Desde 1999, percorre o Vale “unindo pessoas”. Por 13 anos, foi contratado na Do Coração, na mesma cidade.

Segundo ele, o serviço ainda é muito procurado. Apenas no Dia das Mães, fez 19 mensagens ao vivo com carro de som. (Em Estrela, cobra R$ 70; em Lajeado, 75). Cita também o caso de uma filha que, até os 15 anos, recebeu uma mensagem a cada aniversário.

Muitos casais formados por seu trabalho o reconhecem até hoje. Inclusive, um jovem que começou a cortejar a atual namorada quando ainda morava com outra. “Tem vários assim. Até hoje ele passa por mim e só dá uma risadinha”.

Para dar mais originalidade à entrega por telefone, Silva começou a fazer o que ele chama de mensagens traduzidas ao vivo. Ou seja, dramatiza os textos enviados pelos clientes, na hora, por telefone, aos homenageados. Basta sentar à frente do computador, com acesso ao e-mail e à música. O serviço custa entre R$ 15 e R$ 18 para ligações locais. Para o Dia dos Namorados, tem 32 agendadas. “Acho que nasci com o microfone na mão”.

Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br

 

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