Mais de 20 mil moedas compõem o acervo de Cláudio Souza da Silva, 46. O padeiro de Fazenda Vilanova guarda nos fundos do estabelecimento meia tonelada de relíquias que ajudam a contar a história do país. Acumuladas faz cerca de 12 anos, as preciosidades têm valor inestimável, despertam o interesse de leigos e causam inveja em outros colecionadores.
Réis, cruzeiros, cruzeiros novos, cruzados, cruzados novos, cruzeiros reais, reais da primeira e da segunda família. Amostras de centenas de variações de todas as unidades monetárias que circularam no Brasil estão nas caixas e cestos de Silva. O exemplar mais antigo data de 1645, do período colonial. Além das nacionais, há moedas de cerca de 250 países.
Hoje especialista em numismática (prática de colecionar moedas), Silva conta que passou a se dedicar à catalogação do material faz cerca de dois anos. Com alguns exemplares etiquetados, outros em pastas, arquivos e guardadores especiais, ainda há muito para organizar. Como plano futuro, o colecionador pretende abrir um canal no youtube para falar sobre a arte.
A maioria das moedas vem de trocas, doações, leilões e compras simples. Muitas também foram encontradas ao acaso, solicitadas a órgãos internacionais, como consulados ou embaixadas, e recebidas de presentes. Silva tem um detector de metal, com o qual se dedicava a procurar exemplares perdidos na rua, em terrenos ou na praia, quando era mais jovem.
“Eu sempre gostei de coisas antigas. Quando era novo, saía para o meio do mato com o detector, ia em casas abandonadas à procura de objetos”, revela.

Entre as mais de 20 mil moedas, estão exemplares do século XVII
Troca de vícios
O costume de colecionar começou cedo. Na década de 1980, aprendeu na escola a solicitar, via correio, materiais de divulgação turística de diferentes localidades. Fotos, selos e outros materiais eram armazenados no quarto. No início da vida adulta, porém, a atividade foi deixada de lado, e um hábito perigoso surgiu: o alcoolismo.
A salvação viria em 2006, quando vídeos na internet, pesquisas e curiosidades sobre coleções, dos mais variados objetos, despertaram o interesse de Silva e o fizeram imergir no universo das moedas. No primeiro momento, as contemporâneas eram o foco. Depois, apareceram as mais antigas e as internacionais.
O fascínio pelas peças metálicas ganhou força e começou a disputar com os outros vícios. “Deixei de lado a bebida para me dedicar somente às moedas. Por meio da numismática, eu consegui parar com o álcool”, afirma.

(SEM LEGENDA)
Palavra de especialista
Alguns fatores são determinantes para a moeda virar alvo da cobiça de colecionadores. A data da emissão e a quantidade de cunhagem (quantas foram colocadas em circulação) são os primeiros aspectos a considerar. Uma moeda com menos de 30 milhões de exemplares já é considerada escassa, explica Silva.
Edições comemorativas, em homenagem a alguma personalidade, alusivas a eventos, como Copa do Mundo ou Olimpíadas, são lançadas em quantidades menores. Uma das preferidas de Silva é uma moeda de R$ 1, de 1998, do cinquentenário da Declaração dos Direitos Humanos. Desse tipo, existem apenas 600 mil no país.
Segundo ele, a maioria das pessoas não percebe elementos que podem agregar muito valor a uma simples moedinha. Se houver alguma falha ou erro de cunhagem, se o verso estiver em um ângulo diferente em relação à frente, a peça fica mais importante no mundo dos colecionadores. Até mesmo as alterações e falsificações têm relevância.
Nos leilões que participa, há lances que chegam a R$ 1 mil por apenas uma moeda, comenta. Em atividades profissionais promovidas em congressos de numismáticos, porém, os valores podem alcançar até R$ 80 mil.
Para faturar com a venda de moedas raras, contudo, é preciso ser conhecido pelos colecionadores, que formam uma espécie de “rede de proteção” contra roubos ou furtos. “Nesse meio, ninguém compra nada sem saber a verdadeira procedência”, salienta Silva.
Outra curiosidade da numismática que ele destaca é o fato da limpeza das moedas ser proibida. As sujeiras e marcas da circulação ajudam a preservar a história de cada unidade.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br