“Meu pai foi torturado durante a Ditadura”

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“Meu pai foi torturado durante a Ditadura”

Odith Leão é esteticista, 45 anos, natural de Uruguaiana e mora em Lajeado. O pai dela, Antônio Carlos Palermo Leão, foi torturado durante o regime militar. • Como foi o período do regime militar para a sua família? Eu nasci em…

“Meu pai foi torturado durante a Ditadura”

Odith Leão é esteticista, 45 anos, natural de Uruguaiana e mora em Lajeado. O pai dela, Antônio Carlos Palermo Leão, foi torturado durante o regime militar.
• Como foi o período do regime militar para a sua família?
Eu nasci em 1972 e, segundo relatos da minha mãe, os anos entre 1964 e 1968 foram traumáticos. Era muita insegurança e estresse. Pois chegavam militares e levavam meu pai, sem motivos para tal. Os períodos de prisão levavam dias, semanas, até meses. Sem que fosse dada qualquer satisfação ou informações sobre o local onde ele estava preso. Visitas, nem pensar.
• O que levou ele a ser considerado inimigo do regime?
Pelo que me falaram, pois ele nunca foi processado formalmente ou indiciado, por ser do PTB, brizolista, ser chefe de gabinete do então prefeito de Uruguaiana, Isabelino Abade, e de ser responsável por, clandestinamente, colocar no ar alguns discursos de Leonel Brizola. Especificamente, no golpe de março de 64, a prefeitura de Uruguaiana foi cercada por militares, que prenderam prefeito e secretários. Só reapareceram 20 dias depois. Neste período, sofreram, nas mãos dos militares, o “tratamento de praxe”, com inquisições e torturas. Outros mais, outros menos. Inclusive o comandante militar na época, em Uruguaiana, que efetuou as prisões dos “inimigos” do regime ditatorial que se instalava, era tenente coronel e, hoje, é o vice-prefeito da cidade.
• Quais as suas lembranças deste período?
As dificuldades econômicas da minha família, e uma discriminação por parte dos vizinhos, por meu pai ser tachado como “subversivo”, o que gerava restrições a toda a nossa família.
• E como você observa todas estas manifestações populares solicitando a volta do regime militar?
Eu fico perplexa. Não é possível que tenhamos esquecido o que é não ter o direito de ir e vir. O que é não ter o direito à liberdade de expressão. O que era a supressão da nossa constituição. Esse assunto da possível volta dos militares, não deveria jamais passar na cabeça de nós, brasileiros. Quanto mais, expressá-lo de tal forma.
• E qual a sua posição acerca da greve dos caminhoneiros?
A greve é justa, e não deveria ser apenas dos caminhoneiros, mas, sim, de todos. No entanto, temos que aprender a viver sob uma democracia. Mesmo que essa esteja sendo mal versada pela maioria dos nossos políticos. A nossa arma para mudar será o voto. Quando teremos a oportunidade de mudar a fotografia de nossos dirigentes.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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