Fila com mais de 40 veículos para abastecer nos postos de combustível se estendiam por mais duas quadras ou contornavam as esquinas das principais ruas de Lajeado, nessa sexta-feira.
Para chegar até a bomba, motoristas enfrentavam, em média, uma espera de 20 minutos. Dos 15 postos visitados pela reportagem do Jornal A Hora, quatro estavam fechados e 11 funcionavam.
Às 8h30min da manhã, um posto recebeu 8 mil litros de gasolina. Passadas menos de três horas, estava vazio.
“Deve ter passado mais de mil carros nessa manhã aqui”, comenta o gerente Armindo Junior Guadaim, 36. Segundo ele, o ponto vende em média 10 mil litros por dia. O número registrado na sexta-feira lhe surpreendeu.
Quem circulou na manhã dessa sexta-feira pelas ruas de Lajeado, sentiu a diferença dos veículos que ficaram na garagem, sem combustível, durante a greve, voltarem a circular. As avenidas dividiam espaço entre as filas para abastecer e o fluxo dos automóveis.
A advogada Manuela Munhoz, que mora no Centro, conta que durante a greve ficou sem combustível e que aproveitou o reabastecimento para encher o tanque.
Prevenir
Com dois veículos na garagem, o aposentado Sérgio Braga, 69, foi a procura de combustível para o seu carro e o do filho, que mora com ele no bairro Campestre.
“Durante a greve só tive gasolina para dar a volta na quadra”, brinca. Segundo ele, o protesto demorou tempo de mais para acabar. “Deveria ter sido só uns quatro ou 5 dias. Aí o governo já sentiria e a população não seria tão prejudicada”, sugere.
Temendo uma nova onda de manifestações e greve, motoristas que tiveram feriadão aproveitaram a folga para encher o tanque dos veículos.
Foi o caso do representante comercial Sidney Hofmann, 60, que durante a greve teve que deixar de trabalhar, devido a falta de combustível. “Deixei de fazer muitas viagens importantes em função destes protestos. Quero voltar para a estrada. Tá todo mundo falando que segunda-feira vai voltar a ficar sem gasolina”.
Empresário responsável pelo abastecimento de mais de 200 postos no Estado, Elisandro Eckerdt, 44, garante que todos os postos dos quais é proprietário já receberam combustível, porém “não há como saber quais ainda tem disponível para comércio”.
Etanol
“Ficar na fila não garante que você vai conseguir abastecer”, diz um frentista a um motorista em um posto no bairro Universitário. Com a alta procura, os postos reabastecidos logo ficavam limitados apenas a demanda de Etanol.
Para o geólogo Cristiano Danielli, 38, que aguardava na fila, o uso de etanol deveria ser mais incentivado por parte do governo. “O álcool tem produção descentralizada, polui muito menos e aumenta a potência e a durabilidade dos veículos”, justifica. Ainda segundo ele, esta falta de procura pelo etanol ocorre devido a falta de conhecimento acerca dos benefícios do combustível e por ser economicamente menos vantajoso para o governo.
Outros municípios
O retorno do abastecimento de combustíveis também levou centenas de pessoas aos postos de outros municípios.
Sem gasolina desde quarta-feira, Boqueirão do Leão um dos três postos de combustível recebeu 10 mil litros de gasolina na quinta-feira. Limitado a 20 litros por veiculo, o dono do posto confirma que cerca de 500 automóveis foram abastecidos durante o dia.
“Trabalhamos intensamente para atender a demanda. Tivemos de limitar o abastecimento. A procura pelo óleo diesel não foi tanta”, conta Joel André Conte, gerente do posto. De acordo com Conte, a falta de gasolina deve-se ao racionamento dos pedidos na refinaria em Canoas.
“Falta álcool anidro para misturar na gasolina e por isso a demora em liberar caminhões e fornecer a quantidade do pedido. A previsão é de recebermos mais combustível no sábado”, diz.
A reportagem ligou para postos de gasolina de Putinga, Marques de Souza, Mato Leitão, Encantado, Nova Bréscia, Pouso Novo, Colinas, Westfália, Imigrante e Poço das Antas, em todas as cidades a situação foi a mesma: os estabelecimentos receberam uma determinada quantia que logo encerrou. Alguns receberão nesse fim de semana, outros aguardam até segunda e terça-feira.
A situação em todos é unânime: na próxima semana deve normalizar.
Ameaça de nova greve preocupa
Em grupos de WhatsApp circula mensagens com informações do retorno da greve dos caminhoneiros nesta segunda-feira.
Verdade ou não, num dos textos que viralizam pela rede social, a notícia é de que “líderes dos caminhoneiros avisam e pedem para todos os cidadãos brasileiros estocarem alimentos em casa e encherem o tanque dos seus carro. Pois o governo veta as ‘proposta’ feita por presidente e nova paralisação vai ser feita junto com toda população brasileira”.
A ameaça desta suposta nova greve iniciaria na noite domingo para segunda-feira.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br