Comerciantes, agricultores, motoboys e uma série de outros trabalhadores reforçaram as mobilizações dos caminhoneiros. Protestos ocorreram em Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Teutônia, Encantado, Marques de Souza, Travesseiro e Progresso.
Em Brasília, o presidente da República segue negociando uma saída para o caos iminente. No domingo, enquanto centenas de pessoas se uniram aos manifestantes em pontos de Lajeado, Estrela e Arroio do Meio, Michel Temer anunciava a redução de R$ 0,46 por litro de diesel para tentar por fim à greve dos caminhoneiros. O barateamento, conforme anunciado pelo ministro da Fazenda, Eduardo Gardia, virá de subvenção e corte da Cide e do PIS-Cofins.
O impacto sobre as contas públicas será de R$ 9,5 bilhões.
Nenhuma das medidas parece, entretanto, ter surtido efeito sobre os manifestantes. Ontem todos os pontos de paralisação de caminhões no Vale continuavam sob o domínio dos caminhoneiros. E, assim como no sábado e no domingo, com intenso apoio popular.
Em Arroio do Meio, quase mil pessoas participaram de uma caminhada que partiu do centro até o ponto de interdição da ERS-130. Lá, bloquearam a via por cerca de meia hora e depois seguiram até a frente da prefeitura, onde entoaram o hino nacional. “Eu não sou caminhoneiro, mas vim dar uma força. Compreendo que a luta é de todos. Meu carro está em casa, quase parado. Só tenho meio tanque e evito passear”, resume o coordenador de máquinas, Darci Obermeier.
Em Teutônia, a RSC-453 ficou interditada pelos manifestantes durante 15 minutos.
De acordo com as polícias rodoviárias Federal e Estadual, a região ainda tem protestos na BR-386, em Lajeado, e no acesso ao Posto Superporto, em Estrela; no quilômetro 69 da ERS-129, em Encantado; ERS-129, no Posto Sander, em Muçum; na ERS-130, em Arroio do Meio; na ERS-436, em Taquari; na RSC-287; na RSC-453, em Cruzeiro do Sul; Posto Rota do Sol, em Teutônia; ERS-129, em Roca Sales; ERS-332, em Arvorezinha e em Doutor Ricardo.

Na ERS-130, em Arroio do Meio, grevistas receberam apoio de centenas de moradores na tarde de ontem e também no sábado. Grupo não aceita a redução proposta pelo governo
Mobilização em Encantado
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) chamou os associados para uma caminhada em apoio à manifestação dos caminhoneiros como forma de protesto contra a alta carga tributária no país. Das 15h às 16h o comércio local fechou as portas e todos se juntaram em um ato na Praça da Bandeira.
Pelos cartazes, pediam a redução dos impostos, a extinção da corrupção e melhores condições de vida à população foram o foco da manifestação. Cerca de mil pessoas estiveram no ato, conforme informações da CDL.
Para o presidente da câmara, Marcelo Peretti, a mobilização foi positiva. “Foi surpreendente. Todo o comércio se mobilizou. Foi uma caminhada pacífica. O povo está revoltado com tantos impostos”, comenta.
Para o empresário Diogo Fontana, o ato foi um pedido de mudança da CDL e dos comerciantes. “Não é só o óleo diesel, ninguém aguenta mais pagar tantos impostos. Acreditamos que podemos mudar o Brasil”, diz.
Ao longo da caminhada, todos cantaram o hino nacional. Pessoas que estavam nas calçadas aplaudiam os manifestantes e se juntavam ao grupo. Também motoristas, com carros, motos e caminhões se juntaram à manifestação com bandeiras e buzinaço.
Boqueirão do Leão e Progresso
Por uma hora, o comércio de Boqueirão do Leão e Progresso fechou as portas. A mobilização foi organizada pela CDL.
Em Progresso o ato ocorreu na primeira hora da tarde com caminhada pelo centro. Gioni Agostini, presidente da CDL, fala que houve mobilização não apenas dos associados. Diz ainda que a luta também é pela redução do valor da gasolina e impostos. “Tudo aumenta com os reajustes dos combustíveis. O Brasil precisa mudar muito. Trabalhamos para o governo fazer o que quer com nosso dinheiro”, destaca Agostini.

Na BR -386, em Estrela, manifestantes permanecem instalados na entrada do posto Superporto faz oito dias. Mais pessoas aderem ao movimento
Já em Boqueirão do Leão, os comerciantes suspenderam as atividades às 16h. Na pauta da mobilização, não apenas o apoio aos caminhoneiros. Délcio Dreissig, presidente da CDL, destaca que são contra a cobrança exorbitante de impostos, a roubalheira na política e pedem a conclusão de obras importantes – como a ERS-421.
Faixas pediam ainda a renúncia do presidente Michel Temer. “Ele deveria renunciar, pois perdeu toda a credibilidade”, diz o advogado José Ghisleni. Incentiva a mobilização nacional e apoia a greve dos caminhoneiros até uma resposta eficaz e confiável do governo federal. “Lamento que muitos setores terão prejuízos, a exemplo da agricultura”, completa Ghisleni.
Desabastecimento e leite no chão
Sem a liberação dos caminhões de cargas nas barricadas armadas nas principais vias da região, o desabastecimento de combustível compromete uma série de serviços e também o setor da alimentação. E não há previsão para a chegada do produto nas bombas. “Estamos sendo hostilizados por alguns motoristas impacientes”, diz um frentista do Posto do Arco, em Lajeado, local que ainda tem gasolina, mas só para carros da polícia, ambulâncias e afins.
Em Teutônia, explica o secretário de Agricultura, Gilson Hollmann, as cooperativas estão com dificuldades de abastecer com ração as granjas associadas. “A informação que chegou até o poder público é sobre recomendações de cooperativas, para que produtores emprestem ração para vizinhos. Ou seja, para realmente existir cooperativismo neste momento de dificuldades.” Em outras cidades, cargas são escoltadas até as propriedades rurais.
Já em Forquetinha, o drama de alguns produtores é ainda maior. Na sexta-feira passada, Ricardo Bauer, morador da localidade de Arroio Abelha. jogou exatos 161 litros de leite no chão. “Não chega a ser um rombo. Mas, se tivesse comercializado, seria suficiente para encher todo o tanque do meu trator”, resume. Nessa segunda-feira, ele conseguiu comprador para o produto e vendeu 219 litros para uma empresa local de queijos.
Alimentos
Nos principais supermercados da região, a paralisação dos caminhoneiros vem agravando a escassez dos estoques. No Imec de Lajeado, por exemplo, a Analista de Comunicação da empresa avisa que o empreendimento trabalha “dentro das possibilidades reais para atender os clientes.” Cita não haver falta de produtos específicos, porém de “algumas linhas de produtos, como laticínios, hortifrúti e alguns tipos de carnes.”
Mercados menores apresentam mais dificuldade para oferecerem alguns produtos. Para amenizar os problemas, os empresários da área se desdobram. José Renato Hauschild possui uma fruteira na Av. Benjamin Constant, no centro de Lajeado. Costumava viajar todos os dias até Porto Alegre para comprar frutas, legumes e verduras. “Agora, estou procurando produtos mais caseiros, na Serra e pelo interior, por onde posso evitar as paralisações”, afirma.

Fruteira em Lajeado comprava itens de Porto Alegre. Agora proprietário corre o interior do Vale do Taquari
Desabastecimento na região alta
Desde a noite de quarta-feira, dia 23, falta combustível nos postos de Boqueirão do Leão. O taxista Neco Pontin diz que deixou o carro parado por não haver condições de trabalhar. “Tenho apenas alguns litros no tanque, o que inviabiliza as corridas. Mesmo acabando com a greve, deve levar cinco dias até normalizar o abastecimento por aqui”, comenta.
Nos mercados em Boqueirão do Leão começam a faltar frutas e verduras. Desde a sexta-feira praticamente não há reposição. Jéssica Diedrich, empresária do setor, conta que não há motivo para pânico.
“Por enquanto não precisamos nos preocupar na questão de alimentos. Ainda há bastante no estoque, com exceção de frutas e verduras”, revela Diedrich. Conforme levantamento da CDL o maior problema no momento é em relação aos combustíveis. Apenas veículos de emergência conseguem abastecer.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br | Colaboração: Gisele Feraboli e Felipe Neitzke