Por meio da imposição. A decisão anunciada pelo presidente Michel Temer cria um cenário imprevisível. Sem poder de negociação, decreta o uso dos militares para garantir o abastecimento da nação.
Entre aplausos e vaias, a intervenção amplia o regime de exceção no país. Um movimento arriscado, mas previsível, ainda mais devido aos acontecimentos da noite de quinta-feira. Supostos líderes dos movimentos se reuniram com o alto escalão do Planalto. Na saída, anunciaram uma trégua de 15 dias. Ledo engano.
Pelo país, muitos veículos de imprensa, em especial os jornais, trouxeram como chamada principal a suspensão da greve. Embarcaram no balão e chegaram às bancas desatualizados. O governo esqueceu de chamar para o debate os motoristas autônomos.
Por desconhecimento ou de forma proposital, tomou uma meia-verdade como fato. Sem incluir grande parte dos manifestantes, fez um acordo com o roteiro acertado com os patrões. A intervenção estava escrita naquela noite. O anúncio da “trégua” tinha como objetivo garantir o ar de legalidade para a chamada das forças de segurança. Do dia para a noite, os manifestantes se transformaram em radicais.
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Em um movimento heterogêneo, sem bandeiras partidárias, com reivindicações amplas e por vezes conflitantes, há manifestantes favoráveis à intervenção militar e que agora serão retirados das estradas justamente por aqueles que defendem. Um paradoxo estupendo.
No país onde grupos pregam o liberalismo ao mesmo tempo em que querem a regulação estatal no preço dos combustíveis e incentivos públicos para investimentos, tem-se uma ideia da dificuldade de compreensão sobre as diferentes políticas econômicas.
De mais claro nesta greve, está a insatisfação em relação ao preço do diesel. Como dito neste espaço na edição dessa sexta-feira, o governo não dimensionou o poder de mobilização dos caminhoneiros. As reivindicações de redução da carga tributária sobre os combustíveis, tipificada pelo cerne do problema – a política de preços da Petrobras – atinge toda a população. Esse foi o motivo para tamanho engajamento popular. De tudo o que está posto, ficam mais dúvidas do que certezas. Como será à saída das rodovias? Sem conflitos ou os manifestantes vão pagar para ver?
Editorial
Liberação à força
Por meio da imposição. A decisão anunciada pelo presidente Michel Temer cria um cenário imprevisível. Sem poder de negociação, decreta o uso dos militares para garantir o abastecimento da nação. Entre aplausos e vaias, a intervenção amplia o regime de…