Negociar com o desconhecido

Editorial

Negociar com o desconhecido

O presidente Michel Temer não dimensionou a força da mobilização dos caminhoneiros. Neste quinto dia de greve, a força do movimento para o país. Municípios decretam emergência, serviços básicos são ameaçados, escolas suspendem aulas e mercados começam a sentir a…

O presidente Michel Temer não dimensionou a força da mobilização dos caminhoneiros. Neste quinto dia de greve, a força do movimento para o país. Municípios decretam emergência, serviços básicos são ameaçados, escolas suspendem aulas e mercados começam a sentir a falta de abastecimento. Tateando no escuro, o governo bate cabeça e descobre outra força autônoma: o presidente da Petrobras.
De surpresa, o mandatário da maior estatal do país, Pedro Parente, reduz em 10% o litro do diesel na refinaria. Passava das 20h dessa quarta-feira. Minutos antes, o chefe do Planalto havia pedido uma “trégua” aos manifestantes para tirar o clima de que as bases da República desmoronavam. Propôs levantar uma bandeira branca como forma de tranquilizar os ânimos e, assim, ter um ambiente propício para debater e chegar a uma solução viável.
Enquanto o presidente esperava sentado, a Petrobras criou o fato novo. Parente suplantou Temer. Com mais agilidade e destreza política, decidiu. Por 15 dias, a tendência é de uma redução de R$ 0,25 no preço do diesel na bomba. Insuficiente para desmontar as barricadas.
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Com um movimento em que é difícil encontrar líderes, a negociação ocorre no escuro. Acertar com presidente da associação dos motoristas talvez não seja garantia para a saída dos caminhões da beira das estradas. Apesar disso, engana-se que pensa não haver células mestras de todo o protesto. Por trás dos caminhoneiros autônomos, há conglomerados e grupos que agem na surdina. Desconhecidos do público, mas influentes no sistema.
A pergunta na capa da edição de hoje está na boca de todos os brasileiros e a resposta, outra interrogação. Há um indicativo de que, com a aprovação dos projetos para desonerar o diesel do Pis-Cofins e da Cide e a consequente publicação no Diário Oficial, a manifestação possa ser suspensa.
Enquanto isso, no mercado internacional, as ações da Petrobras despencam. Com o cenário de lockout, o assunto privatização da Petrobras se fortalece. Sem entrar no mérito dessa atitude, se é válida ou não, a sociedade precisa ligar o alerta. Será que o propósito de tudo isso não é justamente o desmonte da estatal para favorecer acionistas e facilitar um acordo com investidores internacionais? Outra resposta que só será conhecida na próxima temporada da política nacional.

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