Aqui também se faz cachaça

Arte e prazer

Aqui também se faz cachaça

Produção em alambique atrai visitantes ao interior de Arroio do Meio, no Roteiro Caminhos da Forqueta

Aqui também se faz cachaça

“Meu pai diz que a cachaça faz mal duas vezes: quando a gente não toma e quando toma demais.” Quem fala é o agricultor Jorge Maders, 55, cujo sobrenome batiza o alambique localizado em Forqueta, em Arroio do Meio. A bebida artesanal é produzida a partir da cana cultivada em oito hectares da propriedade.

O modelo de fabriqueta caseira começou com o patriarca Etiyma Maders, 77, que hoje reside próximo ao local. Foi ele quem ensinou a técnica ao filho.

Durante muitos anos, Jorge foi integrante de bandas da região – Expresso, Os Leais e Vida Alegre. Mesmo com fins de semana agitados com apresentações e ajudando no trabalho do pai, o baterista se orgulha de não ter tido “porre de cachaça nenhuma vez”.

Hoje à frente da produção, ele sempre avisa: “a cachaça é uma droga como pode ser um remédio. A pessoa tem que saber usar”. Para Maders, o filho, a purinha deve ser apreciada antes das refeições.

Ao mês, a família produz cerca de 16 alambicadas, equivalente a mais ou menos 450 litros de cachaça. Após colher e moer a cana, o caldo passa pela fermentação, que nestes dias de frio dura cerca de 30 horas. A etapa seguinte é a destilação, em que o álcool é separado da água.

Jorge Maders aprendeu a fazer cachaça com o pai, Etiyma Maders, que ainda mora ali perto

Jorge Maders aprendeu a fazer cachaça com o pai, Etiyma Maders, que ainda mora ali perto

Em síntese, o álcool evapora e depois é condensado, dando origem à bebida. Como o equipamento é antigo e não tem controlador de temperatura, Maders monitora o processo no olho.

Os primeiros dois litros extraídos, explica, formam a ‘cabeça’ da bebida e não servem para consumo humano – ele aproveita apenas para ‘fazer fogo’. O mesmo ocorre com a parte final, chamada de ‘cauda’. A partir do terceiro litro, se tem o ‘coração’, ou seja, o líquido ideal para apreciação, que será armazenado em pipas de madeira.

A guarda dura, em média, oito meses. Na produção dos Maders, há três “sabores” de pipas: de carvalho, de cabreúva e de grápia. A embalagem de dois litros das duas primeiras custa R$ 20, enquanto a terceira sai por R$ 18.

Enquanto ele está mais voltado à produção da pinga, a mulher, Lônia Maria Maders, 54, comanda a fabricação de licores à base de frutas colhidas pela família.

O preparo é simples. O fruto é colhido quando está bem maduro e armazenado mergulhado em cachaça, dentro de um frasco de vidro. Após oito dias nessa conserva, o líquido ‘rouba’ o sabor da fruta. Depois disso, a agricultora coa a cachaça que, misturada a uma porção de açúcar, se transforma em um caldinho mais doce e saboroso.

A agricultora Lônia Maders ajuda o marido a tocar a propriedade. É ela quem produz os licores com frutas cultivadas pela família

A agricultora Lônia Maders ajuda o marido a tocar a propriedade. É ela quem produz os licores com frutas cultivadas pela família

Em cima de um barril de madeira, as pequenas garrafas preservam as doses que são servidas como degustação aos visitantes. Há sabores para todos os gostos – e épocas do ano: como uva, abacaxi, hortelã, pitanga, goiaba, anis-estrelado, canela, amora, groselha, jabuticaba, laranja, pêssego e morango.

Maders lembra que, ao assumir o alambique do pai, nos anos 2000, existiam diversos pela região. Porém a falta de sucessores fez com as produções familiares se encerrassem. Pai de duas filhas, conta com a ajuda das meninas e dos genros para dar continuidade à tradição cachaceira que se tornou um ponto turístico do interior do Vale.

A saber: além de experimentar cachaças e licores, os visitantes do Alambique Maders ainda são convidados para um divertido passeio de balanço – brinquedo instalado em uma árvore “gigante” e que tem atraído muitos adultos.

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