Nova alta provoca reação nas estradas

vale do taquari - preço dos combustíveis

Nova alta provoca reação nas estradas

Com 11 aumentos em 17 dias, governo estuda redução de impostos. Caminhoneiros de todo o país se mobilizaram contra a definição de preços da Petrobras que resultou em quase 60% de aumento na gasolina e no diesel em menos de um ano. Na região, ocorreram atos em Taquari, Paverama e entre Lajeado e Estrela. Conforme a estatal, alta é provocada pela cotação internacional do petróleo e do dólar. Congresso nacional e o presidente Michel Temer avaliam mudança temporária na carga tributária.

Nova alta provoca reação nas estradas
Vale do Taquari

Caminhoneiro faz 50 anos, Osmar Darci Prass, de Lajeado, descreve o contexto político-econômico como causador do pior momento da classe no país. Para ele, a “taxação do diesel” é a forma usada para, em de vez de consertar as estradas, “fechar o caixa” do governo federal, deficitário por outros motivos, como o “saque” da Petrobras e “outras confusões”.

Conforme Prass, o país errou no passado ao “apostar todas as fichas” no modelo rodoviário, sem considerar os sistemas hidroviário e ferroviário. Hoje, o excesso de veículos e a consequente deterioração das estradas, somados à alta carga tributária e preços dos pedágios, forçam os caminhoneiros a se manifestarem. “Nós não queremos fazer vandalismo, ou trancar os outros, mas nos colocaram contra a parede. Temos quer fazer força. Não dá mais.”

O primeiro ato na região foi em Taquari, durante a manhã. Cerca de dez motoristas causaram o bloqueio parcial da ERS-436, conhecida como Rodovia Aleixo Rocha, próximo à rótula de acesso ao município. Com cerca de 20 anos na estrada, Luciano Lopes da Silva considera que a alta do preço do diesel, os pedágios caros e o baixo valor do frete são um desestímulo ao trabalho.

Os mais afetados são os profissionais independentes, considera Silva. “As grandes transportadoras estão sugando os autônomos. Não tem mais como trabalhar”, desabafa. Para ele, a alta do diesel não é um problema apenas dos caminhoneiros, mas de toda a sociedade. “O povo ainda não caiu em si. Eles precisam se unir conosco.”

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Durante a tarde, dois protestos foram verificados na BR-386. Próximo ao Posto Rosinha, em Paverama, houve queima de pneus. Entre Estrela e Lajeado, perto do Posto Superporto, os manifestantes bloquearam uma das faixas. Com cartazes e cones, orientavam outros motoristas de caminhões a aderirem ao ato.

O caminhoneiro Ricardo Henrique Feistel concorda que os principais problemas do setor de transportes são relativos à alta tributação dos combustíveis. Segundo ele, o valor do frete não acompanha o preço do diesel. Com sete anos na estrada, afirma não recomendar a profissão a ninguém.

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Para ter êxito, a mobilização precisa da adesão de todos os segmentos que constituem o setor de transportes, opina Feistel. Melhor do que bloquear as estradas, acredita que somente uma paralisação generalizada poderia gerar os efeitos desejados. “Se der certo, todos vão compartilhar os benefícios. Mas de início, ninguém quer dar a cara a tapa”, constata.

Os 12 sindicatos integrantes da Federação dos Caminhoneiros Autônomos (Fecam-RS) decidiram aderir à greve nacional proposta pela categoria durante reunião realizada ontem. Em nota, o presidente da entidade, André Dias, afirma que a organização não é responsável pelas manifestações por meios eletrônicos e via internet, que segundo ele incitam o bloqueio de rodovias e a violência.

“Não cabe à Federação ou aos Sindicatos convocação de movimento, mas sim defender os interesses da categoria representada”, diz a nota. Conforme o presidente, a Federação não pode fazer falsas promessas, como a de reduzir a tributação do Diesel.

“Já foram tomadas providências junto ao Governo Federal sobre o aumento do óleo diesel nos últimos três meses e de forma direta”, alega. Segundo ele, outras pessoas que se dizem representantes da categoria até agora nada fizeram para ajudar de fato.

“Preguemos a Democracia, se quer parar, pare em sua casa e não prejudique ao seu semelhante”, finaliza. Para a Federação, a greve deve se resumir a não rodar pelas estradas, sem bloqueios ou depredações.

Oscar Darci Prass é  caminhoneiro faz 50 anos. Para ele, o momento econômico é o pior já vivido pela classe

Oscar Darci Prass é caminhoneiro faz 50 anos. Para ele, o momento econômico é o pior já vivido pela classe

Efeito dominó

Gerente de uma transportadora, Kiko Kalsing se solidariza à mobilização dos caminhoneiros. Segundo ele, o preço do diesel gera um “efeito dominó” a ser sentido por toda a população. “Isso vai repercutir na gôndola do supermercado, para o produtor rural, que vai pagar o frete mais caro. A recessão está batendo na porta do brasileiro”, ressalta.

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Kalsing destaca que os demais setores precisam ser sensíveis à causa, pois a alta do diesel consiste em um problema para toda a sociedade. “O país estava retomando o crescimento, mas o nosso governo, na sua sede por cobrar impostos e aumentar a arrecadação, inviabilizou todo o sistema novamente”, salienta.

Aumentos em sequência

De acordo com a Petrobras, a alta dos preços ocorre devido ao aumento das cotações internacionais do petróleo e da alta do dólar. Desde o dia 3 de julho do ano passado a estatal adotou uma política de preços baseada no mercado internacional. Com isso, os reajustes podem ocorrer, inclusive, diariamente.

Na semana passada, houve aumento em cinco dias seguidos. Somados os últimos 17 dias, foram nada menos que 11 acréscimos. Desde julho de 2017, o preço da gasolina comercializada nas refinarias acumula alta de 58,7%. No caso do diesel, a ampliação é de 59,3%.

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Entrevista

“A conta de um governo bonzinho sempre vem”

Eloni Salvi, economista e professor da Univates, considera que apesar das altas, política de preços da Petrobras é acertada.

A Hora – Como as constantes altas no preço dos combustíveis interfere na inflação?

Eloni Salvi– Sempre demora para que os índices de inflação resultantes desse tipo de aumento apareçam. A inflação sobe quando o aumento no custo dos combustíveis é repassado para o valor dos produtos. Ocorre que, como a atividade econômica continua baixa, as empresas estão demorando mais para repassar os custos, ou mesmo evitando, caso consigam conseguem sobreviver sem fazer esse repasse.

Quais as consequências desse cenário?

Salvi – Em caso de aumento da inflação, resulta na perda da capacidade de compra do consumidor. No caso das empresas, caso elas não consigam repassar o custo, podem perder a rentabilidade e até ter problemas de sobrevivência. Caso os custos apertem demais, fica difícil de pagar as contas.

Esses aumentos frequentes podem dificultar a recuperação da economia?

Salvi – Sem dúvida, mas a Petrobras não consegue segurar os aumentos. Essa é uma das questões mais discutidas, pois em anos anteriores os preços da Petrobras estavam vinculados muito mais às questões políticas do que técnicas. A política de aumentar e baixar o valor conforme o preço internacional é mais adequada. Nos mercados desenvolvidos, é assim que funciona. Nos Estados unidos e na Europa os preços seguem de acordo com as cotações do petróleo. No Brasil, adotamos uma postura diferente porque o petróleo está na mão de uma estatal. Nos outros países, flutua mais de acordo com o mercado.

A redução dos tributos sobre os combustíveis seria uma solução?

Salvi – O governo teria como agir sobre o preço da Petrobras reduzindo a carga tributária, que é altíssima. A empresa seguiria aumentando, mas o preço não chegaria ao consumidor. Não imagino que isso ocorra diante do déficit da União. Se ocorrer, vai “tapar o sol com a peneira” e terá cunho eleitoreiro, pois tecnicamente não cabe. Claro que para a população seria bom reduzir, mas isso ocorreu no passado com a conta de energia elétrica e depois pagamos em dobro. A conta de um governo bonzinho sempre vem. Pagamos pouco agora e muito lá na frente.

Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br | Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br

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