Faz pouco mais de uma semana, cerca de 40 índios caingangues da tribo Foxá invadiram uma granja de 52 hectares no Distrito Industrial de Cruzeiro do Sul.
Liderados pelo cacique Gregório Antunes da Silva, eles integram o mesmo grupo que invadiu o terreno localizado entre a ERS-453 e o Distrito Industrial faz meio ano.
Na nova invasão, distante cerca de 800 metros da primeira, as sete famílias que viviam às margens da rodovia dividem quatro casas mistas de alvenaria e de madeira.
“Optamos por este novo espaço devido a chegada do inverno”, diz Gregório. Segundo ele, pelo menos 12 crianças e adolescentes vivem na tribo.
Agora com luz e saneamento básico improvisado, o grupo cria porcos e galinhas nas terras do proprietário, que prefere não ser identificado.
“Já entrei na Justiça com pedido de reintegração de posse”, conta o dono do terreno de 52 hectares. Segundo ele, estava trabalhando para reativar a granja e alugá-la para uma multinacional da região.
“Tentei diálogo com o cacique Gregório”, comenta. “Mas apesar de ele ser muito pacífico, não quis devolver o que é meu”, completa o dono da terra.
Ameaça com facão
O cacique Gregório conta que recentemente um indígena foi buscar água em um córrego da propriedade e um “peão” o ameaçou com um facão.
“Somos pacíficos. Lidero um tribo feita de pessoas. Só quero um lugar para abrigá-los”, alega Gregório. “Mas como ‘eles’ agirem com a gente, a gente vai agir com eles. Se continuar isso (ameaças), vou trazer três ônibus cheios de índios para cá”, ameaça.
Ainda de acordo com o cacique, as terras que o proprietário alega ser dono, pertenciam aos índios há 518 anos. “Ele tem o direito dele, mas também temos o nosso”, sustenta.

Invasão na ERS-453 permanece ativa para venda de artesanato da tribo
Apenas comércio
Na invasão localizada entre a ERS-453 e o Distrito Industrial, no quilômetro 30, o grupo indígena mantém os barracos, porém desocupados. O terreno que antes abrigava as famílias, agora está sendo destinado apenas ao comércio de artesanato – fonte de renda de cerca de R$ 700 por mês para cada uma das 7 famílias.
No mês passado, uma reunião na Câmara de Vereadores com representantes da EGR, autarquia que administra o trecho e integrantes da aldeia, foi debatida a retirada das famílias da invasão.
Sob a alegação de que seria construída uma rótula de acesso da RSC-453 para o Distrito Industrial no exato ponto onde as 40 pessoas viviam desde novembro do ano passado até a semana passada.
Na época, Gregório exigiu que, caso as famílias fossem retiradas, que pelo menos o local permanecesse com o ponto de vendas de artesanato.
Segundo o cacique, a Funai ainda não está acompanhando o caso. O governo do Estado, proprietário do terreno às margens da rodovia, não formalizou ordem de desocupação do local.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br