Funcionário dos Correios há 42 anos, o aposentado Luciano Martins, 63, é o carteiro mais antigo de Lajeado.
• Quais são as suas boas histórias como carteiro?
Eu conheci a minha mulher enquanto entregava cartas. Ela morava na rua Osvaldo Cruz, no bairro Americano. Quando eu a vi já senti uma emoção diferente, mas logo ela se mudou e foi trabalhar no bairro Moinhos. Fui reencontrá-la em um baile na cidade vizinha e já faz trinta anos que estamos juntos. Também fiz muitas amizades ao longo desses anos e vi a cidade se transformar, crescer e evoluir. Eu já sou aposentado, mas vou continuar carteiro até quando as pernas aguentarem.
• O que mais te marcou nessa jornada?
Eu entrego cartas a pé e há algum tempo fiz um cálculo sobre o quanto caminhei. A distância percorrida daria para dar duas voltas ao mundo. E já comecei a terceira! Quando iniciei as entregas o calçamento da avenida Benjamin Constant ia somente até onde hoje é a Padaria Suiça. A Pasqualini, então, terminava em frente ao Kikão. O resto era estrada de carroça e eu ia pulando as cercas de arame, às vezes sendo até perseguido por bois. Nos anos 1980 o crescimento da cidade acelerou muito e, de quebra, facilitou o nosso trabalho.
Antigamente as pessoas esperavam o carteiro na porta de casa. Posso dizer que de certa forma já ajudei a consolidar muitos namoros e casamentos. Naquela época as pessoas namoravam por correspondência e eu era a pessoa mais esperada da semana, já que trazia notícias dos apaixonados. Também entregava cartas aos ciganos. Eles moravam em barracões onde hoje se localiza o shopping. Ao entregar, precisava abrir e ler para eles o que estava escrito. Era muito interessante.
• Quais os aprendizados da profissão?
Eu sempre fui muito bem tratado pelas pessoas para quem eu entrego as cartas. O respeito às diferenças é o ponto mais forte para que esse trabalho dê certo. E deu. Existem muitos temperamentos diferentes e a gente aprende a ter jogo de cintura. E aquele estigma de que cachorro tem raiva de carteiro não é verdade, só fui mordido uma vez na vida e aos 31 anos de carreira. Já até ensinei um cachorro a pegar as cartas e levar para o dono. Estar ao ar livre e em contato com as pessoas me faz feliz e me move a continuar.
Victória Lieberknecht: victoria@jornalahora.inf.br