Em Boqueirão do Leão, é época colher um produto muito apreciado com a chegada do frio: o pinhão. O agricultor Silvio Cezar da Silva, 42, de Linha Data, aprendeu a subir em araucárias com o pai, quando ainda era criança. A técnica de colher as pinhas exige habilidade e muito equilíbrio.
Cada produtor usa uma técnica – utilizar uma corda, uma escada, vara de bambu ou então a espora para escalar os pinheiros de até 30 metros de altura. “É uma atividade perigosa, mas faz parte da cultura serrana e foi passada de geração em geração”, orgulha-se.
Na companhia da família, o alimento é cozido ou assado no fogão a lenha. Tem também quem prefira a sapecada de pinhão. A expectativa neste ciclo é de colher até cem quilos. A maior parte será vendida para os amigos ao valor de R$ 5 o quilo, mesmo preço da safra passada. Nos supermercados e fruteiras, varia de R$ 6 a R$ 9. “É uma forma de complementar a renda”, diz.
Além da qualidade, este ano, o rendimento por árvore é maior. Em 2017, muitas pinhas não continham sementes. Este ciclo serão cerca de dez quilos por planta. Entre os segredos, está o ponto de maturação dos pinhões. “Só podemos colher quando a pinha começa a ficar escura, com aparência de machucada”, ensina.
Para garantir as sementes às gerações futuras, parte é deixada no campo. Assim serve de alimento para os pássaros e favorece o surgimento de novas plantas.
Clima determina rendimento
Enquanto nos últimos anos houve quebra, para este ciclo a Emater projeta uma colheita de até mil toneladas até junho, total observado, pela última vez, em 2014.
Conforme Ilvandro Barreto de Melo, assistente técnico regional em manejo de recursos naturais da Emater, a oscilação entre a produtividade nos pinheiros é natural, tendo em vista a organização fisiológica. “Existe um gasto de energia muito elevado na produção de pinhão, logo ela necessita de um tempo maior para se recuperar”, ensina. Pelo desempenho das araucárias e a formação de pinhas, observado este ciclo, existe a projeção de que a próxima poderá ser recorde.
Para obter bons resultados, um dos fatores determinantes é o clima. Como a floração das plantas ocorre em setembro e outubro, é preciso haver pouca chuva e vento, do contrário, o pólen não conseguirá chegar à copa da árvore. “Com chuvas abundantes e ventos fortes, o número de pinhões por pinha reduz”, explica.
Venda informal
Boa parte das sementes é comercializada sem nota fiscal pelos extrativistas, em locais como à beira da estrada, mercados, restaurantes ou de casa em casa. Apenas as sementes vendidas por intermediários para Ceasa, supermercados ou até mesmo outros estados é registrada. Outra forma de agregar valor ao pinhão seria o beneficiamento. Hoje a maior parte é negociada in natura.
Apenas em casos isolados a semente é industrializada ou então processada na forma moída ou de paçoca, vendida ao valor médio de R$ 17 o quilo.
Para saber
– A araucária fêmea produz os pinhões
– Cada pinha produz até 150 pinhões em safras regulares
– Após 12 anos, uma árvore chega a produzir até cem pinhas
– O consumo ideal por dia é de dez sementes, pois cada uma tem em média 20 calorias
– Semente é fonte de fibras, proteínas, carboidratos e de minerais importantes como potássio, cálcio, ferro e zinco
– É indicado para pessoas com doença celíaca, pois a farinha do pinhão não contém glúten