Mais de 40% estão com o nome sujo

Vale do Taquari - famílias endividadas

Mais de 40% estão com o nome sujo

Em média, cada CPF com restrição está com quatro dívidas em atraso. Os sinais de retomada da economia não freiam a inadimplência. Percentual de pessoas com o nome sujo aumentou, alcançando 62,2 milhões de brasileiros e 40,7% das famílias gaúchas. Cenário obriga mudança de hábitos e altera a oferta de crediário no comércio.

Mais de 40% estão com o nome sujo
Vale do Taquari

As dívidas acumuladas representam dor de cabeça para mais de 62,2 milhões de brasileiros. Apesar dos sinais de retomada da economia, os índices de inadimplência não param de crescer no país. Pesquisa do SPC Brasil mostra que o percentual de pessoas com dívidas em atraso aumentou 3,54% em abril na comparação com o mesmo período do ano passado.

No RS, o percentual de famílias endividadas chega a 40,7%, contra 36% registrado em abril de 2017. Funcionária de um frigorífico, Cíntia de Oliveira se enquadra nesse perfil de endividamento.

Após contrair um débito bancário há cerca de três anos, ela sofre para quitar as parcelas de acordo com o contrato estabelecido. Em meio às despesas de aluguel, água e luz, as prestações da dívida se acumulam, causando o efeito bola de neve. “Faz tempo que eu não consigo me livrar”, lamenta. Ela tenta uma renegociação junto à instituição para que as parcelas fiquem mais baratas.

Para a economista Cristiane Souza, reconhecer o problema e tentar uma renegociação é uma das formas de evitar os problemas decorrentes da inadimplência. Segundo ela, pessoas endividadas ficam expostas a altas doses de estresse, algo que pode resultar inclusive em doenças físicas. “É uma situação que afeta até mesmo os relacionamentos. Poucos casamentos e sociedades empresariais sobrevivem a uma crise financeira.”

No caso das empresas, Cristiane ressalta que a situação financeira dos funcionários afeta o ambiente de trabalho. Preocupados com as dívidas, os trabalhadores deixam de ter a mesma dedicação aos clientes, alega. “Para uma pessoa endividada, por maior que seja o salário, nunca será suficiente ou mesmo satisfatório.”

A alta na inadimplência alterou também os hábitos dos comerciantes. Proprietária de uma loja de confecções faz 23 anos, Isolete Neumann afirma que a situação se agravou nos últimos anos, a ponto de deixar de vender para clientes fiéis que não conseguiram mais pagar as contas.

“É uma situação que afeta principalmente pessoas que tinham negócios e que começaram a passar dificuldade por causa da crise”, ressalta. Diante dessa realidade, a empresária passou a restringir o crediário, hoje disponível apenas para clientes com mais de oito anos de relacionamento com a loja.

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Mudança de hábito

Com dívidas no cartão de crédito e no cheque especial, o vendedor Heitor Prudente Ortiz, 34, precisou mudar de forma radical a postura em relação às finanças para se reequilibrar.

Foram três anos e meio evitando gastos supérfluos e controlando as despesas necessárias no papel até conseguir escapar do vermelho. Desde fevereiro, orgulha-se em dizer que não está mais endividado.“Eu era uma pessoa que gastava bastante, muito consumista. Até que chegou o momento em que as contas estouraram”, revela Ortiz.

Depois do nascimento do filho, passou a ter mais responsabilidade econômica e a “batalhar” para sanar os débitos. Entre as medidas adotadas, trocou o carro por um modelo mais antigo e diminuiu as festas e as compras dispensáveis.

Previsão otimista

Apesar do aumento do percentual de famílias inadimplentes no RS, a Assessoria Econômica da Fecomércio-RS mantém a previsão otimista de melhora na economia. Responsável pela pesquisa sobre o endividamento e inadimplência no RS, a entidade acredita que a perspectiva de retomada das contratações no mercado de trabalho impedirá o avanço dos índices.

Conforme o estudo da Fecomércio, 65,7% das famílias gaúchas têm dívidas ativas, número quase 10% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, quando 75,2% das famílias tinham algum tipo de débito.

Outro indicador que reforça o otimismo é o do percentual da renda comprometida. O registrado no fim de abril foi de 31,9%, abaixo dos 32,5% registrados no mês anterior. O tempo médio de comprometimento com dívidas ficou em 7,7 meses.

O cartão de crédito continua apresentando o maior peso na composição do endividamento dos gaúchos (81,5%), seguido por carnês (28,2%), crédito pessoal (23,3%) e cheque especial (9,7%).

Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br

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