O bairro Hidráulica é um dos mais antigos do município. O historiador José Alfredo Schierholt conta que no início era considerado um subúrbio, conhecido por ‘Negerberg’, que em português significa “Morro dos Negros”.
Essa teria sido a primeira denominação daquela região da cidade. Teve início em 1862. Antônio Fialho de Vargas tinha em torno de 30 escravos. Parte deles era alugada aos primeiros colonizadores, para abrir clareiras nas florestas, remover coivaras, construir moradias e plantar e colher os primeiros cereais.
Naquele ano, o fundador de Lajeado destinou um grupo de escravos para preparar a infraestrutura da represa e do engenho de serrar madeira e moinho, onde hoje está o Parque do Engenho, na divisa com o bairro Americano.
Cabia aos negros cavar as valas, construir a muralha de pedra e abrir os canais da água. Era todo dos escravos o serviço pesado do primeiro complexo industrial e comercial de Lajeado, sob a direção do engenheiro Luís Jaeger.
Segundo Schierholt, Fialho de Vargas não acorrentava ou mantinha os escravos em senzalas. “Construíam seus casebres ao lado da obra e lá ficaram, sob a permissão do fundador, sem que recebessem títulos de propriedades de seus lotes”, escreve o historiador.
Entretanto, a população negra da época não tinha ruas abertas para acesso às residências. Não recebia assistência alguma do poder público, como pavimentação, iluminação pública, água potável e tampouco ensino básico.
“Os negros tinham até um salão de baile, o Salão dos Morenos, na atual rua Lothar Felipe Christ, número 191. As suas promoções sociais eram de elevado respeito e dignidade, virtudes que nem sempre os brancos sabiam apreciar”, descreve Schierholt.
Anos depois, a maioria dos antigos proprietários perdeu as terras em função da falta de documento legal, e outros tantos venderam, sem condições de pagar pela urbanização pública.
Zona e a construção da hidráulica
Nas imediações do salão, havia um pequeno núcleo da então chamada “Zona”, reservada só aos homens. O acesso era pelo “Beco do Martelo”, uma trilha, tal como a maioria dos caminhos que levavam ao bairro naquele século.
Um dos descendentes de escravos que se destacou foi Moisés Cândido Veloso, relembra Schierholt. Foi ele que deu origem à denominação de Vila Moisés, antigo nome do bairro Hidráulica, que assim passou a ser chamado em 1958, após a inauguração do complexo “com entrada imponente, escritório, laboratório e a vistosa caixa d’ água”.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br
