Faz quase três anos, a enfermeira Simone Fucks Frohlich, 31, trabalha no setor do Hospital Bruno Born onde mais há vida: a maternidade.
• Qual a lembrança mais marcante deste período na maternidade?
As crianças que vão para a adoção. O primeiro caso que peguei foi o mais lindo. A criança estava aqui fazia cinco dias, e a família que ia adotar veio tão preparada: com uma bolsa de saída da maternidade, com brincos, tudo. A nossa menina saiu daqui maravilhosa. Antes, eu ficava frustrada de uma mãe dar a criança, mas hoje eu vejo que, se não tem condições, que dê. Sempre há um casal que vai querer e vai criar com amor.
• Quais os momentos mais delicados?
O aborto no início da gestação é mais fácil, mas pode acontecer FM (feto morto). Normalmente, elas vêm com queixas de “não senti meu bebê hoje”. Daí a gente vai tentar escutar (batimentos) e não escuta. Chamamos o médico e ele dá a notícia. A gente chora, abraçamos a mãe e ficamos sem palavras. São semanas relembrando aquele caso. Não é comum, mas, quando acontece, a gente perde o chão.
• Na hora de conhecer o bebê, a emoção de uma mãe que já teve filho é a mesma de uma de primeira viagem?
Acho que sim. Todas babam e ficam felizes da mesma maneira, têm a mesma admiração, parece que é o primeiro filho que está nascendo. Algumas não demonstram tanto, mas a gente sabe que o amor é o mesmo. Elas amam demais os filhos.
• Em séries sobre médicos, como Grey’s Anatomy, funcionários de outros setores sempre “escapam” para espiar o berçário. Isso acontece na vida real?
Sim. Quando eles vêm aqui examinar a mãezinha, primeiro olham o bebê. Quando podem entrar aqui dentro, adoram olhar as crianças. Às vezes, a gente tem que restringir, se não fica muita gente olhando no berçário. Quando a gente passa no corredor com bebê, todos olham, e quando são gêmeos, todo mundo diz : “óin, meu Deus”, “óin, que lindos”.
• Como você administra as próprias emoções em um setor de expectativas e nervos à flor da pele?
A gente é mãe, né? No começo, não conseguia lidar com algumas situações; hoje consigo melhor, mas há casos em que a gente lembra dos nossos filhos em casa. Se aconteceu alguma coisa de ruim, a paciente chora, a gente está ali chorando, mas estamos amparando também. E, quando é alguma coisa muito empolgante, a gente vibra, a gente chora de emoção e de alegria com os pais. A gente tenta, mas nem sempre conseguimos segurar.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br