Na propriedade da família Sordi, em São Brás, Anta Gorda, as nogueiras ocupam cinco hectares. As 400 plantas rendem quatro toneladas por ciclo. O quilo in natura custa R$ 12. A fruta é tão valorizada que a demanda ultrapassa a produção.
Satisfeito com o resultado, Sordi duplicará a área de nogueiras. Para isso, diminuirá a produção de leite. São 120 animais, 80 em lactação. São produzidos 1,6 mil litros por dia. “Está inviável manter a atividade. Hoje temos prejuízos.”
Entre as vantagens da cultura, cita a exigência de pouca mão de obra, garantia de mercado, preço estável e aumento constante no consumo. Mas atenta para a necessidade de oferecer orientação técnica aos produtores e criar formas de agregar valor à matéria-prima. “A concorrência com o produto chileno é um problema. Ele chega aqui a um preço muito inferior ao nosso. No mundo, o consumo aumenta e temos que encontrar maneiras de exportar. Isso nos dará segurança para investir”, opina.
Além de incrementar a criação de frangos (70 mil aves por lote), a família pretende ampliar o plantel de ovelhas. Elas ajudam a reduzir o trabalho com manutenção do pomar, deixam o terreno limpo e livre de ervas daninhas. Com o passar dos anos, também colaboram com o acúmulo de matéria orgânica, importante na adubação das plantas.
Luís Celso Girotto, de Linha Doutor Felizardo, aposta no cultivo faz 20 anos, inclusive de mudas. São 120 árvores em produção e outras 300 em fase de crescimento. “Chegamos a colher até oito toneladas. O segredo está no manejo”, afirma. A maior parte das frutas é vendida para uma agroindústria de Antônio Prado, ao preço médio de 15 o quilo.
Para valorizar a produção, é fundamental qualificar todos os envolvidos no setor, diz. “A união é importante. Além de atingir maior volume, conseguimos esclarecer dúvidas, criar políticas de incentivo e despertar o interesse de novos mercados consumidores. Tudo reflete em maiores lucros”, afirma.
Potencial elevado
Com 280 produtores, 470 hectares de área plantada e168 toneladas de frutos colhidos por safra, Anta Gorda é conhecida como a Capital da Noz-Pecã. Segundo o engenheiro agrônomo Fernando Selayaran, da Emater/RS-Ascar, a maior atenção à qualidade das mudas e a produção de variedades adaptadas ao clima da região, aliadas ao manejo correto e cuidados com o solo e adubação, transformaram a atividade em excelente alternativa de renda. “A produção triplicou desde 2008, quando eram colhidas apenas 45 toneladas”, frisa.
O preço registra aumento crescente. Nos últimos oito anos, o quilo saltou de R$ 4 para R$ 20. Beneficiada, chega a R$ 70. “As intempéries resultaram em queda na produção e fizeram o valor subir. A cotação média é de R$ 12 o quilo”, aponta.
Hoje a cultura divide espaço com atividades tradicionais como produção de leite, suínos, aves e frutas. “A produtividade por hectare chega a 600 quilos. O rendimento bruto alcança R$ 7,2 mil. Apesar da boa rentabilidade, a expansão da área exige cautela, pois a frutificação inicia após seis anos”, explica.
De acordo com Selayaran, a demanda é crescente, seja por nozes in natura, em pedaços, moídas, farinha ou até metades para decoração de doces. “A oferta é insuficiente para atender o consumo nacional. A fruta ainda é pouco conhecida no país. Existe todo apelo a uma alimentação equilibrada, sem falar do enorme potencial a ser explorado no exterior”, observa.
Desafios
Entre os desafios, o engenheiro agrônomo cita identificar as melhores cultivares com qualidade de nozes e resistentes a doenças, melhorar o manejo, desde a correção do solo, poda e controle de pragas, divulgar os benefícios à saúde e buscar conhecimento técnico.
A criação do Programa Estadual de Desenvolvimento da Pecanicultura e da Câmara Setorial da Noz-Pecã e o intercâmbio com a Argentina são vistos como uma forma de qualificar o setor. “Envolver diversos elos da cadeia, desde pesquisa, técnicos, produtores e consumidores ajuda a identificar falhas e novas oportunidades”, finaliza.
Há 1.166 produtores no RS. A área chega a 4,2 mil hectares, com produção de 1,9 mil toneladas.
Óleo de nogueira
Tudo da fruta é aproveitado. Desde a muda até a casca, mais de dez produtos são feitos na agroindústria da família Pitol. A novidade lançada este ano, durante o 1º Simpósio Sul-Americano da Cultura da Noz-Pecã e o 5º Seminário da Cultura da Noz-Pecã, foi o óleo à base da fruta. “Existe muita procura por suas propriedades medicinais”, explica Leandro.
De acordo com ele, apenas 30% do consumo no país é feito no mercado interno. Os outros 70% são importados. “Ainda faltam produtores e indústria para processar. É um mercado em ascensão”, diz. A família industrializa mais de 130 toneladas por ano.
Benefícios
A fruta é rica em antioxidantes e gorduras que aumentam o colesterol bom (HDL) e diminuem o ruim (LDL). Isso é importante porque pode prevenir doenças cardiovasculares. Ou seja, reduz o risco de infarto. Também pode ser usada no controle das taxas de açúcar no sangue.
A fruta é calórica, em função da composição de gorduras. Cinco ou seis unidades por dia são suficientes para beneficiar a saúde.