A manhã de segunda-feira foi de tristeza para a família de Roano Antônio Petter, morador de Linha Delfina, Estrela. Duas vacas leiteiras que estavam prenhas foram mortas por criminosos. Eles carnearam os dois animais e abandonaram os restos em um potreiro distante cerca de um quilômetro da sede da propriedade. Faz três meses, o vizinho dele também foi vítima de abigeato.
Foi a mulher de Petter que percebeu o crime. Toda as noites, eles costumavam deixar as 15 vacas em um espaço próximo ao aviário, quase junto à estrada geral que interliga a comunidade com Bom Retiro do Sul. “Quando amanheceu, minha mulher foi buscar os animais e percebeu a ausência de duas leiteiras”, conta.
Os familiares saíram em busca dos animais. A cena chocou Petter. Quase no fim da propriedade dele, haviam marcas de pneus na estrada de chão, uma lata de refrigerante e alguns tocos de cigarro. Ao lado, duas cabeças de vaca, restos das patas, intestinos e dois bezerros mortos. “Foi a primeira vez que sofremos com esse crime. A indignação é muito grande”, resume.
Um dos bezerros estava prestes a nascer. Dentro de 15 dias, no máximo, ocorreria o parto. A va ca morta era a que mais produzia. Cerca de 25 litros de leite por dia. “É muita maldade. Tanto carinho e cuidado. E agora estão aqui, servindo de alimento para os urubus.”
“É coisa de profissional”
Petter tem certeza que os criminosos são “profissionais” no serviço de carnear animais. “Não foram pessoas com fome, isso é coisa de profissional. Cortaram muito bem nas juntas dos ossos, levaram tudo que tem valor, e só deixaram aquilo que realmente não dá para aproveitar. Com certeza fizeram isso para vender a carne nos mercados aqui da cidade ou municípios próximos.”
Sobre isso, ele faz um alerta. Pede que as pessoas verifiquem a origem da carne ao comprar o produto. “Na verdade tem que cuidar com todos os locais. Quem compra carne desse tipo de pessoa está incentivando esse crime que cometeram com minha família”, denuncia.
Sem esperanças
O produtor fez o Boletim de Ocorrência (BO). Na tarde de ontem, uma guarnição da Brigada Militar (BM) foi ao local verificar a situação. A partir de agora, a investigação será conduzida pela delegacia de polícia. Entretanto, Petter não demonstra confiança em uma possível prisão dos responsáveis.
Com as duas mortes, Estrela já tem pelo menos seis casos de abigeato nos quatro primeiros meses do ano. Em 2017, foram 11. “A dificuldade de investigação é semelhante a todos os outros furtos. Ninguém viu nada, ninguém sabe de nada. Tudo ocorre na calada da noite”, afirma o delegado, José Romaci Reis.
O comandante do 40º Batalhão da BM, major Marcelo de Abreu Fernandes, também fala das dificuldades em combater o crime. “Temos que ter mais efetivo. Realizar mais abordagens nessas estradas mais interioranas. Pois, com poucos policiais, somos obrigados a ficar em pontos que registram mais ocorrências, deixando essas comunidades mais desassistidas”, lamenta.
Mais de 100 casos em 2017
Em todo o Vale, foram 167 casos de abigeato no ano passado. As cidades com mais ocorrências foram Taquari (28), Fazenda Vilanova (16), Bom Retiro do Sul (14), Arvorezinha (12), Estrela (11) e Cruzeiro do Sul (10). Entre os casos resolvidos, destaque para a Operação Cooptare, realizada pela Polícia Civil do Estado, e que resultou na prisão até de um ex-vereador, em Progresso.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br