Plano Diretor de Lajeado
A reformulação do Plano Diretor de Lajeado ganhou forma, alinhamento e culmina com uma boa dose de resistências. Algo diferente seria anormal, dada a quantidade de interesses e conflitos envolvidos em uma empreitada como essa.
Certamente foi por esse motivo que o governo anterior empurrou o assunto para depois das eleições. Caiu no colo do novo prefeito.
Marcelo Caumo iniciou a discussão, acertadamente, no primeiro ano. Mas está longe do fim.
A série de discussões e audiências públicas foi insuficiente para agradar a todos. Aliás, isso será impossível, pois a tarefa pode se comparar a um balão: aperta de um lado, estica do outro. O vento disputa o mesmo espaço. Igualmente, a disputa se estabelece entre setores, bairros, agremiações políticas e outras esferas interessadas no reordenamento urbano.
O mais saliente conflito se ergueu esta semana, após o prefeito anunciar, durante reunião-almoço da Acil, que o projeto diminuirá o índice de construção em 20%. Ou seja, a ocupação do solo retrairá, devendo deixar mais espaço para área verde e ventilação entre os prédios.
A notícia dominou a reunião do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon), na mesma noite. Donos de construtoras, alguns inconformados, já acionaram alertas e ferramentas para derrubar a ideia. As opiniões divergem entre os próprios construtores e também dividem os arquitetos do Sindicato dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Taquari (Seavat).
Uma coisa é certa. O Executivo terá de ampliar a discussão e retomar a conversa com o setor da construção civil. Ainda que alguns concordam que mudanças devem ocorrer, a maioria considera a alteração anunciada abrupta demais.
Um meio-termo terá de ser encontrado para evitar uma verdadeira guerra a se alastrar até a câmara de vereadores, onde tudo pode acontecer. O passado ensinou quais mecanismos e subterfúgios podem ser utilizados em caso de litígio.
Tanto o Executivo quanto o Sinduscon devem evitar esse acirramento de ânimos. A cidade não comporta a reformulação de um Plano Diretor que agrade apenas um dos lados. É necessário cotejar o desenvolvimento sustentável com a viabilidade econômica do setor da construção. Isso também é sustentabilidade. Eis uma tarefa complexa, mas que, no mínimo, deve ser debatida, com maior profundidade.
O jornal A HORA prepara um debate sobre o assunto. Chamará frente a frente os atores envolvidos para cotejar possibilidades e saídas ao impasse.
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Uma coisa é certa, o Executivo precisa garantir uma proposta sustentável, coerente e moderna, voltada ao desenvolvimento alinhado à qualidade de vida das pessoas.
A pergunta que todos precisamos nos fazer é: “Que tipo de cidade queremos deixar para nossos filhos e netos”. Na resposta, está o grau de maturidade e consciência.
Ao mesmo tempo, precisamos analisar com inteligência e bom senso, o uso do solo e suas respectivas áreas a serem afetadas. Os bairros são diferentes, as vocações e seus perfis também divergem. Logo, estabelecer as mesmas regras para todos os bairros é, no mínimo, limitante.
Pessoalmente, sou de opinião que a construção não deve ser feita à reveria. Regras e critérios são essenciais para evitar certos exageros, atropelos e contrastes já ocorridos em nossa cidade. Tão fundamental se faz o diálogo para equacionar saídas gradativas que permitem a recuperação econômica de um setor debilitado nos últimos anos.
E, achar que as construtoras são vilãs e pensam apenas no lucro, é uma visão distorcida, equivocada e que, em nada, contribui para o desenvolvimento harmônico e pujante de uma cidade.
Cada uma das partes deve pensar, refletir e ceder ao interesse coletivo, de modo que haja o menor impacto econômico e de qualidade de vida futura aos investidores e moradores, respectivamente.
Prestação de contas do governo
Marcelo Caumo e Glsucia Schumacher mostraram sintonia na apresentação das contas aos presentes na Acil. Justificaram o superávit de R$ 12 milhões e anunciaram obras importantes, como a pavimentação de diversas ruas, especialmente em direção à região de Conventos, para onde o novo plano indica maior movimento nos próximos anos.
O centro administrativo será reformado com o dinheiro da venda da folha de pagamento que ocorre a cada cinco anos.
A licitação do transporte coletivo é outra meta ousada para 2018, quando se sabe dos entraves de décadas persistentes nessa questão. Talvez não seja tão polêmica quanto o Plano Diretor, mas pairam dúvidas e um enorme conflito de interesses sobre essa necessária ação.
Pelo menos 12 novos parques de lazer estão na lista do atual governo. Uma obra pontual seguirá com a pavimentação da rua do “Valão” até o Rio Taquari, costeando-o até a BR 386, criando um “braço” que servirá para entrar e sair da cidade. Essa, sem dúvida, é uma obra interessante, e que estabelecerá uma nova relação com o rio, se assim, quisermos.
A diminuição da falta de vagas nas creches foi destacada como uma das ações mais assertivas diante do clamor de pais e mães, no ano passado. Novas vagas devem ser abertas com a creche em fase final de construção, em Conventos.
O que faltou
O prefeito não mostrou um plano para dois pontos importantes: tratamento de esgoto e mobilidade urbana.
O primeiro se justifica pelo fedor existente nas áreas centrais da cidade. Lajeado fede, em muitos momentos do dia. É o esgoto emergindo das bocas de lobo e dos córregos para onde desovamos a privada e outras coisas mais. É histórico esse lamentável problema. Entra governo e sai governo, e não se chama a Corsan para a sua responsabilidade de fato.
A maior parte das perguntas do público endereçou a saturação de trânsito. A cultura exagerado do carro na cidade segue ignorando uma solução adotada em qualquer país ou cidade mais desenvolvida: o transporte coletivo.
Com relação a esse tema, o secretário do Planejamento, Rafael Zanata, me garantiu um plano no “forno”. “Inclusive, temos de pensar se a solução é o ônibus ou outro meio mais rápido diante das opções compartilhadas como Uber ou outras surgentes”, sugeriu Zanatta.
Faz sentido a observação do secretário, tanto quanto a obrigação do governo em olhar para isso com a devida atenção e responsabilidade. Promover e incentivar o uso do transporte compartilhado se faz com investimentos arrojados. Curitiba é um exemplo, só para citar um.
Caumo promete investir até um milhão de reais em abrigos de ônibus, mas não disse como. Urge na cidade uma ação para fazer o lajeadense adotar algumas práticas mais sustentáveis de locomoção.
Fica a expectativa, afinal, nada pode ser mais ultrapassado do que tirar o carro da garagem todos os dias e levá-lo ao centro para ficar estacionado em via pública. É uma questão de cultura da qual existem raras exceções.
Uma cidade que se pretende desenvolvida, inteligente e criativa, precisa começar a debater sobre isso.
E aí sequer falei de inovação e tecnologia, duas áreas indispensáveis na atual conjuntura econômica e globalizada. Mas esse assunto rende uma próxima coluna, pois ainda não conseguimos dar a devida atenção, nem poder público, nem iniciativa privada. Estamos atrasados. Precisamos colocar o tema na “esteira” com mais frequência.
Um bom fim de semana a todos!