“Eu vacinava todo o município sozinha”

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“Eu vacinava todo o município sozinha”

Ex-funcionária do posto de saúde, a aposentada Leida Soletti, 72, conhecida como “Colona”, é praticamente uma personalidade pública em Progresso. • Como a senhora ingressou no serviço público de Progresso? Trabalhei como auxiliar de serviços médicos por quase 40 anos,…

“Eu vacinava todo o município sozinha”

Ex-funcionária do posto de saúde, a aposentada Leida Soletti, 72, conhecida como “Colona”, é praticamente uma personalidade pública em Progresso.
• Como a senhora ingressou no serviço público de Progresso?
Trabalhei como auxiliar de serviços médicos por quase 40 anos, no posto de saúde – pelo Estado e, depois, pelo Município. Por dez anos, trabalhamos só o doutor Nestor e eu – não tirei um dia de férias. Eu vacinava todo o município sozinha. Às vezes, não tinha como ir com o pessoal da prefeitura, então, ia de carona com o padre. Tudo era comigo: vacina, injeção, verificação da pressão, triagem, atendimento na farmácia.
• A senhora sempre se relacionou bem com os usuários?
Sim. O que eu trabalhei levando caixas de vacinas nas costas, atravessando pinguelas podres! Mas onde eu vou todo mundo se recorda e se vê que eles têm saudades de mim. Muitas vezes fiquei lisonjeada pelo fato de eles virem em casa agradecer; colocavam mensagens de agradecimentos na rádio. Coisas que eu nunca esperava, pois quando você está servindo o povo não é de graça, você recebe. Às vezes, eu deixava as mães com crianças entrarem antes no consultório para não perderem o ônibus, ou, quando não era grave, eu pedia autorização para o médico e dava remédio sem a consulta.
• Quais as lembranças marcantes dessa época?
Um dia fui em uma casa pois a mãe não tinha condições de levar as três crianças para vacinar. Para entrar, tinha que subir um pedrão. Eu fui, e o que a mãe tinha da colheita que podia me dar, ela me deu, porque queria me agradecer. Na época da vacina do idoso, eu atravessava cercas de arame farpado, mesmo com chuva; não deixava uma casa sem. E se passava por onde tinha criança, entrava para levar a gotinha contra a paralisia. Um dia, dois brigadianos levaram um rapaz de 23 anos algemado, que tinha cometido um crime, para me dar um “oi” antes de ser preso, pois eu sempre o atendia bem. Eu pedi o que tinha acontecido e ele me respondeu: “ah, Colona, eu matei mais um”. Naquela noite, eu não consegui dormir.
• De onde veio esse apelido?
Eu tenho irmã gêmea e, quando éramos crianças, a outra era muito esperta e sempre queria estar pulando, e eu era mais chorona, queria ficar no colo, ser acariciada. Um dia, a mãe não sabia dizer ‘coccolona’ (coccolone é “fofo”, em italiano), e disse ‘ô, colona’. E ficou até hoje. Só os médicos me chamam de Leida.

Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br

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