Um desastre em curso, mas poucos fazem ideia

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

Um desastre em curso, mas poucos fazem ideia

Apocalipse da informação
Todos em perigo. Empresas e pessoas de todo planeta estão vulneráveis à indústria de manipulação por meio da tecnologia
Você já imaginou sua imagem na internet em um vídeo pornográfico, ou “cometendo assassinato”. Que tal empunhando uma arma, gritando e atirando contra alguém assassinado. E pior: por mais que você seja inocente, sua voz aparece no vídeo a ponto de ser quase impossível provar o contrário!
Pois a manipulação de dados e imagens na internet avança todas as fronteiras e nos impõe uma era sombria. E muita gente, muita gente mesmo, sequer faz ideia do que está por vir.
Poucos observam tanto o desastre mundial em curso como o tecnólogo Aviv Ovadya. Ele previu a crise das notícias falsas de 2016 e agora alerta para um “apocalipse de informações”.
Faz sentido. O Facebook admitiu há poucos dias que, só no Brasil, mais de 87 milhões de usuários tiveram os dados expostos na rede. É apenas o começo.
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O choque e a ansiedade sobre os anúncios russos no Facebook e bots do Twitter são pouco se comparados à maior ameaça: tecnologias que podem ser usadas para distorcer o que é real evoluem mais rápido do que nossa habilidade de compreendê-las e controlá-las, alerta Ovadya – agora chefe-tecnólogo do Centro de Responsabilidade de Mídias Sociais da Universidade de Michigan e integrante de inovação Knight News do Tow Center for Digital Journalism na Universidade Columbia.
Ovadya percebeu algo fundamentalmente errado com a internet, em 2016 e, convencido, abandonou seu trabalho e soou o alarme: a web e o ecossistema de informação que se desenvolveu nela estão doentios. Os incentivos que governam suas principais plataformas foram ajustados para recompensar informações enganosas e/ou polarizadas.
Plataformas como Facebook, Twitter e Google priorizam cliques, compartilhamentos, anúncios e dinheiro em detrimento da qualidade de informação. Ovadya não concordou com o que chama de “um tipo de limite crítico de desinformação viciante e tóxica”.
A apresentação foi praticamente ignorada pelos funcionários das plataformas das empresas Big Tech (como Google, Amazon, Facebook e Apple).
Ovadya estava dizendo o que muitos – incluindo legisladores, jornalistas e CEOs das Big Tech – não captariam até meses depois: o nosso mundo cheio de plataformas e otimizado por algoritmos é tão vulnerável – de propaganda, desinformação e anúncios direcionados a governos estrangeiros – que isso ameaça minar uma pedra fundamental do discurso humano: a credibilidade do fato.
E o que ele vê se aproximando nas próximas décadas é ainda mais assustador. As projeções são profundamente perturbadoras, com notícias falsas, campanhas de desinformação assistidas por inteligência artificial e propaganda. “Isso é algo que está além do que muitos aqui imaginam”, adverte.
Esse futuro, de acordo com Ovadya, chegará com ferramentas muito ágeis e fáceis de se usar para manipular a percepção e falsificar a realidade. Ações que até já ganharam termos próprios, como “apatia com a realidade”, “phishing via laser automatizado” e “fantoches humanos”.
É por isso que Ovadya, tecnólogo formado pelo MIT que já trabalhou com engenharia em empresas de tecnologia como a Quora, largou tudo em 2016. “Eu percebi que, se esses sistemas saíssem do controle, não haveria nada para controlá-los”, disse.
Hoje Ovadya e um grupo de pesquisadores e acadêmicos estão se preparando para um futuro sombrio e incerto. As apostas são altas e as possíveis consequências são mais desastrosas do que intromissões estrangeiras em uma eleição – uma impugnação ou reviravolta das instituições nucleares da civilização, um “infocalypse”. Ou seja, qualquer um poderia fazer com que “parecesse que qualquer coisa aconteceu, independente de ter acontecido ou não”.
Em recantos sombrios da internet, pessoas começaram a utilizar algoritmos de aprendizado de máquina e software de código aberto para criar vídeos pornográficos que, com facilidade, sobrepõem realisticamente rostos de celebridades – aliás, de qualquer um – nos corpos dos atores pornô. Em instituições como a Stanford, tecnólogos desenvolveram programas que combinam e misturam gravações de vídeos com monitoramento facial em tempo real para manipular vídeos. Similarmente, na Universidade de Washington, um programa é capaz de “transformar recortes de áudio em um vídeo realista com sincronização labial da pessoa que fala as palavras”.
Isso pode levar a algo que Ovadya chama de “apatia da realidade”: sitiadas por uma torrente de desinformação constante, as pessoas simplesmente começariam a desistir de se informarem. A grande diferença, observa Ovadya, é a adoção de apatia por uma sociedade desenvolvida, como a nossa. O resultado, ele teme, não é bom. “As pessoas param de prestar atenção às notícias, e aquele nível fundamental de informação necessário para uma democracia funcional se torna instável.”
O primeiro passo para pesquisadores como Ovadya é difícil: convencer o grande público, assim como legisladores, tecnólogos de universidades e empresas de tecnologia, de que um apocalipse de informação que distorce a realidade não é só plausível, como também iminente.
E isso é uma ameaça direta às fundações da nossa civilização atual.
“Eu sou da cultura livre e de código aberto – o objetivo não é parar a tecnologia, mas garantir que haja um equilíbrio que seja positivo para as pessoas. Então, não estou apenas gritando “isso vai acontecer”, mas, sim, dizendo: ‘considere com seriedade, examine as implicações’”, disse Ovadya ao BuzzFeed News. “O que eu digo é: ‘acredite que isso não vai acontecer’.”
Ovadya e outros avisam que os próximos anos podem ser instáveis. Apesar de alguns pedidos de reforma, ele sente que as plataformas ainda são governadas pelos incentivos errados e sensacionalistas, onde o conteúdo caça-cliques e de baixa qualidade é recompensado com mais atenção. “No geral, é uma noz difícil de quebrar, e quando você combina isso com um sistema como o Facebook, que é um acelerador de conteúdo, se torna muito perigoso.”
A distância que estamos desse perigo ainda há de ser vista. Questionado sobre os sinais de alerta aos quais está atento, Ovadya pausou. “Eu não sei mesmo. Infelizmente, muitos dos sinais de alerta já aconteceram.”
*Reportagem original sobre Ovadya pode ser lida em BuzzFeed News, produzida pelo repórter Charlie Warzel


“Organização criminosa”

Arrepia o despacho de 60 páginas da juíza Patrícia Stelmar Netto, da Comarca de Teutônia, sobre o esquema fraudulento na prefeitura. “O povo de Teutônia está sendo saqueado a olhos vistos, em plena luz do dia, em mosaico de extorsão, corrupção, ilegalidades, ameaças de morte (…), de uma organização criminosa formada por servidores públicos, secretários municipais e com envolvimento da câmara de vereadores, tendo como cabeça, o chefe da organização, o pai do prefeito de Teutônia”, diz a síntese da juíza.


Pai comandava no lugar do filho prefeito

Entre as mais graves citações da juíza Patrícia sobre o caso de corrupção em Teutônia, consta esta: “Em várias passagens das interceptações telefônicas, fica claro, como a luz solar, que o prefeito, na verdade, é o investigado Ricardo (Brönstrup), que, com seu prestígio e influência, arquiteta todo o tipo de desvio e falcatrua possível para angariar benefício próprio”.
Matéria completa sobre o caso está nas páginas 12,13 e 14 desta edição.

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