Pastor João e a Igreja Invisível

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

Pastor João e a Igreja Invisível

03_AHORAA lei é muito misericordiosa com as igrejas e seus pastores. Transformadas em grandes e multimilionárias empresas da fé, gozam de privilégios jamais concedidos para a grande maioria dos empreendedores. Não satisfeitos, muitos abusam da inocência dos fiéis, e isso nunca foi novidade. Em Lajeado, um pequeno revés: uma condenação por uso de forças espirituais para extorquir dinheiro.
O caso já tomou proporções nacionais. A história, publicada no dia dois de março pelo Jornal A Hora, é só mais uma entre milhões e milhões que certamente ocorrem todos os anos, meses ou dias, mas com desfechos desfavoráveis. Uma mulher, moradora do bairro Conservas, se viu desamparada, desesperada e desesperançada diante das dívidas e incertezas da vida. Recorreu à fé. E foi enganada.
Por que ela foi buscar auxílio na igreja? Ora, historicamente isso faz parte da nossa cultura. As religiões, desde sempre, são tidas como um bálsamo para as pessoas suportarem as angústias da vida cotidiana, da nossa existência. Servem, também, para que muitas pessoas busquem, dentro de suas limitações, propósitos éticos e morais para a vida. Talvez este seja o lado bom de tudo isso. O lado nobre da fé, para alguns.
Por outro lado, e diante de tamanho poder de persuasão sobre os mais fervorosos fiéis, o principal agente da igreja, seja ele o padre, o pastor ou qualquer outro pregador, tem em mãos a chave para manipular essas pessoas. É ele quem traduz as mensagens divinas, cifradas dos textos religiosos. Mas e se ele decidir usar isto para o mal? Deveria, assim mesmo, a igreja seguir protegida pela lei?
Não é tão incomum assim na nossa sociedade a presença de pastores fajutos. De meros criminosos utilizando-se da fé alheia para enriquecer sob a batuta da legislação. Legislação, esta, que permite às igrejas receberem doações absurdas. Sem taxa. Sem fiscalização. Sem controle algum.
Como pode a lei permitir que uma empresa receba um imóvel milionário e sequer declare isso para qualquer órgão fiscalizador? Em São Paulo, diante de tal descalabro, aconteceu uma quase obviedade: o crime organizado criou uma igreja para lavar dinheiro. Como? De forma bem simples: misturando o dinheiro sujo com os recursos arrecadados com o dízimo e demais doações.
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Tudo muito simples. Uma obviedade, reforço. Afinal, não há controle algum. Ou se há, é absolutamente aberto ao crime ou às más-intenções de quem não se constrange em tirar do próximo.
Assim como no caso da lajeadense, que ganhou na justiça um reembolso de R$ 20 mil após doar aparelhos domésticos, móveis e dinheiro arrecadado com a venda de um veículo, outra vítima brasileira conseguiu punir no STJ quem usou da fé para enganá-la. A autora do crime foi condenada a seis anos de reclusão por exigir R$ 32 mil para “desfazer alguma coisa enterrada no cemitério contra os filhos da vítima.”
Em ambos os casos, a justiça decidiu que a ameaça de uso de ‘forças espirituais’ para constranger alguém a entregar dinheiro é apta a caracterizar o crime de extorsão – ainda que não tenha havido violência física ou outro tipo de ameaça. É justa tal decisão. Justíssima.
E tomara que outras vítimas passem a denunciar tais crimes. As doações precisam ser espontâneas, e não extorquidas. Precisam ser fiscalizadas, para o bem das igrejas e pastores de boa índole. Esta é a única forma de evitar que mais e mais pastores fajutos tomem os lugares de quem, de fato, aceita e resguarda a boa fé.


O constrangimento

Se por ventura uma punição judicial seja insuficiente para a devida correção, que ao menos o constrangimento público sirva de lição. Em Arroio do Meio, parece-me muito bem configurado o crime de assédio sexual cometido por um cabeleireiro do centro da cidade contra uma jovem de 19 anos, moradora do Navegantes. Ele, supostamente cobrou relações sexuais em troca da garantia de trabalho para ela. E o constrangimento público dele, agora, serve de exemplo a outros aliciadores.


Nossa história

Mesmo que muitos e recentes gestores de Lajeado tenham feito vistas grossas à depreciação dos nossos bens públicos históricos, ainda estamos em tempo de recuperar muita coisa. A começar pela manutenção urgente do Parque do Engenho e do centro histórico. Mas é preciso, também, olhar para o Arroio Saraquá. Nesse, ainda restam ruínas dos primeiros moinhos e barragens construídas em Lajeado, mais precisamente entre os bairros Moinhos D’Água e São Bento.


Tiro curto

– O governo de Lajeado pleiteia a instalação de uma nova unidade do Sest/Senat. A ideia é implantar o empreendimento em uma área de seis mil metros quadrados, às margens de uma das rodovias (ERS 130 ou BR-386);
– Em Encantado, o vereador Diego Preto (PP) promete apresentar, em 2019, um projeto para reduzir os subsídios dos parlamentares para a próxima legislatura. Quer baixar para R$ 1 mil. Já em Estrela, quem fez disto campanha em 2016 ainda não se manifestou;
– A volta de Adi Cerutti (PSD) à câmara de Lajeado pode gerar alterações no quadro de secretários municipais. Tudo para manter Mozart Lopes (PP), líder de governo no plenário, como titular, já que ele era suplente de Cerutti. Entre as opções, uma possível ida do vereador Fabiano Bergmann (PP) para alguma pasta;
– Além desta mudança, Douglas Sandri (NOVO) deixa a Secretaria de Desenvolvimento para concorrer a vaga na assembleia. Da mesma forma, o ex-prefeito de Arroio do Meio, Sidnei Eckert (MDB), vai deixar o cargo no Departamento Nacional de Produção Mineral até seis de abril para se habilitar e concorrer;
– Em Brasília, 109 deputados e 28 senadores são favoráveis ao retorno do imposto sindical obrigatório. Boa quinta-feira!

“A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega.”
Albert Einstein

 

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