Desde que os computadores se popularizaram, a criação e evolução dos jogos esteve em ritmo acelerado e os nossos jovens, é claro, ligados em cada atualização disponível. No fascínio por uma nova maneira não só de conhecer histórias, mas escrever e participar de uma de autoria própria, adolescentes e jovens adultos encontram nos games uma maneira de se divertir e conhecer novos amigos.
Proprietário da tradicional lan house do shopping de Lajeado, a In Games, Alex Ricardo Gottert, 36, conta que acompanha a evolução de muitos jovens desde que abriu o negócio, há 15 anos. “Na época em que os jogos começaram a de fato ficarem famosos, os pais tinham medo de os filhos se tornarem pessoas agressivas por estarem se divertindo com games de sobrevivência, por exemplo, mas eu posso afirmar que eu acompanho essa gurizada há muitos anos e só vejo gente inteligente e respeitosa por aqui”, afirma.
De acordo com Gottert, a evolução gráfica dos games acabou por exigir dos jogadores uma capacidade maior de desempenho das máquinas que têm. “Muita gente não tem equipamento bom o suficiente para conseguir competir de igual para igual com outros jogadores ao redor do mundo. Por isso investi mais de R$ 6 mil em cada computador da lan house a fim de conseguir oferecer a eles uma chance a mais de se classificarem melhor nos jogos”, explica.
Profissionalização
Quem pensa que os jogos on-line são apenas passatempo, nem imagina que já existem diversas equipes profissionais a disputar campeonatos mundiais de jogos como o de batalha League of Legends (Lol), o de sobrevivência Counter-Strike Go (CS-Go), o de futebol Fifa 2018 e uma infinidade de outros jogos igualmente complexos.
Em expansão no Brasil, diversas instituições de ensino abriram portas para os games. A Universidade Federal de Santa Maria, por exemplo, organiza competições de Lol no câmpus e a Universidade do Vale do Itajaí, de Santa Catarina, abriu seleção oferecendo bolsas de estudos a alunos com excelente desempenho nos jogos eletrônicos.
Segundo a Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames), há 61 milhões de praticantes de e-sports no país. De olho nisso, equipes de futebol como Flamengo e Corinthians abriram espaço e formaram times profissionais de e-games, que competem em campeonatos nacionais e internacionais. “Hoje, com muito treino e boas máquinas, uma pessoa pode ter um emprego jogando no computador”, revela Gottert.
Os jogadores profissionais que disputam nos maiores campeonatos do mundo ganham salários de alto executivo, disputam prêmios de milhões de dólares e seguem uma rotina dura de treinamento, digna de atletas de alto rendimento.
Diferente do que parece, não é só ficar na frente do computador, também é necessário manter rotina saudável com boa alimentação e exercícios de fortalecimento dos músculos, a fim de prevenir problemas motores como tendinites e atrofia de certos músculos.
Rainha dos games
A estudante de Jogos Digitais, Kassiana Fritz, 19, de Lajeado, foi introduzida aos vídeogames com 6 anos junto a seus primos. “Acho que isso mudou minha vida de uma forma bem significativa, fiz muitos amigos, viagens, me diverti muito e namoro um rapaz que conheci por meio dos games”, se orgulha.
Conta que os jogos são capazes de aproximar pessoas. “Sei que muita gente pensa que isso é algo que isola as pessoas em casa, mas acho que é totalmente o contrário”, defende.
A paixão pelos personagens dos jogos levou Kassiana a frequentar eventos de cosplay, que consiste em a pessoa se vestir exatamente igual ao personagem favorito virtual.
Ao falar de campeonatos, ela conta que já particiopou de competições de Lol e reclama o fato de os jogadores não respeitarem a presença de mulheres nos jogos. “A experiência foi boa e bem tranquila, mas sobre o cenário competitivo em si acho que falta espaço para as mulheres, incentivo ou algo do gênero, pois sei que existem muitas mulheres que se interessam por isso e que gostariam de conquistar o seu espaço no meio competitivo. Já fui muito insultada em jogos on-line pelo simples fato de ser mulher e isso é bem ruim”, revela.
Benefícios
Jogador faz cerca de 20 anos, Augusto Sudbrack, 26, tem um canal de live stream Tavik, no Twitch, portal especializado nesse tipo de gamer. Para quem é novo no assunto, stream é um tipo de vídeo que grava e transmite som e imagem dos jogos ao vivo ou não, voltado a outros jogadores que queiram aprender mais técnicas ou simplesmente conhecer sobre o game por meio de experiências de outros jogadores.
Sudbrack conta que se interessou pelos games tão logo o primeiro computador chegou à sua casa. “Os jogos fizeram com que eu aprendesse inglês, já que a grande maioria não tem dublagem. É necessário saber o que estão propondo no jogo para conseguir alcançar os objetivos. Também, graças aos jogos on-line, foi possível criar inúmeras amizades de todas regiões do mundo e ter contato com diferentes culturas”, relata.
Jogos em rede
Uma prática habitual, os jogos em rede permitem que se batalhe um time contra o outro em busca de pontuações no ranking de jogadores. Assim como Kassiana e Sudbrack, Klaus Krein, 23, e o irmão Bernardo, 17, de Arroio do Meio, se aventuram em jogos coletivos on-line. “Mesmo jogando games diferentes, meu irmão e eu fizemos muitos amigos na região – e também de longe – por meio dos jogos”, revela Krein.
O interesse comum motiva milhares de pessoas a se reunirem em encontros como a Campus Party Brasil, um evento de tecnologia, empreendedorismo, criatividade e inovação, e a ComicCon, uma convenção multigênero de entretenimento voltado à cultura pop.
Outro jovem que usa os jogos como forma de diversão e socialização é o nosso rosto da capa, Lucas Soares Hagemann, 17. Ele que já morou em Maceió usa a ferramenta para manter laços com os amigos de lá.
Hagemann conta que durante as férias escolares passa o dia inteiro jogando. “Claro que a gente tem que prestar atenção no nosso corpo. Se eu fico cansado, vou fazer outra coisa. Mas quando estou em período de aulas faço outras atividades, como academia, e os jogos ficam em segundo plano”, relata.
Com a conclusão do Ensino Médio se aproximando, conta que pretende seguir em uma profissão que envolva a computação. “Sempre me identifiquei com os games, então, se eu puder trabalhar com a área, seja no desenvolvimento ou programação, já estarei realizado”, diz.