Nascido no interior de Cruzeiro do Sul, Alexandre Dullius comanda ao lado da mulher, Lia, uma das empresas de maior sucesso no Vale do Taquari. Marca reconhecida em todo o Brasil como sinônimo de qualidade na moda esportiva, a Rola Moça foi fundada em 1996 e é fruto da necessidade, persistência e competência do casal.
Juntos, conseguiram enxergar as tendências do mercado e transformar uma pequena confecção nascida em um quarto de apartamento em uma das principais referências no segmento. Na fábrica localizada em Estrela, são realizados todos os processos, da criação ao acabamento, passando pelo corte e estamparia das peças que são exportadas para mais de 20 países.
Apaixonado pela marca, Alexandre tatuou o logotipo na pele, uma demonstração do nível de comprometimento com o negócio. Segundo ele, o nome Rola Moça é inspirado no poema A Serra do Rola-Moça, escrito por Mário de Andrade em 1927, uma referência ao Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
Como começou a sua história como empreendedor?
Alexandre Dullius – Comecei como representante comercial. Minhas representadas eram de empresas menores, lá eu recebia a mercadoria para venda tendo produto até outubro e então até fevereiro não tinha mais produto para comercializar. Na época eu trabalhava por pronta-entrega e precisava de produtos nos 12 meses do ano. Posso dizer, então, que a Rola Moça nasceu em 1996 como uma necessidade e foi fruto de outras empresas que tive antes. Então a Rola Moça é uma mistura de acertos e aprendizados que tive pelo trajeto.
Por que a empresa foi um acerto? Qual a diferença para as anteriores?
Dullius – Os erros foram cometidos nas empresas anteriores e com eles aprendemos para na Rola Moça não os cometermos novamente. Então a Rola Moça é um misto de acertos. Eu e minha mulher começamos a Rola Moça em um quarto de apartamento, só nós dois. A cada 15 dias, ela ia para São Paulo comprar tecidos. Em uma mesa de dois por dois, ela cortava as peças e encaminhava para as oficinas de costura, as quais até hoje trabalham conosco. Peças finalizadas e entregues para mim, eu saía para vender. Começamos pequenos, mas essa rotina diária se transformou em experiência e fez com que conquistássemos parceiros.
Como você trabalhou para manter clientes por tanto tempo?
Dullius – Dentro da Rola Moça, nós temos valores implementados desde o princípio da empresa. Sempre fui muito ético com meus clientes e isso fortifica e solidifica a relação. Temos bastante proximidade e continuamos com esse perfil, pois esses parceiros são muito valiosos para nós. Hoje, a fábrica tem um ambiente agradável e bonito para trabalhar, receber e reforçar a fidelização e confiança. Desde 2004, não atuou mais como representante, mas continuo visitando ou convidando os parceiros da Rola Moça para fazer um tour e mostrar todos os nossos processos. Dessa forma, temos relações comerciais de 30 anos.
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Qual foi o principal salto para o pequeno negócio se tornar uma grande empresa?
Dullius – Sempre fizemos pesquisas em revistas e novelas aliadas às pesquisas de venda e de rua. Tendo essas referências definidas, de 15 em 15 dias, a Lia viajava para São Paulo e comprava o tecido. Começava, então, a parte prática, a produção. O tecido estando na empresa, era cortado e enviado para as oficinas de costura. Após esses processos, eu podia vender as nossas peças que eram de moda casual. Sempre atentos às solicitações dos clientes, começou a surgir o pedido por supplex. Uma cliente falou que nós tínhamos a capacidade para desenvolver esse produto. Não se fazia muito ideia do que era, mas consideramos e apostamos. Ali foi o grande salto e também o grande desafio, pois já estávamos com uma empresa estruturada. Em março de 2001, fizemos o teste de comprar um rolo de supplex e aí já estávamos mudando a nossa linha de atuação. Essa foi a nossa grande decisão: ir para a linha fitness.
Como foi essa tomada de decisão?
Dullius – Em dois meses, percebemos que não conseguiríamos continuar com as duas linhas e fazer um bom trabalho. Tivemos que optar. Apostar em um ramo novo, o fitness, ou continuar naquilo que já éramos bons, a modinha. A decisão era minha, pois eu era o único que vendia na época. Optei pelo supplex. Tivemos tempo de nos aperfeiçoar, melhorar corte, modelagem e serigrafia. Fomos um dos primeiros a trabalhar com essa linha e até hoje isso nos incentiva e motiva a buscar o melhor, a excelência.
Como foi esse processo de crescimento da equipe ao longo dos anos?
Dullius – Começamos eu a Lia, mas com o aumento da venda o grupo crescer se tornou uma necessidade para que a empresa também crescesse. De um casal, passamos a ser quatro funcionários, 50, então cem e hoje estamos com 130 colaboradores. Com isso, não é mais possível estar presente em todos os setores, em contato com cada pessoa que está na Rola Moça. Logo, tornou-se importante delegar responsabilidades. Em 2014, determinamos o organograma de cargos da empresa e, assim, formamos as pessoas que nos representam. Essa evolução requer um aperfeiçoamento contínuo de toda a equipe, algo que também trabalhamos com a nossa equipe de representantes. Não queremos apenas cumprir tarefas e fazer o básico mas sim oferecer algo de diferente. A pergunta que fazemos constantemente é: o que tenho feito de diferente?
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Vocês também fabricaram outros produtos após a decisão de focar na linha fitness?
Dullius – Sim, em 2008 nós terceirizamos tênis, jeans e acessórios por um período. A ideia era estabelecer uma estrutura ao redor da empresa para que a marca atendesse por completo o consumidor. Quando começamos a fabricar os tênis, percebemos a necessidade de trabalhar com pedidos. Até então o sistema era de pronta-entrega. Esse acabou sendo outro grande salto, pois se eu vendia tênis por pedido por que não poderia fazer uma coleção e vender dessa mesma forma? A partir disso, concentramos nossas vendas no pedido. Tivemos que passar por uma reestruturação com o propósito de entregar tudo o que vendíamos e somente o que vendíamos no prazo de entrega agendado. É uma relação de confiança. Para o lojista, é de suma importância receber quantidades, cores, tamanhos conforme o solicitado e para atendê-lo da melhor forma fomos criando dispositivos de segurança e organização. Hoje não trabalhamos mais com esses produtos terceirizados, mas foi uma experiência importante para a evolução da empresa.
Como se adaptar a esse crescimento e às mudanças necessárias para manter uma trajetória ascendente?
Dullius – Nós fomos nos profissionalizando muito. A partir de 2006, nos cercamos, ainda mais, de pessoas proativas e qualificadas. Eu me envolvo em todos os projetos, conheço claramente cada processo, estando presente na produção e vendas. Já a minha mulher lidera todo o desenvolvimento de produto e criação. Porém não fazemos nada sozinhos! Temos uma retaguarda muito forte e qualificada para tornar tudo possível. Profissionais muito importantes que ajudam nas tomadas de decisão, cada um em sua área. De 2012 para cá, nos tornamos uma empresa ainda mais verticalizada, ou seja, nossos processos são internos e com fluxo ordenado. Sabemos que isso exige um investimento maior em um primeiro momento, mas os resultados de médio e longo prazo são mais agilidade, maior controle de qualidade e grande assertividade. O tênis e o jeans não são mais fabricados, mas foram importantes dentro do processo, pois nos fizeram perceber que o maior desejo estava no nosso produto, e sobre ele nós temos total controle.
Muitos empresários têm dificuldade em delegar tarefas…
Dullius – Por que uma empresa cresce? Porque ela delega, compartilha a responsabilidade. Então você pode fazer cursos e se aperfeiçoar, mas precisa aprender a confiar. Essa pessoa para quem você delega pode cometer erros e o custo desse erro é de quem delegou. Tem que estar disposto a absorver. O importante é que as pessoas aprendam com os erros, para não cometê-los novamente. Isso faz parte da política da empresa. Claro que é preciso ter controle e estar por dentro dos processos. Nós trabalhamos intensamente, eu, a Lia e a nossa filha Ana. Mas precisamos estar cercados de pessoas empreendedoras. O livro do fundador da Apple, Steve Jobs, mostra isso claramente. Ele sonhava com os produtos, tinha as ideias, mas era a equipe que desenvolvia. O mercado hoje está muito rápido, a tecnologia mudou muito e se fala muito em e-commerce. A Rola Moça está com loja virtual para lojistas onde eles têm acesso ao nosso estoque. Se antes meu representante levava as peças na van, hoje o lojista tem acesso a todo o nosso estoque virtual em tempo real. Além disso, nós temos a plataforma para o consumidor final.
Qual foi a principal dificuldade pessoal nesse processo de crescimento e profissionalização da Rola Moça?
Dullius – A minha principal dificuldade foi a transição de representante para gestor. Eu tive que parar de viajar e deixar de atender os clientes para passar a formar, assistir e treinar novos representantes que assumiriam esse posto. Com isso eu pude estar presente na indústria de fato, tornando-a preparada para atender a demanda do crescimento. Foi um reposicionamento ao qual tive que me adaptar.
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A crise chegou a afetar os resultados da empresa?
Dullius – Desde 2014, fala-se em crise. Eu acredito que inicialmente ela não esteve tão presente, porém, está se fazendo no momento. A Rola Moça se manteve ao longo destes anos sem sentir muito impacto. O que posso afirmar sobre essa situação é que ela nos incentiva a repensar a forma como os processos são realizados e também gera um movimento de mercado em busca pelo novo. Nesse sentido, estamos desenvolvendo o projeto de franquias Rola Moça, uma ideia que a equipe toda está se engajando e ansiosa para colocar em prática, iniciando-o com a loja conceito no centro de Lajeado.
A empresa já trabalha pensando em uma futura sucessão familiar?
Dullius – Para nós a sucessão é muito tranquila. A nossa filha, Ana, já está envolvida e inclusive cursando faculdade de Moda em Caxias do Sul. Ela nasceu “dentro” da Rola Moça, em 1997. Vivenciou nossas dificuldades, nossas batalhas, nossas conquistas. Está muito bem integrada no ambiente. Ter a nominação de um cargo é uma coisa, outra é conquistar esse direito. Para isso, é preciso estar disposto a ajudar e questionar ao ter dúvidas. A Ana tem conquistado seu espaço com maturidade e dedicação o que nos deixa extremamente felizes.
Quando você decidiu trabalhar na área da confecção?
Dullius – Tinha 13 anos quando comecei a trabalhar na Casa Americana, realmente por necessidade. Até hoje sigo no ramo, o que considero um grande acerto, pois assim fui me especializando sempre na mesma área. Trabalhava em turno integral, sempre com carteira assinada, e estudava à noite. Aos 17 anos, me emancipei e passei a ser sócio de uma fábrica de jeans, onde tínhamos somente duas máquinas. Quando completei 18 anos, saí dessa sociedade e comecei a ser representante comercial. Mesmo com todas as dificuldades, foram as vendas que mais me encantaram e que realmente impulsionaram a criação da Rola Moça.
Por que decidiu se tornar representante?
Dullius – Na Casa Americana, ouvindo histórias e vendo os representantes chegarem, ficou muito claro que eu queria trabalhar com vendas. É um ramo em que você faz o seu salário. Na época eu não estava preparado para isso, mas tendo o propósito de me tornar um bom vendedor fui em busca de informação, organização e bom atendimento, então, acredito que concretizei esse meu objetivo. Poderia vender imóveis, carros, eletrodomésticos… mas sempre escolhi a confecção e o atendimento da indústria para o comércio. Dessa forma, fui minimizando os erros, aprendendo com eles, e sendo cada vez mais assertivo.
O que é preciso para se tornar um empreendedor de sucesso no Brasil?
Dullius – É preciso estar disposto a trabalhar. Há uma ânsia muito grande pelo empreendedorismo e para satisfazê-la acho interessante lembrar de um espaço muito valorizado dentro das empresas que é aquele em que você pode ser um empreendedor mesmo não sendo proprietário, ou seja, ser um intraempreendedor. As pessoas que hoje nos cercam na estrutura são intraempreendedoras e são essenciais para o andamento da empresa. Quanto ao Brasil, nós nos dedicamos para fazer o melhor e de forma correta. Nós acreditamos no nosso país e que podemos torna-lo melhor.
Por que Rola Moça e o que ela representa pra você?
Dullius – Rola Moça foi um nome que, quando eu e a Lia ouvimos, nos interessou, achamos bonito e agradável. Por trás desse nome, existe o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e um poema lindíssimo de Mário de Andrade que conta uma história de amor. Quando o logotipo foi desenvolvido, ele já foi pensado para atingir um reconhecimento e se tornar um símbolo. Hoje a marca é um orgulho para nós, ela atingiu uma dimensão que jamais imaginamos. Surgiu de uma história de amor e criou outras tantas com os nossos colaboradores, parceiros, clientes, família e amigos.