A decisão de mandar o Exército às ruas do Rio de Janeiro ultrapassa o campo da segurança pública. Neste momento de exceção, recai sobre a sociedade, em especial as classes mais pobres, o ônus dessa medida.
É nas comunidades, nas favelas, onde as operações de combate ao crime acontecem. A rotina dessas famílias será atingida. Os direitos básicos da população residente nas áreas deflagradas não podem ser postos de lado.
Por isso, é fundamental que o governo federal seja transparente e explique como funcionarão os mandados coletivos, que têm o pretexto de ampliar a atuação das forças de segurança em locais estratégicos. Na prática, há riscos de excessos e de inocentes serem prejudicados.
A análise sobre a intervenção leva para um caminho de um ato político.
O presidente Michel Temer parece buscar dois objetivos distintos com o chamamento das forças armadas. Primeiro, criar um fato novo e desviar o foco sobre a possível derrota da Reforma da Previdência. Depois, uma tentativa de se recolocar na corrida eleitoral, pois uma ação ostensiva sobre o crime organizado carioca produzirá efeitos até outubro.
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O Exército já esteve em outras ocasiões ocupando as ruas do Rio de Janeiro. A novidade fica por conta da centralização de comando de toda a segurança pública. Nessas experiências, os efeitos foram efêmeros. Houve um recuo inicial da violência. Revertido na sequência, quando as tropas voltam à rotina.
Ficou claro que o anúncio foi um evento improvisado. Foi anunciado, sem um plano de atuação. Frente à incompetência do governo estadual em encontrar saídas, se institui um mecanismo parcial.
Importante ressaltar, o Exército é treinado para a guerra. O Estado usa sua força para combater um inimigo infiltrado. Trata-se de um teste de fogo para os militares. Em meio a essa mistura entre a necessidade e o oportunismo, o presidente Temer alterou o rumo dos debates políticos no país. Tal avaliação leva a sociedade a crer que a intervenção é uma ação midiática que expõe toda a incompetência dos governos. A União se volta para uma competência do Estado, sem ter cumprido com seu dever. Afinal, não há refinaria de cocaína no morro. A droga e as armas chegam pelas fronteiras.
Editorial
Teste de fogo
A decisão de mandar o Exército às ruas do Rio de Janeiro ultrapassa o campo da segurança pública. Neste momento de exceção, recai sobre a sociedade, em especial as classes mais pobres, o ônus dessa medida. É nas comunidades, nas…