Com o objetivo de reduzir o número de intervenções médicas desnecessárias, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou novas recomendações sobre o parto. A lista com 56 medidas alerta, principalmente, sobre o uso indiscriminado de medicamentos para acelerar o nascimento e o excesso de cirurgias cesarianas e de episiotomia.
Conforme a entidade, são registrados cerca de 140 milhões de nascimentos por ano, a maioria deles sem complicações. Mesmo assim, nas últimas duas décadas, os profissionais de saúde ampliaram o número de intervenções que antes eram realizadas apenas em último caso.
Segundo a OMS, tais procedimentos não são apenas desnecessários, mas também causam na mãe uma experiência negativa durante o nascimento de um filho. Por isso, a entidade orienta que nenhuma dessas intervenções faça parte dos procedimentos de rotina e reforça o direito da mulher quanto às decisões sobre o momento.
Para reduzir o uso de medicações, a agência recomenda ainda técnicas para o alívio da dor, como relaxamento muscular, música ambiente, técnicas de respiração, massagem e aplicação de bolsas de água quente, desde que sejam solicitadas pela gestante.
Opção pelo parto normal
Grávida faz 31 semanas, Sabrina Azevedo, 30, pensava em dar à luz por meio de cirurgia, devido à comodidade e o receio de sentir dor. Após conversar com o médico e perceber a quantidade de benefícios para ela e para o bebê, mudou de ideia e optou pelo parto natural.
“A minha recuperação vai ser mais rápida, assim como o início da lactação, o que facilita a amamentação”, ressalta. Além disso, aponta que o desenvolvimento do bebê fica mais completo por meio do parto normal.

Juliana e Fábio esperam pela filha Rafaela. Para eles, menos intervenções siginifica bebê com mais saúde
Mãe de primeira viagem, Sabrina tem previsão de dar a luz à pequena Cecília no fim de abril. Para ela, a opção pelo nascimento natural dará mais segurança para ela e para a filha, além de ser um ensaio para o desejo de ser mãe pela segunda vez.
Já a moradora do Jardim do Cedro, Juliana Freitas, 27, preferia a opção pelo parto normal para a filha Rafaela. Porém, como faz menos de dois anos que teve complicações em um parto, cuja criança não sobreviveu, sabe que terá de realizar o nascimento por cirurgia.
Ao lado do marido Fábio Lima, 37, Juliana decidiu ter o parto mais próximo possível do natural. “Queremos que a Rafaela nasça no tempo dela, por isso, não marcamos uma data”, aponta. Para o casal, quanto menor a quantidade de intervenções no nascimento mais saudável será o bebê.
Entrevista
“Quanto mais se pesquisa, mais ficam evidentes os benefícios do parto natural.”
A Hora – É possível mudar o índice alarmante de cesarianas?
Ginecologista Fernando Bertoglio – A nossa sociedade de ginecologia já bate nessa tecla faz tempo e busca auxiliar algumas iniciativas. Esse processo de mudança vai ocorrer em longo prazo. Quem trabalha na obstetrícia há mais tempo nota que a própria preferência das mulheres está mudando, e mais pacientes começam a desejar o parto normal. Ainda é comum mulheres preferirem a cirurgia por medo ou mesmo por acreditarem em mitos, e a sociedade médica sabe disso. Então é um trabalho de formiguinha. A resposta que desejamos não virá de um ano para o outro.
Como o parto influencia no desenvolvimento da criança e na recuperação da mãe?
Bertoglio – Em relação à mãe, é visível. A cesárea é uma cirurgia. Em um parto normal, a mãe se recupera muito mais rápido e em função disso a interação dela com o bebê fica mais fácil. Quando a mulher é operada, tem dificuldade de movimentação e não conseguirá fazer as coisas sozinhas. Quando a mulher entra em trabalho de parto, a lactação ocorre mais rápido. Por isso, o número de mulheres que não amamentam é maior no caso das cesarianas. Estudos demonstram também que o acabamento neurológico da criança ocorre no canal do parto. Quanto mais se pesquisa, mais ficam evidentes os benefícios do parto natural.
A OMS também apontou preocupação quanto ao aumento no uso de medicamentos durante a gestação. Por que isso ocorre?
Bertoglio – É uma situação que também não é recente para os obstetras. As medicações não podem ser utilizadas aleatoriamente durante a gravidez. Quando você vai utilizar uma droga durante a gestação, é fundamental a confirmação científica de que não causará nenhum mal e será necessário. Em alguns casos pontuais, e de extrema necessidade, serão usadas medicações com alguma chance de risco. Mas isso é a exceção. O ideal é não usar nada e se ater a suplementos que beneficiam as gestantes, como o ácido fólico antes de engravidar e o ômega três durante a gravidez. São substâncias que têm comprovação científica de melhora.
Qual o melhor caminho para uma gestação saudável?
Bertoglio – O ser humano nasce de parto normal há milhares de anos. Tudo que faz bem fora da gestação também faz bem durante a gravidez. Uma alimentação saudável fará bem para a mulher em qualquer momento, mas ainda mais durante a gestação, quando outro ser se desenvolve. Atividade física também, mas com uma orientação específica para a gestante. A mulher que tem uma vida saudável antes de engravidar não sentirá grandes mudanças. Quem não tem uma vida muito saudável pode aproveitar o momento para mudar. Mas não existe uma fórmula mágica.
Principais recomendações da OMS
Intervenções
É aconselhado o mínimo de intervenções durante o parto. Procedimentos como a episiotomia, corte feito para ampliar o canal vaginal, não pode fazer parte da rotina.
Oxitocina
Hormônio sintético administrado para acelerar o nascimento, a Oxitocina não deve ser utilizada indiscriminadamente. Estudos mostram que seu uso é necessário em um número mínimo de casos.
Dilatação
O padrão utilizado antes da publicação estabelecia um ritmo de dilatação de 1cm por hora. Agora, um parto é considerado pró-ativo se a mulher apresenta 5 centímetros de dilatação nas 12 primeiras horas.
Posição
A gestante deve ter o direito de escolher a posição em que terá o bebê e levar o tempo necessário para tanto. Também deve ter a liberdade de caminhar pela sala de parto.
Decisões
Segundo a OMS, os médicos e enfermeiros precisam respeitar a grávida como protagonista do parto. Portanto, ela deve participar de todas as decisões relacionadas ao nascimento.