O Vale está para peixe 

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O Vale está para peixe 

Piscicultura é alternativa para aumentar a renda nas propriedades. Em Roca Sales, 300 criadores produzem 120 mil quilos ao ano. Desafio é garantir a assistência técnica e elevar o consumo. Feira destaca potencialidades do setor.

O Vale está para peixe 

A criação de peixes, proteína animal mais consumida no mundo, encontrou correnteza favorável no Vale do Taquari. Em Roca Sales, 300 criadores produzem de 80 a 120 toneladas ao ano. A espécie mais comum é a carpa (capim, húngara, prateada e cabeça grande), além da tilápia. No total, são 46 hectares de área em 353 açudes.

Conforme relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o consumo de pescados no Brasil aumenta a cada ano. Passará dos 9,6 quilos consumidos por pessoa em 2015 e chegará a 12,7 quilos em 2025.

De olho nessas projeções, o empresário Sigmar Scheer, de Fazenda Lohmann, projeta elevar a oferta do pescado. Além dos 32 açudes na propriedade, mantém parceria com outros 50 criadores. Eles recebem os alevinos e orientação técnica para fazer a engorda. O abate é feito em um abatedouro criado há seis anos.

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Por dia, são abatidos até 1,2 mil quilos de carpas e tilápias. “É um excelente negócio. Cresce em média 30% ao ano. Hoje a demanda é maior do que a oferta. Deixamos de atender um cliente cuja demanda chegaria a 500 quilos de tilápia por semana por falta de matéria-prima”, comenta.

O crescimento é justificado pelo aumento da procura por alimentos mais saudáveis. “É uma carne magra, sem teor de gordura e de fácil digestão Pode ser consumida por todos, sem exceções”, afirma.

Ao cliente, são oferecidos diversos cortes prontos para o preparo, cujo preço varia entre R$ 12 e R$ 25,50.

Entre os desafios, destaca a necessidade de qualificar quem atua na atividade. “A maioria dos produtores ainda está despreparada. Enfrentam problemas com o manejo e a qualidade da água, construção dos açudes e alimentação. Com isso temos um peixe fora dos padrões exigidos pelo consumidor”, observa.

Outro cuidado é a hora do abate. Logo que saem do viveiro, as carpas precisam ainda ficar um dia em tanques com água limpa para fazer a depuração. “Eles vêm estressados e quentes. Essa água exatamente é pra fazer a limpeza do peixe, pra esfriar, senão, ele não larga a sangria”, explica.

A retirada correta do sangue é importante para a qualidade da carne. “Senão fica com gosto mais forte, desagradável ao paladar”, ensina. O ponto ideal de retirada exige atenção. “Peixes magros, com pouca carne, têm mais espinhos. Ao comprar um produto assim, muitos deixam de consumir”, opina.

Para elevar as vendas e conquistar novos mercados, Scheer aguarda o registro no Serviço de Inspeção Estadual. Além do aumento dos abates, a estrutura será ampliada.

No Vale do Taquari, existem mais de 5,2 mil piscicultores, cuja área alagada passa de dois mil hectares. Só na Semana Santa, a venda de pescado movimenta R$ 3,5 milhões.

Feira incentiva o consumo

Com o objetivo de valorizar esse segmento e incentivar ainda mais o consumo, o município realiza entre os dias 9 e 11 de março a 10ª Fecarpa.

Conforme o cozinheiro João Manoel Moraes da Silva, o evento agrega valor à piscicultura. “Faz o consumo aumentar. Temos a chance de destacar os benefícios da carne em comparação com as demais, que muitas vezes fazem mal à saúde”, comenta.

Dono de restaurante por anos, servia peixe semanalmente. Hoje cozinha por encomendas. Prefere preparar carpa-capim, pois a carne é mais saborosa e sem gordura. Entre os pratos com a iguaria, estão o grelhado na manteiga, recheado com legumes, assado no forno com farrofão à vinagrete.

Mais açudes 

A construção de 28 açudes em 22 propriedades foi concluída no fim de dezembro. Conforme o chefe de escritório da Emater/RS-Ascar, Deoclesio Piccoli, serão mais três hectares de área inundada. “Projetamos um aumento de até 15 toneladas por ano”, calcula.

Um dos novos criadores é Juliano Cagol, da Linha Júlio de Castilhos. A intenção é criar carpas ou tilápias. “Será uma renda extra”, afirma. Ele destaca o incentivo do município, porém, cita o preço como uma das dificuldades. “Apesar de ser mais saudável, muitos não têm condições de comprar”, observa.

Outra iniciativa para incrementar os negócios parte do Executivo. Segundo o secretário da Agricultura e Desenvolvimento, Sandro Kappler, a adesão ao Susaf é uma forma de elevar as vendas e conquistar novos mercados em todo estado.

Bom para o coração

O ideal é que o peixe esteja no prato entre duas a três vezes por semana, em porções de 100g. Ao contrário da carne vermelha, o alimento é de fácil digestão. Ricos em cálcio (bom para os ossos), zinco (auxilia na imunidade), iodo (ajuda no funcionamento da tireoide), vitaminas, ácido fólico e principalmente ômega 3 (ácido graxo popularmente conhecido como gordura boa). Contribui para a prevenção de doenças cardiovasculares e aumenta reações anti-inflamatórias e até o câncer. Também melhora a memória e a concentração.

Para manter todos esses nutrientes, são necessários alguns cuidados. Cor vistosa, olhos salientes e odor característico da carne são critérios para avaliar na hora da compra. A carne também precisa estar em temperatura de 5ºC negativos e deve ser mantida na geladeira de casa.

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