O universo das músicas infantis cresceu muito na última década. A grande oferta de conteúdos como Galinha Pintadinha, Bob Zoom, Patati Patatá e demais audiovisuais infantis dá opções aos pais e filhos na hora de aprender e se divertir.
De acordo com o educador musical, Ricardo Petter, 44, a escolha desses produtos exige cuidados porque, falando em educação, os vídeos podem esconder uma grande lacuna entre aprendizado e distração.
As diferentes necessidades ao longo do crescimento na infância fazem com que, apesar da classificação indicativa, os produtos não sejam os mais adequados dependendo da fase de aprendizado de cada criança, diz Petter.
Um exemplo são os vídeos musicais extremamente agitados, com imagens cheias de informação que trocam rapidamente. “Um bebê de até 1 ano e meio não consegue acompanhar e compreender a linguagem acelerada de alguns vídeos infantis, porém, a curiosidade da criança praticamente a paralisa. O bebê não aprende nada, é apenas distraído e isso não é bom para o desenvolvimento”, afirma.
De acordo com Petter, a música é uma forma de linguagem e deve ser usada de forma adequada. “A nossa cultura aprendeu a simplificar e subestimar o papel da música na fase de aprendizado das nossas crianças. Não é apenas diversão ou distração, é uma linguagem que trabalha desde a coordenação motora até o afeto e aumento da potência cognitiva”, explica o educador.
Com atuação no ramo faz 22 anos, Petter defende que a música na primeira infância serve para ser compartilhada entre pais e filhos, aumentando o nível de aprendizagem como um todo. “Quando se fala em aprender, pensamos logo em elementos básicos da escola, mas os pais precisam ampliar essa definição. Também se aprende a socializar, a sentir carinho pelos outros e inclusive a brincar”, diz.
Música para educar
Utilizar sons é uma maneira divertida e interativa de introduzir certos aprendizados à criança. À medida em que vai crescendo, adquire novas capacidades e é possível uni-las uma a uma até que consiga executar movimentos complexos. “Observando as crianças, percebemos que primeiro elas se familiarizam com o sons, depois aprendem a cantar, seguido por ritmar batidas de palmas à música, entre outros desenvolvimentos psicomotores que, se treinados em conjunto, garantem uma criança mais sociável e capaz de notar o outro no mundo”, cita Petter.
Ao falar sobre usar as músicas como ferramenta para distração dos filhos, Petter diz que entende a necessidade de fazê-los parar por alguns instantes. “Às vezes os pais precisam lavar a louça, fazer o almoço e a presença dos filhos pode atrasar os afazeres. Mas que não se tome esse como o único momento da criança entrar em contato com a música. Muitos aprendizados necessitam da presença e orientação de um adulto”, alerta.
O contato adequado com a música desde a infância oferece à criança uma formação mais rica e completa. “Cantar, dançar ou tocar uma música em conjunto ensina aos pequenos paciência, disciplina, responsabilidade, facilita o trabalho em grupo e impõe limites. Afinal, para um trabalho grupal dar certo, é necessário saber o que se pode ou não fazer”, revela Petter.
Ele reflete sobre a maior dificuldade em se educar crianças hoje. “Hoje a hiperrealização das crianças é um fenômeno que dificulta a aprendizagem de limites. Os pequenos têm tudo, praticamente comandam as próprias vidas sobre o que vestir, o que comer, escutar e consumir. Isso gera uma grande carência, por mais incrível que pareça, em limites”, analisa.
Segundo Petter, não dá para a criança ter tudo sempre. A ideia de “dar tudo o que eu não tive ao meu filho” acaba por deturpar valores e dificultar o convívio no presente e no futuro.
Companhia Aprendiz
Pensando neste momento em família de desenvolvimento das crianças aliado à boa música, Petter se juntou a outros músicos da região para formar o espetáculo infantil Cantando a Gente se Entende. A Companhia Aprendiz tem como essência a influência que a música tem no desenvolvimento da sensibilidade dos pequenos na afetividade, nos vínculos interpessoais, o cuidado consigo e com os outros e respeito às diferentes manifestações culturais.
Constituída em 2016, as apresentações convidam pais e filhos a se unirem em um momento de aprendizado e nostalgia, mescando ritmos autorais com clássicos da música infantil. “O teatro no palco, a interação com os pequenos e as brincadeiras com todos mexem com as noções da criança sobre si e sobre o outro”, orgulha-se.