Para quem trabalha no campo, ter uma propriedade diversificada ajuda a garantir a rentabilidade. E muitas experiências mostram que essa é uma alternativa interessante, que faz bem para o bolso, à saúde e possibilidade a sucessão.
Desde jovem, o produtor Hilário Bergmann, 61, de Paredão, Sério, consorciou o tabaco com outras atividades – como grãos, suínos e mais recentemente a fruticultura. “Pretendemos reduzir o cultivo, mas não há atividade mais lucratividade, a um custo baixo e com tão pouca área”, afirma.
Ao lado da mulher Neusa, 54, e dos filhos Francisco, 31, e Gabriel, 21, que deixaram o emprego na cidade e retornaram à propriedade, plantaram 200 mil pés de fumo neste ciclo. Na safra passada, receberam uma média de R$ 145 por arroba (15 quilos), valor considerado excelente. “Projetamos um aumento de R$ 10 este ano”, estima Francisco.
Conforme Bergmann, o tabaco é a única atividade com baixo investimento, boa rentabilidade e um curto espaço de tempo. “Em outras atividades, passamos anos pagando financiamentos, sem lucro. As oscilações de preço, dificuldades para comercializar e falta de crédito inibem muitas vezes a diversificação nas lavouras”, ressalta.
Além dos 24 hectares de terra da família, Francisco arrendou outros dez para plantar fumo. Construiu mais um galpão e um forno. Preocupado com a saúde e com o processo de sucessão, o patriarca aposta em atividades como suinocultura e produção de uvas e de nozes para aumentar a rentabilidade.
A mudança diminui, aos poucos, a área de tabaco e conta com o estímulo dos filhos e exigiu, além de investimento, planejamento. “Faremos adaptações no chiqueiro. Com isso, passaremos a engordar seis lotes por ano”, conta Gabriel. Implantada faz 14 anos, a estrutura tem capacidade para alojar 310 animais, cujo faturamento bruto chega a R$ 20 mil a cada três meses.
Outra aposta é o cultivo de nozes, 400 pés, iniciada após Bergmann assistir a uma reportagem na televisão. Passados dez anos, a produção alcançou 200 quilos no último ciclo. Com pouca orientação técnica, o pomar sofreu com o ataque de pragas e doenças como a ferrugem. O fruto é vendido para uma empresa de Cachoeira do Sul por R$ 15 o quilo. “Esperamos colher mil quilos este ano”, adianta Neusa.
Em meio ao pomar, criam ovelhas. A maior parte da carne é destinada para o consumo da família. O parreiral de uvas, das variedades niágara, francesa e bordô pode se transformar em mais uma alternativa de renda. “Produzimos 360 litros de vinho colonial. Quem sabe no futuro possamos vender”, diz Hilário.
Sem apoio financeiro
Na propriedade da família, todo investimento em culturas alternativas foi feito sem apoio financeiro do governo federal, o contrário do que foi acordado durante a Convenção-Quadro para o Controle de Tabaco, primeiro tratado internacional de saúde aprovado por 192 países-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desde 2005, quando foi criado o programa nacional de diversificação, foram apenas duas chamadas públicas voltadas à assistência técnica, em 2011 e 2013, totalizando a liberação de R$ 60 milhões. “Ninguém ajudou. Levei muito tombo tentando diversificar. Não é uma hora para outra, precisa ter persistência e muita força de vontade”, conta Hilário.
Entrevista
Opções para diminuir a dependência
A 17ª edição da Expoagro Afubra ocorre entre os dias 21 e 23 de março, em Rio Pardo. Considerada a maior feira da agricultura familiar, traz diversas opções para o fumicultor diminuir a dependência da cultura e diversificar a propriedade. O coordenador da feira, o engenheiro agrônomo Marco Antônio Dornelles, fala dos desafios para incentivar a diversificação das lavouras.
A falta de apoio financeiro à diversificação é um empecilho?
Marco Antônio Dornelles – É importante para todos os agricultores, não apenas aos fumicultores. Nós, da Afubra, incentivamos a diversificação, pois isso fortalece a renda. Quem quer reduziu ou parar de plantar fumo precisa ter, além de apoio financeiro, assistência técnica, buscar conhecimento e estar organizado em cooperativas e associações.
De que forma a Expoagro ajuda a reduzir a dependência do tabaco?
Dornelles – A questão é não depender de uma atividade produtiva, seja ela fumo, leite, suínos, aves ou grãos, pois a variação do mercado de cada uma dessas tem anos melhores e anos piores ou de maior ou menor oferta. A decisão de plantar tabaco é do produtor. O grande desafio é produzir o que for contratado com a empresa, priorizar a qualidade e a quantidade conforme a disponibilidade de mão de obra da família.
Considerações finais
Dornelles – A Expoagro Afubra é uma oportunidade para conhecer novas tecnologias e adquirir conhecimento. Em parceria com vários órgãos como Emater, Embrapa e governo, promovemos discussões e tentamos mostrar alternativas para manter e aumentar a diversificação nas lavouras, com foco na produção de alimentos.