“Ser caminhoneira é a minha liberdade”

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“Ser caminhoneira é a minha liberdade”

Motorista de caminhão faz cinco anos, Carine Patrícia Azeredo, 38, de Estrela, largou o trabalho nos frigoríficos para se dedicar à tão sonhada profissão. Rodando o país inteiro em seu Scania 440, a caminhoneira fala sobre os desafios de ser…

“Ser caminhoneira é a minha liberdade”

Motorista de caminhão faz cinco anos, Carine Patrícia Azeredo, 38, de Estrela, largou o trabalho nos frigoríficos para se dedicar à tão sonhada profissão. Rodando o país inteiro em seu Scania 440, a caminhoneira fala sobre os desafios de ser mulher em uma das profissões mais masculinas do mundo.
• Por que você escolheu essa profissão?
Eu trabalhei muitos anos no chão de fábrica em um frigorífico em Encantado. Me sentia insatisfeita em ficar em um local fechado por tantas horas, então, resolvi colocar um sonho em prática. Fiz carteira para caminhão há sete anos e há cinco comecei a trabalhar como caminhoneira. Não consigo nem descrever a sensação de liberdade que tive quando comecei a viajar. Ser caminhoneira é a minha liberdade. Eu amo muito o que faço e não trocaria de profissão por nada neste mundo.
• Fale sobre os desafios de ser caminhoneira em um ramo historicamente masculino.
Olha, tem os seus dias. No início, sofri muito preconceito em todas as partes possíveis. Foi muito difícil conseguir o primeiro emprego para adquirir experiência. Era aquela velha história: quem não tem experiência não consegue emprego. E, como sou mulher, a situação era pior. Fiquei muito tempo procurando trabalho. Teve alguns lugares onde fui fazer entrevista e logo de cara recebi um não, mas um amigo meu, também sem experiência, entrou de primeira. A gente sente né. Na estrada ainda existe bastante preconceito. Gente que faz de conta que não existo, viram a cara porque sou mulher e não me dão credibilidade. Mas eu aprendi a erguer a cabeça e levar tudo na esportiva. Aos poucos fui conquistando o meu espaço. Hoje não existe lugar onde eu me sinta mais em casa do que dentro do meu caminhão.
• Quais foram os aprendizados nestes cinco anos?
Eu cresci muito como ser humano. Já conheci muitas pessoas e lugares e acredito que nunca vou me cansar disso. Viajo para São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul e em cada lugar eu vejo coisas novas, conheço mais pessoas e aprendo a respeitar ainda mais os outros. Mesmo o meu trabalho sendo um ambiente hostil para as mulheres, aprendi a impor respeito e conquistar o que sempre quis. A vida na estrada poderia ser melhor, com estradas em melhores condições, pedágios mais baratos e, principalmente, respeito aos caminhoneiros. Já aconteceu de eu rodar 800 quilômetros e não receberem a minha carga simplesmente por eu ser mulher. Eu até fico triste, mas sei que, diferente de algumas empresas, outras vão sempre me aceitar. Hoje muitas das que me disseram não me chamam para trabalhar com elas. E eu não vou, porque, acima de tudo, aprendi a valorizar quem valoriza a mulher.

Victória Lieberknecht: victoria@jornalahora.inf.br

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