Neurociência na educação abre ano letivo em Lajeado

Lajeado - Conhecimento

Neurociência na educação abre ano letivo em Lajeado

Referência no assunto, Leonor Guerra fala para 1,2 mil professores

Neurociência na educação abre ano letivo em Lajeado
Lajeado

Um aluno consegue prestar atenção na aula enquanto o celular não para de receber notificações? Como funciona a memória? O que acontece com o estudante quando ele tem que escolher entre estudar para uma prova e ir para uma festa? Essas são algumas das questões que devem nortear a palestra de abertura do ano letivo da rede municipal Lajeado, na manhã de hoje. O evento será ministrado pela médica Leonor Bezerra Guerra, que apresentará o assunto “Cérebro e Aprendizagem: um diálogo entre neurociência e educação”.

Cerca de 1,2 mil professores são esperados no Teatro da Univates. Com mais de 20 anos de pesquisa na área, a médica especialista em Neuropsicologia pretende explicar como o cérebro funciona durante o processo de aprendizagem. Desde então, a mineira estima já ter alcançado cerca de 40 mil educadores, entre palestras, cursos de extensão e capacitações.

Ela observa que, em função dos diversos fatores que compõem o aprendizado – como os contextos familiar e social – é complicado fazer pesquisas de neurociência em sala de aula. Contudo alguns indícios de áreas como a neuropsicologia e psicologia cognitiva mostram que o aluno deve ser o protagonista do aprendizado. “O cérebro que tem que aprender é o cérebro que tem que funcionar em sala de aula. Mais do que o professor falando durante 50 minutos, eu preciso do aluno pensando, lendo e discutindo sob orientação do professor.”

Apesar de o Brasil ainda ser relativamente novo no debate sobre a relação entre as duas áreas, a especialista acredita que é uma questão de tempo para que a necessidade de entender a dinâmica do cérebro integre a formação inicial dos professores. Destaca a plataforma Rede Nacional de Ciência para a Educação, que permite o acesso a estudos sobre o assunto. O projeto pode ser acessado em cienciaparaeducacao.org.

Entrevista

“Aprendizado só com atenção”

Qual a relação entre neurociência e educação?

É interessante trocar ideias com os professores sobre quais são essas bases neurobiológicas do processo de aprendizagem. Esse sistema biológico tem algumas regras de funcionamento que, se respeitadas, vão fazer com o que indivíduo aprenda como mais facilidade. Os professores também devem saber que o aluno só aprende se tiver atenção, e ele só tem atenção se tiver motivação, se perceber que aquilo que vai aprender tem um significado

O cérebro ainda está em desenvolvimento na infância e na adolescência. Como isso interfere no processo de aprendizagem?

O cérebro continua a se transformar na medida em que interage com o ambiente. Na infância, o processo de neuroplasticidade, que possibilita a reestruturação do cérebro, é intenso. Toda a interação tem um efeito muito grande sobre o sistema nervoso, e a aprendizagem é registrada de forma mais duradoura. Quando crianças em contexto de favela, por exemplo, aprendem que matar não é algo tão desastroso, porque convivem com isso, é compreensível que adquiram esse comportamento. E se você priva a criança de interações, a criança deixa de usar do potencial de aprendizagem que o cérebro tem. Durante a adolescência, o cérebro ainda tem áreas em transformação. Uma das principais é a pré-frontal, responsável por estratégias de comportamento. Por isso o adolescente muda tanto suas escolhas de comportamento. Está relacionado com uma transformação em áreas que processam prazer, recompensa. Essas áreas ficam menos sensíveis aos estímulos que anteriormente davam prazer.

Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br

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