A passagem da escola de samba Paraíso do Tuiuti chamou a atenção do país. Trouxe elementos da crítica social e política para alertar a sociedade sobre os riscos das reformas do governo Michel Temer, em específico na questão trabalhista. Em meio aos adereços, estava o símbolo do movimento pré-impeachment. O pato amarelo manipulado.
Entre o mal-estar dos apresentadores na televisão e o delírio da torcida no sambódromo, está o Carnaval como movimento social. Enquanto arte de protesto. Para muitos, a participação do Paraíso do Tuiuti deixou uma marca. Para outros, se tratou de oportunismo.
Afora a análise do certo ou errado, cabe destacar a importância das expressões artísticas. Na história da humanidade, a arquitetura, a escultura, a pintura, a música, a poesia, a dança, mímica, teatro e circo, quando autênticas e viscerais, ultrapassam os séculos e levam ao pensamento. Colocam em xeque o status quo.
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Perante o descrédito da população frente ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e agora também alcançando o Judiciário, a liberdade de expressão, em especial nas artes, é um mecanismo do pensamento crítico. Sem a dualidade da esquerda ou direita, comunismo ou liberalismo. Esses conceitos têm pouca aplicação devido à complexidade dos dias atuais.
Depois do Carnaval, as atenções do país se voltam a Brasília. A polêmica Reforma da Previdência pode entrar em votação no dia 20. O governo sabe que não dispõe dos 308 votos para aprovar a matéria. Mas nem tudo é definitivo. Em um congresso reconhecido pelas decisões surpreendentes, pela falta de transparência no rito na avaliação dos projetos e pelas votações suspeitas, há chance do previsto não se concretizar.
A força do governo Temer está justamente nessas relações pouco transparentes com os deputados. Nas ruas, a desaprovação supera 90% dos eleitores. O presidente se mantém no poder apesar do histórico duvidoso, das suspeitas de propina e das sigilosas reuniões com investigados pela Lava-Jato. O Brasil do Carnaval, da alegria e da crítica social por meio do samba, também precisa de uma política mais séria, de menos regalias para o alto clero social e de mais igualdade.
