O assassinato de Paulo Fernando Machado de Souza, 62, na madrugada de sábado, alerta autoridades para uma situação alarmante. Morto com uma facada no peito, pela própria companheira, ele foi a terceira vítima de homicídio doloso em 2018. Montante nunca antes registrado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP).
Desde 2002, quando o órgão passou a divulgar os índices criminais do estado, nenhum ano teve tantos assassinatos, muito menos em tão pouco tempo. Nos 365 dias de 2017, foram dois homicídios, um em outubro e outro em dezembro. Já em 2016, não houve casos.
Para o delegado interino no município, Miguel Mendes Ribeiro Neto, a concentração de casos no mesmo período é coincidência. Até porque não há relação entre os assassinatos.
Além de Souza, nestes primeiros 40 dias do ano, Arlete Terezinha Mallmann, 31, e Joel Junior Padilha, 36, haviam sido mortos. Ela foi assassinada no dia 14 de janeiro dentro de casa, no bairro Passo de Estrela, pelo ex-companheiro. Ele não aceitaria a separação, e foi preso preventivamente dias após pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
A segunda morte, ocorrida no dia 5, seria um acerto de contas. A vítima teria vários antecedentes criminais por tráfico de drogas, e foi assassinada na Vila Zwirtes. Até o momento, ninguém foi preso pelo crime, mas a investigação prossegue, afirma Neto.
“Dois dos três casos são passionais. Um tipo de situação muito difícil de solucionar ou prevenir. Hoje a mulher tem a Lei Maria da Penha como proteção, ou pode se separar de modo espontâneo, mas há muitas circunstâncias que por vezes as fazem continuar nessas relações abusivas.”
Círculo vicioso
No caso registrado no fim de semana, a mulher de 54 anos teria usado uma faca para se defender, após ser ameaça pelo homem com um facão. A situação aconteceu na rua Frederico Germano Haessgen, no bairro Vila Célia, onde o casal morava.
Após o fato, ela chamou o socorro e a Brigada Militar, mas o homem morreu menos de uma hora depois, em atendimento no Hospital São Gabriel Arcanjo. Pelas circunstâncias, ela responderá em liberdade.
“Para o delegado plantonista, tudo leva a crer que foi legítima defesa. Até porque ela já tinha denunciado o companheiro”, afirma Neto. Segundo dados da Polícia Civil, antes do fim trágico, pelo menos seis ocorrências policiais de violência doméstica envolviam o casal. Em cinco delas, a mulher havia sido vítima. Porém, segundo o delegado, ela não tinha medida protetiva contra o homem, com quem estava há cerca de três anos.
“É preciso muita vontade da pessoa para sair desse emaranhado. Sempre começa com um xingamento, depois vai para agressão, e assim segue. Orientamos que as mulheres busquem apoio e orientação na Delegacia de Polícia, e também da própria família. Há uma rede de acolhimento que deve ser buscada”, aconselha.
Conforme dados da SSP, os crimes contra a mulher mantiveram um nível estável nos últimos cinco anos. Entre 2012 e 2017, foram 109 casos de lesões corporais, 238 ameaças, quatro estupros e um feminicídio.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br