Já acostumada a usar a bicicleta como meio de transporte para ir de casa, no bairro Moinhos, ao trabalho, no São Bento, a bióloga Edith Ester Zago de Mello, 26, decidiu usar a magrela como veículo oficial das férias 2018.
No mês passado, ela destrinchou a região patagônica a bordo de uma mountain bike, levando, basicamente, uma barraca, um pouco de comida e três blusas. Mas uma camiseta acabou queimando enquanto secava na frente do aquecedor de um hostel, e a moça revezou as outras duas durante um mês.
“A gente leva tudo, mas não leva quase nada. Quando vamos de carro ou ônibus, a gente não observa o ambiente da mesma forma. De bicicleta é outro ritmo; a gente pode observar os detalhes.”
Como companheiro de viagem, a moradora de Lajeado teve o também biólogo Marcos Hitoshi Yamada, 30, de SC. Os dois foram namorados há quatro anos, e continuaram amigos após o término.
O trajeto se iniciou em El Calafate, na província argentina de Santa Cruz, até onde foram de avião. De lá, pegaram um ônibus até a aconchegante El Chaltén, cidade instalada dentro do Parque Nacional Los Glaciares. “É uma região muito linda de se conhecer. Tem vários picos, como o Fitz Roy”.
Na sequência, a dupla partiu de bicicleta e intercalou passagem por áreas argentinas e chilenas, como Puerto Natales, Punta Arenas, Porvenir e Tolhuin, até chegar ao destino final: Ushuaia, na Terra do Fogo. Foram 11 dias pedalando, em média, cem quilômetros por dia. Se hospedavam em hostels e, por três ocasiões, acamparam no estilo selvagem, à beira da estrada.
Ventos a 70km/h
As temperaturas amenas desta época, cerca de 11ºC durante o dia, atraem cicloturistas de todo o mundo para a rota. Os brasileiros encontraram gente da Colômbia, França, Reino Unido. “A principal dificuldade era o vento. Pegamos vento de 70km/h. Tínhamos que pedalar nas descidas, com força. Como a vegetação é arbustiva, era difícil encontrar um lugar escondido do vento para armar a barraca.”
Conseguiram ficar três dias em Ushuaia, onde fizeram um passeio pelo famoso Canal de Beagle, que tem um apelo especial para biólogos. O estreito leva o nome do navio que levou o pesquisador Charles Darwin durante expedição que partiu da Inglaterra no século XIX, com objetivo de mapear a costa da América do Sul. As observações foram fundamentais para o estudo sobre a origem das espécies.
Em função do pouco tempo até o término das férias, os dois voltaram por meios mais comuns: navio, ônibus e avião. Para a próxima temporada, planejam pedalar pela América Central.
Planos, aliás, devem se tornar frequentes entre os amigos. Com a deslumbrante vista astral como cenário, o casal resgatou sentimentos de outra época. “Estamos nos reconciliando (risos)”, admite ela.
Experiência
No dia 8 de março, em alusão ao Dia da Mulher, Edith falará sobre a experiência da viagem e sobre a bicicleta como meio de transporte, a convite da ONG Parceiros Voluntários. O evento será na Acil.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br